Luta fora do tatame

Em poucos minutos, os pequenos caratecas vestem seus quimonos e deixam as brincadeiras de lado para se concentrar no treino. Sobre o tatame estão dez dos dezesseis alunos do mestre Luiz Sombra, convocados para o campeonato mundial para crianças, cadetes e juniores de seis a 20 anos, que ocorre em outubro, na Itália.

Três atletas de São José e três de São Pedro de Alcântara, onde o professor dá aulas, se classificaram por terem ocupado até o 4º lugar em alguma categoria no campeonato zonal sul-sudeste-centro oeste de karatê, realizado em Jaraguá do Sul no fim de maio. Os demais foram sendo chamados depois que outros atletas descartaram a participação.

Desde o início de junho, quando ficaram sabendo da convocação, cinco atletas de São Pedro de Alcântara e pelo menos um de São José lutam também fora do tatame, na busca por recursos para a viagem. Algumas mães chegaram a fazer rifas. Outros já descartaram a possibilidade, por não terem condições financeiras. A prefeitura de São Pedro de Alcântara se ofereceu para arcar com parte das despesas dos alunos, no caso de a família garantir um depósito e o custo restante.

O valor de cada viagem é estimado em R$ 6 mil, mas na maioria dos casos precisa ser multiplicado por dois, já que as mães não abrem mão de acompanharem os filhos pequenos.

Na turma de Sombra, o mais novo é Rafael Kuhn de Melo, com quatro anos. O mais velho, Marcos da Silva Dazio, 16. A dispersa e agitada Laura Kretzer, de cinco anos, aprendeu os movimentos do karatê a partir de assovios ritmados. Arthur Günther Lopes, 7, durante o campeonato zonal surpreendeu até mesmo o professor ao conquistar o segundo lugar, entre trinta competidores, na categoria kata individual, uma espécie de apresentação corporal ou simulação de combate que pode ser praticada individualmente ou em grupo.

Muitos começaram no esporte como uma maneira de praticar exercícios e combater alguma dor ou o excesso de peso. Enquanto alguns alguns estão com Sombra há pouco mais de cinco anos, outros começaram há cerca de um ano. Acima das diferenças e das medalhas estão o espírito de equipe e a amizade, evidentes nesse grupo que se tornou uma verdadeira família.

Mestre Sombra entre os melhores de SC

A Associação Sombra está entre as quatro melhores de Santa Catarina. No Campeonato Estadual do ano passado ficou em terceiro lugar, atrás das associações de Blumenau (1º) e de Içara (2º). O presidente da Federação Estadual de Karatê Interestilos de Santa Catarina, Leandro Gambeta, explica que em todo o país cerca de 45 atletas estão confirmados para o mundial na Itália até o momento. No Estado, 62 caratecas foram classificados, mas a federação solicitou 28 convocações. Destes, 14 estão confirmados. Da Associação Sombra, foram 16 convocações, e apenas dois atletas estão confirmados. Santa Catarina venceu o Campeonato Zonal deste ano, em que competiu com estados do Sul, Sudeste e Centro Oeste, e no ano passado foi vice-campeão brasileiro, perdendo para São Paulo.

Do balé para artes marciais

O mestre de 50 anos, natural do Ceará, começou a treinar quando tinha ainda 15, em Fortaleza. Ele conta, com bom humor, que entre karatê e balé, atividades oferecidas no centro comunitário próximo a sua casa, ele preferiu o balé. Somente após quatro meses, quando seu pai descobriu e o proibiu de continuar na dança, ele começou a treinar karatê. Quando se mudou para o Rio de Janeiro, aos 17 anos, continuou com os treinos e começou a dar aulas para crianças. Em 1996 veio para São José e montou um espaço no quintal de casa para continuar a ensinar. Há três anos iniciou as aulas em São Pedro de Alcântara. Às terças e quintas-feiras Luiz Sombra recebe cerca de 20 alunos de comunidades próximas a sua casa, que treinam gratuitamente. No mês passado fechou contrato com a prefeitura de São José para ser o responsável pelo ensino de karatê na cidade.

_Sempre gostei de competição e de dar aula para crianças, mas nunca pensei que teria uma academia própria e que minha vida seria dedicada ao karatê _ confessa.