Depois de passar pelo Rio Grande do Sul e antes de seguir para o Paraná, a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passa neste fim de semana por Santa Catarina – que em 2002 deu a ele a maior votação percentual do país e, 12 anos depois, conferiu a mesma honraria a Aécio Neves (PSDB), adversário da candidata petista Dilma Rousseff. Diante dos recados das urnas e das ruas, a missão é clara: Lula, eleitoral e politicamente, volta ao Estado buscando um reencontro com o passado e defendendo que só um futuro com ele poderá ser melhor do que o presente é.
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A Rádio CBN Diário acompanha a passagem de Lula por SC:
Três eleições gerais depois, os representantes na Câmara e na Assembleia Legislativa caíram à metade e nenhum outro senador do partido foi eleito no Estado. As votações para a presidência também diminuíram dos 64,14% de votos válidos a Lula no segundo turno de 2002 para os 35,41% de Dilma Rousseff no segundo turno de 2014. Agora, o objetivo é reverter essa curva.
– O Estado não é conservador, mas num momento deixou de votar em nós porque quem detinha o poder em Santa Catarina fez movimentos políticos muito fortes e antes de nós. Mas, mesmo assim, temos bancada estadual e federal, continuamos vivos – avalia o ex-deputado federal Cláudio Vignatti.
Uma das estratégias do momento atual é destacar conquistas sociais e econômicas para o Estado nos governos petistas, contrapondo com as perdas para diversos setores com a chegada de Michel Temer (PMDB) ao poder e as reformas colocadas em prática por ele.
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– O PT tem a oferecer para sociedade de SC uma grande oportunidade, como em 2002. Aqui foi um dos Estados com mais investimento governo federal, em infraestrutura, educação. Vamos mostrar esse legado, debater as perdas e impactos com o golpe e também olhar para frente, para o que o Brasil quer construir daqui para frente – diz o deputado estadual Dirceu Dresch.
Em busca de composições
Segundo dirigentes do PT, levantamentos internos indicam que Lula já começa a liderar cenários eleitorais no Estado, mesmo que a própria candidatura ainda não tenha garantias jurídicas. Nesse sentido, o momento também é encarado como o de admitir erros e partir em busca de composições para continuar competitivo no jogo estadual e fortalecer o nacional.
– Acho que os acontecimentos que não nos levaram a uma musculatura maior são mais provenientes de erros nossos, principalmente de alianças que deveríamos ter feito ao longo desse período. Mesmo com total isolamento, na última eleição para governador saímos sozinhos e fizemos uma capilaridade respeitável, cinco deputados estaduais, dois federais. Em outras disputas, a essa altura o PT sempre aparecia com 2% das intenções de voto para o governo catarinense, e hoje estamos acima de dois dígitos. Embora o cenário complexo, vemos com otimismo a eleição em SC – argumenta o deputado federal e presidente do PT-SC Décio Lima, ao citar a própria posição em pesquisas eleitorais de 2018 com pré-candidatos à Casa d’Agronômica.
Embora não negue que o fortalecimento eleitoral é um dos elementos da caravana, o PT diz que os principais objetivos das viagens pelo Sul do Brasil são defender a democracia, a figura pública de Lula e o direito dele ser candidato para que o povo decida seu destino nas urnas. O presidente estadual do partido, deputado federal Décio Lima, garante que a pauta não é eleitoral, mas sim de reflexão e debate com a sociedade diante do atual momento histórico.
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– O país atravessa um período de excepcionalidade institucional grave e a presença do Lula é um tônico para exaltar a vida democrática do nosso país. Eu espero que prevaleçam os valores que estão no horizonte para o país, que é a base dos princípios da democracia. A caravana é um momento que serve também para impedir os avanços da intolerância que está infelizmente contaminando alguns setores da sociedade – declara.
Aliados afirmam que a defesa não é de um legado exclusivamente personificado em Lula, mas de bandeiras ideológicas da esquerda e de conquistas dos últimos governos. Como ex-presidente e ainda influente liderança político-partidária em busca de mais uma candidatura, porém,
o petista é visto pelos correligionários como símbolo natural para motivar a militância.
– É um movimento para fortalecer não só o PT, mas as esquerdas, a democracia. Sabemos da dificuldade histórica da esquerda no Estado, mas tenho convicção que, hoje, o Lula é maior que o PT e pelo carisma que ele tem, pelo que ele fez pelas classes menos favorecidas, ele tem um campo político muito amplo que engaja as pessoas – comenta o prefeito de Imbituba, Rosenvaldo Junior, que governa a maior cidade administrada pela legenda em Santa Catarina.
Apoio de outros partidos de esquerda
Mesmo partidos que têm pré-candidatos próprios à presidência da República, como o PCdoB, apoiam a caravana. Reforçam que a mobilização é pela democracia e pelo direito de Lula ser candidato.
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– Quem tem que decidir na política é o eleitor na urna. Não pode impedir ele de ser candidato. Tenho muito temor dessa onda de ódio e intolerância que o país vive, mas acredito que teremos um saldo positivo das pessoas entenderem mais sobre as posições políticas. Está ficando mais claro os valores da direita e os valores da esquerda. Entendo que será uma eleição bastante polarizada, mas espero que o desenvolvimento do Brasil e a saída da crise sejam a pauta, para além de diferenças pontuais. Será um ambiente difícil para a política e para os políticos, não só para a esquerda – analisa a ex-deputada federal Angela Albino.
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