Depois de 580 dias, a vigília montada em frente à superintendência da Polícia Federal de Curitiba amanheceu sem o tradicional "bom dia" ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Continua depois da publicidade
Um dia após a soltura de Lula por conta da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou a prisão em segunda instância, a movimentação no espaço ocupado por apoiadores e militantes era tímida na manhã deste sábado (9).
Um grupo de cerca de 30 pessoas trabalhava na limpeza e desmontagem das grades e de parte do espaço, montado em um estreito terreno de esquina na frente à sede da Polícia Federal, no bairro Santa Cândida.
Os 19 meses
A vizinhança, que nos últimos 19 meses conviveu com manifestações contrárias e favoráveis e até teve dias de tumulto, desfrutava, enfim, do silêncio. Os dois cafés, únicos estabelecimentos comerciais no entorno da vigília e da sede da PF, estavam fechados.
Apenas uma viatura da Polícia Militar restava estacionada para garantir a segurança. Um cenário muito diferente e bem mais pacato do que os últimos 580 dias e em comparação à sexta-feira que marcou a soltura do ex-presidente.
Continua depois da publicidade
O futuro da mobilização ainda vai ser definida por lideranças de organizações como MST, CUT e PT, que pretendem também consultar o ex-presidente. Grande parte dos que até esta sexta-feira seguiam no ato de apoio a Lula partiram para São Bernardo do Campo (SP), onde o ex-presidente deve se manifestar em um ato na tarde deste sábado.
Lula permaneceu em Curitiba na noite de sexta-feira, em endereço não confirmado, onde chegou a se reunir com o ex-ministro Zé Dirceu, que também deixou a prisão em função da decisão do STF.
No fim da manhã, Lula partiu em voo fretado do Aeroporto Afonso Pena a São Paulo.
Os dias na vigília
Rosane Silva faz parte da direção nacional do PT e chegou à vigília em frente à PF no dia da prisão do ex-presidente, em 7 de abril de 2018. Na ocasião, imaginou que participaria de um movimento de resistência que duraria "15 ou 20 dias".
Para ela, dois dias foram os mais críticos. O primeiro, em uma madrugada de maio de 2018, quando vizinhos descontentes com a movimentação na redondeza atearam fogo em bandeiras que a vigília ostentava em apoio ao ex-presidente e ao PT.
Continua depois da publicidade
O segundo, o dia da morte de Artur, o neto do ex-presidente, fato que permitiu que Lula deixasse a sede da PF para acompanhar o velório – e que por isso despertou críticas de pessoas que defendem a prisão do ex-presidente.
Para Rosane, essas datas foram as mais marcantes da vigília, superando até mesmo o dia de vitória de Bolsonaro sobre Haddad, em outubro do ano passado:
Aquele dia (da vitória de Bolsonaro) a direita nos cercou, ficamos isolados, mas foi um dia de angústia, não de tristeza.