O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, se reunirão na sexta-feira, em São Paulo, em encontro que deverá ser marcado pelas boas relações políticas e por tensões no plano comercial, em consequência da crise mundial.

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Na agenda de Lula e Cristina, estão as reclamações dos empresários brasileiros em relação às barreiras impostas a seus produtos pelo governo argentino, o que leva, segundo estes, à substituição gradual dos mesmos por similares de origem asiática. Os governantes se reunirão na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

No início do mês, a Fiesp levou suas queixas ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. As reivindicações estão ligadas à decisão argentina de impor licenças não automáticas para cerca de 200 produtos importados, grande parte deles brasileiros. As medidas tiveram grande impacto na indústria brasileira de eletrodomésticos da chamada “linha branca” (produtos para o lar), têxtil e de calçados.

Na semana passada, em Buenos Aires, representantes dos dois governos e do empresariado fecharam acordo para levar a discussão de maneira particular a cada setor, sem “contaminar” a reunião presidencial nem um seminário empresarial iniciado nesta quinta-feira e que será encerrado amanhã por Lula e Cristina. A adoção das medidas pela Argentina se deve ao déficit na balança comercial do país com o Brasil, aumentado pela crise mundial.

Segundo dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as trocas comerciais entre Brasil e Argentina somaram US$ 30,863 bilhões em 2008. O Brasil exportou US$ 17,605 bilhões em bens e serviços e importou US$ 13,257 bilhões do país vizinho, obtendo superávit comercial de US$ 4,348 bilhões. No entanto, em janeiro e fevereiro passados, as exportações do Brasil para seu principal parceiro regional somaram US$ 1,33 bilhão, o que representa queda de 46,5% em relação ao primeiro bimestre de 2008.

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As exportações argentinas para o Brasil tiveram uma redução similar, somando US$ 1,27 bilhão, baixa de 41,1% frente aos dois primeiros meses do ano passado. Os dois principais membros do Mercosul – bloco que formam junto com Paraguai e Uruguai – buscarão na reunião de amanhã estratégias para responder às constantes reivindicações dos empresários de seus respectivos países e não prejudicar a boa relação bilateral.

Lula e Cristina também falarão sobre as propostas que levarão à cúpula do G-20 (composta pelos países ricos e os principais emergentes) no próximo dia 2, em Londres.

A presidente argentina chega a São Paulo nesta noite. Na sexta-feira, além de se reunir com Lula e encerrar o seminário empresarial, receberá a Ordem do Mérito Industrial das mãos do presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

Pelo lado argentino, além de uma delegação formada por centenas de empresários, também participam do seminário altos funcionários das províncias de Buenos Aires, Chubut, Santa Cruz, Neuquén, Mendoza, Salta e Entre Ríos.

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