Provando que nem as mais sólidas agremiações resistem ao tempo (e ao desabrochar dos hormônios), os célebres Clube da Luluzinha e o Clube do Bolinha não existem mais. Pelo menos, não em seus formatos originais. Depois de jurarem ódio eterno durante a infância, Luluzinha e Bolinha deixaram as diferenças de lado e descobriram o amor na adolescência.
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>> Personalidades criam versões crescidas de Calvin, Charlie Brown e Mafalda
O beijo que sela o início da relação amorosa entre Bolinha e Luluzinha ocorreu na semana passada, na edição de número 50 da revista Luluzinha Teen. Da mesma forma que Mônica e Cebolinha, outro casal que vivia às turras na infância e agora não se desgruda, a bitoca entre Bolinha e Luluzinha atendeu aos anseios de leitores que queriam mais romance e menos mimimi entre os dois. Leitores que não eram aqueles imaginados pelas editoras quando criaram as linhas adolescentes dos gibis desses dois ícones da literatura infantil.
Cebolinha e Mônica se beijaram na revista Turma da Mônica Jovem
Cinco anos depois do lançamento da Turma da Mônica Jovem e quatro após a estreia de Luluzinha Teen, o balanço é, no mínimo, intrigante. Em ambos os casos, o público mirado não foi aquele acertado: são as crianças, e não os adolescentes, que consomem as histórias dos personagens em suas versões juvenis. Essa audiência, tão exigente quanto participativa, foi quem mudou os rumos das duas publicações.
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– Inicialmente, queríamos tratar de assuntos mais pesados, como sexo e drogas, nos gibis da Mônica adolescente. Mas quando notamos que o público que lia as histórias era menor de 12 anos, decidimos suavizar os temas e até um aviso na capa, aconselhando a leitura para maiores de 10 anos, nós colocamos – explica Maurício de Sousa.
Bernardette Caldas, gerente de marketing do grupo Coquetel, responsável pela publicação da Luluzinha Teen, diz que a pressão dos pequenos leitores via redes sociais foi determinante para que o beijo entre Lulu e Bola (nada de nomes no diminutivo na nova versão) acontecesse.
– Foi graças a essa interação com os leitores que nós descobrimos que o público não era a garota de 14 anos que imaginávamos, mas sua irmã mais nova, que quer ser adolescente – pontua Bernardette.
Tanto Bernardette quanto Maurício de Sousa concordam que essa identificação entre os gibis jovens e o público infantil é, em parte, devido ao forte apelo que os personagens clássicos ainda exercem na cultura pop. A teoria é validada pela professora de Psicologia da Educação da UFRGS Tania Marques, mas ela acrescenta que há pelo menos outro fator a ser levado em conta para entender essa mudança de faixa etária:
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– Não sei se é o caso desses gibis, mas, para se identificar com o público adolescente, é preciso tocar em sentimentos específicos que eles estão vivenciando. Não basta usar as mesmas gírias ou as mesmas roupas, porque fica caricato e pode causar rejeição. Apenas de observar as capas, entendo que um adolescente ache que essas revistas não são para ele.
Mesmo assim – ou talvez por isso – os dois gibis são sucesso de vendas. Bernardette diz que a Luluzinha Teen cresce todos os meses, tanto em vendas em bancas quanto em assinatura. Mauricio de Sousa, que está finalizando o anime da Turma da Mônica Jovem, declara que a publicação está entre os maiores hits da casa.
– A edição do casamento entre a Mônica e o Cebolinha vendeu cerca de 600 mil exemplares. É três vezes mais do que um gibi de super-herói vende nos EUA – diz.