Um ano após o fim do cessar-fogo, as forças turcas e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) travam uma luta amarga, semeando morte e devastação entre a população civil do sudeste da Turquia.

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Na terça-feira à noite, caças F-16 bombardearam posições do PKK no norte do Iraque pela primeira vez desde o golpe fracassado na Turquia.

Apenas um ano atrás, em 20 de julho de 2015, houve um ataque suicida em Suruç, perto da Síria, que matou 34 militantes pró-curdos. Dois dias depois, o PKK matou dois policiais turcos.

Ambas as ações fizeram saltar pelos ares a trégua e o processo de paz em curso há mais de dois anos.

“Ambos os atores estavam prontos para retomar o conflito, o que explica a grande escalada” de violência, considera Yohanan Benhaim, estudante de doutorado na Universidade Paris 1 Sorbonne.

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O conflito sírio afeta inevitavelmente esta guerra sem fim que, em 32 anos, deixou mais de 40.000 mortos no sudeste de maioria curda do país.

O PKK estava pronto para retomar a luta, tinha reconstituído as suas forças e se viu reforçado pelas conquistas territoriais dos curdos na Síria.

Enquanto isso, o governo turco não poderia continuar a ser um espectador, enquanto do outro lado da fronteira os progressos militares dos curdos sírios lhes garantiam uma continuidade territorial de 500 km e reconhecimento internacional por seu sucesso contra o grupo extremista Estado Islâmico.

Mas o retorno às hostilidades “tem sido desastroso, especialmente para os civis”, disse Benhaim.

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Em um ano, 7.078 combatentes curdos e 483 membros das forças de segurança turcas morreram, mas também 338 civis. Cerca de 355.000 pessoas foram forçadas a fugir, de acordo com a organização Human Rights Watch.

Human Rights Watch denunciou recentemente os toques de recolher impostos desde agosto de 2015 pelo exército turco “em 22 cidades e bairros, impedindo o movimento da população, ONGs, jornalistas e advogados.”

– Violência nunca vista –

No que diz respeito ao período entre 1984 e 2013, entre o início da ofensiva do PKK e a declaração de cessar-fogo pelo líder curdo Abdullah Öcalan, os novos combates são “de uma violência nunca vista antes”, afirma Sinan Ulgen, que lidera o centro de pesquisa Edam.

O conflito ganhou contornos de uma verdadeira guerra quando as batalhas migraram para os centros urbanos. O exército turco e as milícias curdas passaram a se enfrentar nas ruas, em zonas habitadas por civis.

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“O governo turco não poderia se dar ao luxo de deixar o controle territorial urbano ao PKK”, afirma Ulgen, que questiona se a força usada pelo exército turco é ou não “desproporcional”, com bombardeios sem hesitação dos bairros de Silopi e Nusaybin.

Os vídeos filmados em bairros de cidades como Cizre ou Sur, a antiga cidade de Diyarbakir, recordam Aleppo ou Homs, na Síria vizinha devastada por cinco anos de guerra.

A população sofre um “segundo exílio”, já que “nos anos 1990, viu-se deslocada dos campos para as cidades.”

E o conflito, antes confinado ao sudeste de maioria curda, chegou a Ancara e Istambul, com atentados de grupos curdos e operações violentas das forças de segurança turcas em bairros dessas cidades para caçar militantes do PKK.

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Em “termos políticos, o saldo é absolutamente catastrófico”, considera Benhaim. A sociedade turca está fortemente polarizada e há um aumento do nacionalismo turco.

Por outro lado, Benhain considera que “nenhum dos atores quer o fim do conflito”, já que o PKK tentará ganhar o máximo de território possível na Síria”, “onde nunca se viu tão forte”, enquanto que o endurecimento do regime de Erdogan aumentará inevitavelmente a violência.

* AFP