Jorge conta a Marta que convidou seu novo chefe para jantar.

– Eu falei do meu suflê de queijo e ele se interessou.

– Você falou no seu suflê de queijo assim, sem mais nem menos?

– Não. Não lembro qual era o assunto. Nós estávamos numa reunião e, de repente, se falou em suflês.

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– Que estranho. Não é uma firma de corretagem? Você falam muito em suflês nas reuniões?

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– Não interessa. O fato é que ele vem jantar aqui. Aceitou na hora.

– Quando?

– Amanhã.

Na noite seguinte:

– Você vai usar esse vestido?

– Por quê?

– Usa aquele teu preto. O decotado.

– Ó, Jorge! Quié isso?

– Você fica muito bem naquele vestido, e eu quero que ele veja como a minha mulher é bonita.

– Você quer que ele veja os meus peitos, é isso?

– Não, Marta. É pra, sei lá. Combinar com o jantar. Com as velas, com o suflê…

– Este vestido está bom.

– Marta. Por favor.

– Não sei que diferença vão fazer os meus peitos.

Jorge, depois de um suspiro de impaciência:

– Marta, acho que você não se deu conta da importância desse jantar. Pra mim. Pra nós. Ele é o novo chefe. Está num período de avaliação da equipe. Tem gente que vai pra rua. Ele é quem decide. Está entendendo? Eu posso ir pra rua.

– Se ele não gostar do seu suflê?

– Não, Marta! Mas ele aceitar vir provar meu suflê é um sinal de que quer me conhecer melhor. Podemos ficar amigos. Esse jantar pode decidir a nossa vida, Marta. Preciso que você faça a sua parte.

– Mostrando os peitos…

– E não só isso.

– Não só isso, Jorge?!

– Marta, chegou a hora de saber o que você está disposta a fazer por mim. Pela minha carreira. Pelo nosso futuro. Por nós.

– Como assim?

– Você sabe que eu tenho que ficar na cozinha quando o suflê estiver ficando quase pronto. Os últimos minutos são cruciais para um suflê de queijo não passar do ponto. E você vai ficar sozinha com ele na sala. Marta…

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– Jorge, você é que está passando do ponto.

– Marta, isso não é hora de pensar em fidelidade, em moral, em mais nada. É hora de pensar no meu emprego e na nossa renda. É hora de você pensar nas prestações do seu cartão de crédito, Marta!

– Mas…

– Vá botar o vestido decotado!

Chega o novo chefe para jantar.

– Marta, este é o Ciro. Ciro, esta é a Marta, minha mulher.

É evidente a surpresa na cara de Ciro.

– Sua mulher?

– É.

– Eu não sabia que você era casado.

– Sou, sou. E bem casado.

– Prazer – diz Ciro, estendendo uma mão lânguida para Marta apertar. A decepção substituiu a surpresa no seu rosto.

Mais tarde, na cozinha, onde entrou para buscar o gelo, Marta comenta com Jorge, que acaba de colocar o suflê no forno:

– Acho que ele está a fim é de você, Jorge.

– Nem brincando, Marta.

– Chegou a hora de saber o que você está disposto a fazer pela sua carreira. Pelo nosso futuro. Por nós, Jorge.

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