Depois de participar de um debate sobre fome e o papel geopolítico da África com o presidente do país anfitrião, Abdoulaye Wade, Lula disse aos jornalistas que cobrem o Fórum Social Mundial, em Dacar, capital do Senegal, que o mundo carece de lideranças. E criticou as Nações Unidas (ONU).
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– A governança mundial está enfraquecida. O mundo está mal representado. Não tem ninguém pra resolver conflitos. A ONU poderia resolver, se fosse representativa.
Sobre o papel do Brasil na crise do Egito, apesar da ressalva de que ‘não quer ficar dando palpite – Lula acabou opinando e voltou a fazer críticas, dessa vez aos Estados Unidos.
– Se criou uma mentalidade colonizada no Brasil de que o Oriente Médio é problema dos Estados Unidos, que não sei quem é problema da Rússia. Não tem dono do problema. E a solução pode ter vários. Por que ficam os Estados Unidos tentando resolver a paz se, provavelmente, foram eles os causadores da discórdia? Só quem quer a paz no Oriente Médio são o povo de Israel e o povo palestino. Os criadores do problema estão felizes do jeito que está.
Sobre a mudança de governo no Egito, Lula também alfinetou os países ricos.
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– Há muito tempo todo mundo sabia que era preciso voltar a democracia ao Egito. As pessoas se incomodam com Cuba, com o (presidente da Venezuela Hugo) Chaves e deixaram de notar que (o presidente do Egito Hosni) Mubarak estava lá há 32 anos. As pessoas não enxergam. As grandes potências, que dão sustentação a essas políticas, de repente, ficam surpresas quando acontece uma manifestação. Chega uma hora que povo diz ‘eu existo’.
O mercado já não é mais a panaceia
– Penso que o Fórum deveria tomar uma decisão: não é possível que o mundo rico não assuma um compromisso com o Continente Africano, exatamente no momento em que o preço dos alimentos sobe no mundo inteiro. Não pensem que o G-20 tem sensibilidade para o problema da fome. Só fomos chamados para reuniões com os países ricos quando eles entraram em crise e precisavam do nosso apoio – afirmou Lula.
Ele ganhou aplausos dos representantes dos movimentos sociais que lotaram o auditório, entre eles muitos brasileiros, ao dizer que não faz sentido que o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial imponham ajustes que inviabilizem políticas públicas em países pobres.
Afirmou, também, que é cada vez mais forte a consciência de que fracassou o chamado Consenso de Washington (conjunto de medidas pactuadas em 1989 por organismos financeiros multilaterais, como FMI e Banco Mundial, que serviu de base para políticas de estabilização econômica de países em desenvolvimento). ‘
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– Quem, com arrogância, nos dava lições, não foi capaz de evitar a crise nos seus próprios países. Felizmente não vigoram mais as teses do Estado mínimo, sem presença reguladora. O mercado já não é mais a panaceia – disse Lula em relação ao Consenso de Washington.
Lula completou dizendo que não se pode trocar o neoliberalismo pelo ‘nacionalismo atrasado, opção da direita americana e europeia, culpando o imigrante pela corrosão social’.
O ex-presidente disse que leva ao fórum a mensagem de quem governou o país com a segunda maior comunidade negra do mundo (80 milhões de pessoas), menor apenas que a da Nigéria. Repetiu o pedido de desculpas feito quando da primeira visita ao Senegal, em 2005, por causa do processo de escravidão ocorrido no Brasil até o fim do século 19.