O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em discurso nesta quarta-feira (16) na COP27, que o combate às mudanças climáticas, tema da conferência realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no Egito, será uma prioridade em seu terceiro mandato.

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— Quero aproveitar essa conferência para anunciar que o combate à mudança climática terá o mais alto perfil na estrutura do meu próximo governo — afirmou ele, ao despertar aplausos da plateia.

Em seu primeiro discurso fora do país após ter sido eleito, Lula mencionou o olhar atento da comunidade internacional às últimas eleições do Brasil e fez críticas à condução do governo Jair Bolsonaro (PL) na área ambiental, atribuindo ao atual presidente um isolamento brasileiro nesta questão.

— Eu estou aqui para dizer para vocês que o Brasil está de volta ao mundo. O Brasil está saindo do casulo a que ele foi submetido ao longo dos últimos quatro anos. O Brasil não nasceu para ser um país isolado.

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Lula também mencionou recordes de desmatamento atingidos pela atual gestão federal e disse que isso será zerado até 2030. O presidente eleito ainda fez especial defesa pela preservação da Amazônia e afirmou que irá propor à ONU que a COP30, de 2025, seja sediada na região que abriga o bioma — ele havia anunciado a mesma proposta durante a manhã, em evento com governadores da Amazônia Legal.

O presidente eleito ainda cobrou recursos para o enfrentamento à crise do clima e o cumprimento de acordos de COPs anteriores, além de ter proposto um modelo de governança global sobre o tema.

— Não existem dois Brasis, nem dois planetas Terra. Precisamos de mais empatia e mais confiança entre os povos. Superar e ir além dos interessas nacionais imediatos, para ser capazes de tecer coletivamente uma nova ordem internacional que reflita necessidades para o presente e futuro — disse.

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A fala no espaço da ONU começou por volta das 17h30 (no fuso de Sharm el-Sheikh; 12h30 em Brasília). Ao encerrá-la, meia hora depois, disse que o mundo pode esperar um Lula “muito mais cobrador”.

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A sala em que o discurso foi proferido lotou quase uma hora antes de o evento começar. Para comportar mais pessoas, uma sala adicional foi disponibilizada com a transmissão.

Nas duas primeiras fileiras se sentaram, entre outros, os senadores Renan Calheiros, Randolfe Rodrigues, Kátia Abreu, Fabiano Contarato, além do governador do Pará, Helder Barbalho, e Marina Silva, deputada federal eleita e ex-ministra do Meio Ambiente (principal nome cotado para o cargo no novo governo).

Desde a manhã, a agenda de Lula na COP27 deixou os espaços da conferência lotados, com apoiadores cantando músicas da campanha enquanto esperavam os eventos começarem.

No mesmo período do dia, o presidente eleito criticou que o “Brasil não viajava para nenhum país e ninguém viajava para o Brasil” no governo Bolsonaro.

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— Parecia um bloqueio, mas não era um bloqueio econômico, era um bloqueio contra um governo que não fazia nenhuma ação, nenhum esforço para conversar com o mundo — disse.

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Ao chegar ao pavilhão da COP27 nesta manhã, por volta das 11h15 no horário local (6h15 de Brasília), antes de se posicionar diante do público, Lula se reuniu em uma sala com governadores de Acre, Mato Grosso, Pará e Tocantins, além do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Fernando Haddad, que integra a comitiva do governo de transição.

Lula e a comitiva ingressaram no evento usando credenciais de “país anfitrião”, como convidados do governo do Egito — segundo a assessoria do PT, a hospedagem em Sharm el-Sheikh também é um convite da presidência do país africano. O hotel resort em que o presidente eleito está tem diárias a partir dos R$ 9.000, segundo sites de reservas.

Na entrada de Lula, a reportagem perguntou ao petista como recebe as críticas por se deslocar à COP27 usando um jatinho do empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde. Em resposta, o presidente eleito acenou e disse que falará “depois” sobre a questão.

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Nesta quinta (17), Lula deve se encontrar às 10h (hora local; 5h do horário de Brasília) com representantes da sociedade civil brasileira e, às 15h (10h no fuso de Brasília), participa do Fórum Internacional dos Povos Indígenas/Fórum dos Povos sobre Mudança Climática.

*Com Ana Carolina Amaral, Jéssica Maes (que viajou a Sharm el-Sheikh, no Egito, a convite do Instituto Clima e Sociedade) e Phillippe Watanabe.

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