Integrante do conselho de administração do BNDES, o ex-ministro Carlos Lupi (PDT) contesta a informação de que recebeu R$ 54 mil sem participar das reuniões do colegiado no ano passado. O pedetista foi demitido pela presidente Dilma Rousseff em dezembro de 2011 após acusações de irregularidades em convênios da pasta com ONGs.
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Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Lupi permaneceu no conselho do banco mesmo tendo deixado o ministério. A reportagem diz que ele recebeu valores até setembro sem ter participado de nenhuma das sessões do conselho em 2012. Os pagamentos (R$ 6 mil por cada mês), são trimestrais, o que, segundo a Folha, garantiu ao ministro R$ 54 mil.
Lupi diz que compareceu “a uma ou duas reuniões”, e que o jeton (remuneração por sessão) somente é pago a quem assina a ata de presença, o que o impossibilitaria de ter recebido valores sem participar dos encontros:
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– No conselho do BNDES, não existe salário mensal. Existe jeton por reunião. Todas as reuniões têm ata. Ninguém recebe sem participar delas. Quem não estiver na reunião, não recebe. São atas públicas, são gravadas, têm livros de ata, têm assinatura… Então, até o primeiro semestre de 2012, fui às reuniões que o BNDES convocou. Votei no que tinha de ser votado, inclusive no orçamento do ano. Depois, não fui convocado mais e não fui mais – explicou.
Lupi afirmou que ingressou no conselho em 2007, indicado pelo então presidente Lula. O Ministério do Trabalho tem assento no conselho do BNDES porque o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), vinculado à pasta, é um dos financiadores do banco. O pedetista afirma que, após a demissão, procurou o presidente da instituição para saber como ficaria a sua situação.
– Perguntei na época (2011) ao Luciano Coutinho o que eu faria. Ele disse: o senhor não pode fazer nada, porque a sua indicação é da Presidência da República. O conselho é deliberativo, o ano está terminando e você tem responsabilidade sobre todas as aprovações. Então, quando for efetivado o processo, eu te aviso. Tivemos uma reunião de final daquele ano, ainda em dezembro, depois eles me colocaram para mais duas reuniões no primeiro semestre de 2012.
Segundo Lupi, a sua saída do conselho depende de um ato da presidente Dilma Rousseff.
Abaixo, confira a entrevista com o ex-ministro:
Zero Hora – O senhor recebeu R$ 54 mil sem participar das reuniões?
Carlos Lupi – Eu recebi o jeton da reunião que participei. Toda a reunião que você participa, você tem um jeton. Quero te confessar que posso até, agora não tenho condições, posso entrar na internet, no meu saldo, para ver qual é o valor (Lupi entrou em contato com a reportagem após a entrevista e disse que não conseguiu verificar os registros bancários do primeiro semestre de 2012, mas que poderia dar mais detalhes na segunda-feira). Acho que foram uma ou duas reuniões que participei no ano passado. São quatro reuniões anuais, cada uma tem um jeton que, líquido deve ter um valor de R$ 12 mil, R$ 16 mil, por aí, não tenho certeza. Pelo menos uma recebi, a outra não tenho certeza se depositaram. Mas só recebe o jeton tendo participado de reunião. Se não participar, não recebe, porque tem ata.
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ZH – Mas o senhor não recebeu R$ 54 mil, então?
Lupi – Não posso te afirmar ainda. O valor exato que recebi, não sei. Não tenho como te dizer o valor real, mas posso apurar isso. Só recebi das reuniões que participei no primeiro semestre de 2012. Nunca recebi salário mensal. Lá, é jeton por reunião. O valor é que não tenho certeza.
ZH – O senhor acha que esse caso ter vindo à tona tem a ver com as disputas internas do PDT?
Lupi – Não sei, acho que tem uma coisa muito esquisita na relação da mídia para com a minha pessoa. Não sei se é por eu ser um patinho feio na política. Não sei o que é, porque até hoje não tenho uma acusação, não tenho um processo, não tenho um indiciamento, e toda hora sai alguma coisa tentando me desmoralizar, com notícias que não são verdadeiras. Então, pergunto a você, o que você lembra de acusação contra a minha honorabilidade? Qual acusação de corrupção que tem contra mim?
ZH – O senhor é suspeito de irregularidades envolvendo ONGs que tinham convênio com o ministério.
Lupi – Primeiro: as irregularidades envolvendo ONGs, todas elas eram do ano de 2007, 2008. O primeiro ministério a adotar a chamada pública, um tipo de licitação, foi o do Trabalho. A regra existe desde 2008: chamadas públicas, onde você coloca por edital, pelos jornais, o tipo de empreendimento que está investindo, a abertura de cartas na presença de todos. Fomos o primeiro ministério a adotar isso. Em 2009, Lula adotou nos outros ministérios, e a presidente Dilma tornou isso um decreto em 2011. Todos os processos que você tem, de qualquer tipo, há correções a serem feitas. Todas as correções pedidas pela CGU, todas elas foram feitas pelo Ministério do Trabalho. Naqueles processos em que havia suspeição ou irregularidade que não poderia ser corrigida, foi suspenso o pagamento. Tudo isso respondi por escrito, só que não publicam, o que posso fazer? Não tenho o poder de obrigar você a publicar. Posso falar, é a única coisa que eu posso fazer.
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ZH – Se o senhor tiver recebido os R$ 54 mil, devolverá o dinheiro?
Lupi – Se for irregular… O dinheiro que recebi não tem nada de irregular, porque eu recebi das reuniões que participei.