O paulistano Luiz Eurico Klotz, 49 anos, é um dos bandeirantes que desbravaram a música eletrônica no país, quando ela ainda estava relegada a um nicho de festas e circuitos alternativos na metade da década de 1990. Viu uma geração nascer e impulsionar o gênero no país, sendo um dos mentores de eventos pioneiros como o Skol Beats e Nokia Trends e hoje integra a linha de frente da concepção do Dream Valley, que se propõe a ser o maior festival de música eletrônica do país.
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Até chegar aqui foi um longo caminho de convencimento, tendo como ponto fundamental na sua transformação o dia que botou os ouvidos em um set do produtor e DJ Ltj Bukem, o precursor do drum & bass que surgiu no final dos anos 1980. Adormeceu o roqueiro e despertou o devoto à música eletrônica e um dos seus principais pensadores.
Sócio-diretor da agência Plus Talent, que forma com o grupo Green Valley e RBS Eventos a tríade de realizadores do festival, Klotz se valeu do faro visionário para compor o line-up da primeira edição do espetáculo, com mais de 40 atrações, entre DJs, bandas e trios, uma seleção, como ele compara. Suas digitais são encontradas nas programações de superclubes e em festivais de renome como SWU, Planeta Terra e Rio Music Conference.
É esta bagagem que ele arrisca na preparação do maior desembarque de DJs já visto no país e em uma experiência de entretenimento até então inigualável, que terá como destino o parque Beto Carrero World, em Penha, daqui a duas semanas.
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Confira a entrevista do empresário, feita por telefone, ao Diário Catarinense.
Qual direcionamento o festival propõe ao unir frentes diversas da música eletrônica, de DJs de multidões como David Guetta a artistas mais conceituais como Magda ou Al Doyle? Vocês pretendem seguir com esta fórmula nas próximas edições?
Luiz Eurico Klotz – Não só seguir, como ampliar. Em um festival, diferentemente de uma noite de um clube normal, todos vão pelo evento. Neste momento, a gente entende que a maioria das pessoas, além de buscar aqueles artistas que já conhece, está aberta a ouvir música nova. Sem muito preconceito e dispostos a passar da primeira música em um festival. Então a gente tem um pouco de tudo, desde os DJs de multidões como Guetta, o Armin (Van Buuren), Calvin Harris, que faz sucesso nas rádios, Sharam, outro que vem há anos ao Brasil e conta com uma legião de fãs. E temos aqueles que atraem multidões para outros segmentos, a exemplo do Justice, que tem seguidores aos milhares no mundo inteiro. Seguindo nessa linha do que o Justice toca (o electro), você tem os caras que estão surgindo, como o Zedd e o Hardwell. Então você mostra a pessoa que criou a corrente e seus seguidores. O festival precisa mostrar várias correntes, vários estilos, estágios, quem já está no topo, quem está chegando ao topo e quem começa a escalá-lo.
Do Skol Beats ao Dream Valley, como você observa a evolução do mercado e do público de música eletrônica no país?
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Klotz – Nós acompanhamos desde o ano 2000, quando foi a primeira edição do Skol Beats e nos envolvemos da criação do nome às escalações das edições. Veja, nós estamos em 2012 e as pessoas que vão aos festivais hoje não eram nem adolescentes naquela época em que surgiu o Skol Beats. Portanto, há uma mudança significativa em tudo. Há uma proliferação de DJs, produtores e música em todos os tipos de mídia. Faz parte do contato diário das pessoas. São trilhas sonoras de grandes filmes sendo produzidas por DJs, você entra em um elevador, vai a um restaurante e ela está lá. Dos jogos de videogame ao iPad ou iPhone, as crianças sabem quem é Guetta. Existe uma grande diferença que é o tamanho e a importância que a música eletrônica tem no contexto social e cultural de todo mundo. Ela está presente nos grandes festivais de música, nas rádios, enfim, na vida. Era um nicho. Consequentemente as pessoas têm mais acesso e esperam mais, cobram mais. Elas sabem como são os festivais lá fora, fazem comparações, têm acesso ao que rolou no verão europeu e você não pode entregar um festival sem um parâmetro de qualidade.
E como fica a participação de Santa Catarina nisso. Seria um polo emergente?
Klotz – Pela sua diversidade de cidades, de clubes e regiões, Santa Catarina é o polo da música eletrônica no país. Eu não acho que seja São Paulo. Pelo fato de Balneário Camboriú, Florianópolis e no interior, com clubes espalhados por Criciúma, Chapecó, Indaial. Você tem aí, de sobremaneira, um polo importante de destino cultural. Isso foi um ponto fundamental para nós que estamos envolvidos com isso desde o início de que esse era o momento correto o local correto. (O Dream Valley) Praticamente inaugura o verão. A questão é que, quando as pessoas querem diversão, a maioria vai em busca da música eletrônica e ela predomina no verão em Santa Catarina.
Festivais tradicionais, como SWU, Lollapalooza e Planeta Terra, cujas bandeiras estão ligadas ao rock, abrem espaço para a música eletrônica. Quanto ao Dream Valley, de natureza iminentemente eletrônica, existe a possibilidade de no futuro se abrir para outras vertentes da música?
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Klotz – Eu não vejo porque não. É o primeiro ano e logo na largada vendemos cerca de 20 mil ingressos sem divulgar o line-up. Isso mostra muito sobre a maturidade do mercado e da confiança do público nas marcas envolvidas na criação deste produto. Pela escolha do local e pelo tamanho do projeto imaginamos que dois palcos com dois estilos seriam um bom começo para o festival. Isto posto, a gente terá um aprendizado sobre quais os estilos e nomes que agradaram ou não e conforme for a expectativa é muito comum que ele cresça em mais uma área de música no ano que vem. Aí a gente terá que analisar se é o momento para colocar bandas, seja de rock ou outro estilo que foi marcante nesta edição. Essa será uma análise que faremos pós-festival mas te digo de antemão que esse é um caminho natural. Eu não vejo nenhum grande festival no mundo hoje que não dependa da música ao vivo também.
Como você espera que o Dream Valley Festival seja lembrado no mundo a partir desta primeira edição?
Klotz – Por várias coisas, a primeira delas pela estrutura e serviços, que tudo esteja bom. Que as pessoas consigam chegar e partir sem grandes complicações, que possam acessar os palcos e circular tranquilamente, ouvir sua música, enfim, que tenham uma grande experiência. Segundo é a qualidade técnica daquilo que vai se ouvir e ver. Que o palco seja bem produzido, a iluminação apropriada e o som de qualidade. E que saiam de lá com gostinho de quero mais e, principalmente, que escutem e ampliem um pouco mais o seu conhecimento sobre a música. Esse eu considero o ponto fundamental.