Com promessas de acabar para sempre com os escândalos que dominaram este ano o governo da Guatemala, os dois candidatos à presidência do país agora buscam no segundo turno de domingo atrair os votos dos eleitores que, por meses, protagonizaram protestos contra a corrupção.
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Depois de conseguirem tirar do poder os governantes envolvidos em uma fraude multimilionária, agora o movimento de indignados pede reformas no sistema político para evitar novos episódios de corrupção.
Aos gritos de “Renúncia já”, acompanhados do ruído ensurdecedor de cornetas de plástico e tambores, os indignados guatemaltecos fizeram tanto barulho nas ruas que atingiram seu objetivo: a saída do então presidente Otto Pérez e de sua vice-presidente, Roxana Baldetti, envolvidos em uma fraude no sistema nacional alfandegário.
A fraude milionária, revelada em abril, levou à renúncia, em 2 de setembro, do presidente Otto Pérez, quatro dias antes das eleições gerais previstas no cronograma eleitoral.
“As manifestações foram o primeiro passo de muitos. Caíram figuras importantes, mas não caíram as estruturas” de corrupção, explicou à AFP Gabriel Wer, membro do coletivo Justiça Já, um dos grupos que liderou vários protestos contra Pérez e Baldetti.
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Segundo Wer, as mobilizações iniciadas após a revelação da fraude serviram como ponto de partida para que os cidadãos guatemaltecos acordassem e exigissem mudanças profundas no sistema político.
Uma investigação da Procuradoria e da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (Cicig), entidade vinculada à ONU, revelou a operação de uma rede conhecida como “A Linha”, que cobrava propinas de empresários para a evasão de impostos alfandegários.
As duas entidades acusaram os governantes de chefiar a estrutura e, encurralados pela acusação, Baldetti renunciou em maio e Pérez, em setembro. Agora, ambos estão em prisão preventiva e vinculados à investigação.
Os protestos conseguiram levar para trás das grades, pelo menos temporariamente, Pérez e Baldetti, mas o trabalho se concentra agora em conseguir mudanças para erradicar a corrupção no país, afirmou o ativista.
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A vinculação do chefe de Estado no escândalo de corrupção fez soar o alerta para os dois candidatos à Presidência, que remodelaram seus discursos para promover a transparência em uma campanha marcada pela apatia e pelo desinteresse.
O comediante Jimmy Morales, do partido de direita FCN-Nación, e a ex-primeira-dama social-democrata Sandra Torres, da Unidade Nacional da Esperança (UNE), tentam convencer os mais de 7,5 milhões de guatemaltecos convocados a votar com um discurso anticorrupção.
As pesquisas de opinião dão clara vantagem a Morales, apesar de sua falta de experiência política, embora quem circule pelas ruas da capital guatemalteca se surpreenda com o tímido clima eleitoral.
Em frente à praça de San Sebastián, no centro da cidade, uma pequena carreata de carros antigos era organizada na manhã desta sexta-feira para circular pelas ruas vizinhas com propaganda de Morales, enquanto de um auto-falante soava uma pegajosa ‘bachata’ (música típica local), que pedia aos eleitores: “não seja indiferente, Jimmy presidente”.
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A campanha eleitoral foi encerrada formalmente ao meio-dia desta sexta-feira (16h00 de Brasília), pouco depois de Torres concluir sua campanha em um bairro popular no noroeste da capital.
Morales já tinha encerrado sua campanha na quinta-feira, no centro da cidade, onde reafirmou sua mensagem anticorrupção.
“Nosso primeiro fundamento é zero tolerância à corrupção, que tem sido um dos flagelos que impediram que a Guatemala se desenvolva como nação”, disse Morales durante a apresentação de seu plano de governo.
O comediante de 46 anos antecipou também que promoverá um sistema de “portas abertas” para a contratação de produtos e serviços no governo.
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Três passos contra a corrupção
Sandra Torres também se somou à mensagem anticorrupção, após o escândalo que também custou o cargo da vice-presidente Roxana Baldetti.
Pérez e Baldetti são investigados como supostos líderes da rede que cobrava propina de empresários para evadir impostos alfandegários.
Torres, de 60 anos, resumiu sua política de transparência em três passos: criar uma comissão de étnica, eliminar as compras públicas diretas e desarticular grupos criminosos que operam dentro do Estado, com apoio da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG), uma entidade da ONU que apoia a depuração do sistema de justiça.
“Certamente, a corrupção é a maior ameaça quando um governo busca o bem-estar de seus cidadãos”, disse Torres.
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Antes das eleições, os dois candidatos se comprometeram diante do atual presidente interino, Alejandro Maldonado, a cumprir suas promessas no combate à corrupção, e assinaram uma Aliança Nacional para a Transparência para garantir o bom uso dos bens públicos.
Eleições apáticas
O vazamento dos casos de corrupção ofuscou a campanha eleitoral e distanciou os guatemaltecos dos discursos e comícios dos dois candidatos.
Para o analista político Phillip Chicolá, o processo eleitoral foi atípico devido ao escândalo, que gerou a pior crise institucional na história recente deste país centro-americano.
Mas considerou também que esta crise se tornou um alicerce para diferentes setores sociais que esperam “um renascer” para que a população fique vigilante para o uso dos recursos do Estado.
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Embora os discursos se concentrem em combater a corrupção, os dois candidatos pretendem ainda combater a violência, melhorar a educação, os serviços de saúde e reduzir a pobreza, que afeta 54% dos 15,8 milhões de habitantes.
As seções eleitorais devem abrir no domingo às 07H00 locais (11H00 de Brasília) e fechar às 18H00 (22H00).
* AFP