Lurdes Machado é uma contadora de histórias e disso ela nunca teve dúvidas. Se começou a mostrar sua arte um pouco mais tarde, foi apenas porque a vida demorou a dar uma brecha para ela tirar um tempo e fazer o que mais gosta: passar o dia inteiro escrevendo suas histórias.

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O que ela viveu desde os primeiros anos de vida em Guaramirim, as festas da família em Joinville, os cinco irmãos e os sete filhos, tudo o que ela viu e conheceu servem de inspiração para seus contos vencedores de concursos e que chegaram a virar episódios de seriados da TV.

– Eu já vivi todos os lados da vida. Passei dificuldades, fui bem de vida, viajei muito -, conta Lurdes, agora uma bisavó de 81 anos.

Tudo começou quando a menina resolveu seguir um caminho diferente das duas irmãs mais velhas: elas “casaram bem” e nunca precisaram trabalhar. Lurdes sempre ajudou o marido.

Ao casar, a moça de 18 anos, que fazia das festas e reuniões familiares um espetáculo com apresentações de dança, de canto e recitando poemas, precisou deixar sua arte de lado para cuidar dos filhos, da casa e do marido.

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– Ele vivia mudando de opinião sobre o que queria fazer pra viver. Depois de chofer, decidiu virar fotógrafo e eu era a modelo para que ele pudesse treinar -, lembra ela, como se ainda fosse remetida àquelas madrugadas em que era acordada para subir ao palco do salão de festas do pai para que o marido pudesse fotografá-la.

Ela também aprendeu a usar a máquina e a paixão pela fotografia passou, então, para toda a família: a mãe, os irmãos, os filhos e netos, todos viraram fotógrafos.

Mas as imagens eram só mais uma forma de arte pela qual Lurdes iria se apaixonar. O verdadeiro amor viria depois, já com os filhos crescidos. Primeiro, vieram os livros, que viraram a melhor companhia.

– A biblioteca de Joinville era muito pequena para mim. Pegava dois, três livros e lia todas as revistas e jornais que tinham lá -, recorda.

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Anos depois, já morando em Piçarras e com a caçula frequentando a escola, decidiu usar seu tempo de um jeito diferente. Pegou um caderno e se deixou levar pelos pensamentos.

Às vezes, eles apareciam mais rápido que a escrita. Eram as lembranças que chegavam e viravam contos, crônicas, poemas. Lurdes já estava com 52 anos quando resolveu se inscrever em um concurso estadual de versos caipiras. Em 15 versos contou a história real de uma família famosa que disputava a herança quando o patriarca morreu. Venceu e não parou mais.

– Eu não entro em concursos para vencer. Já é tão gostoso participar…-, afirma.

Com a irmã e companheira Maria José, participou de outros concursos e até foi parar na Rede Globo. Muito tempo depois de enviarem roteiros para o seriado Carga Pesada, levados por uma sobrinha que trabalhava na emissora, elas foram surpreendidas por episódios que haviam escrito.

– As diferenças eram de adaptação: no meu a família era alemã, do Sul. Mas deixaram a história em São Paulo e a família virou japonesa -, conta, com a calmaria de quem nunca parou de criar e se divertir com a vida.

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Ela já não escreve mais, porque agora são os olhos que não acompanham as ideias. Até ler ficou difícil. Mas continua criando histórias e contando suas memórias aos filhos, netos e bisnetos.