Com o broche que ganhou como reconhecimento da Liga Norte-americana de Radioamadores cuidadosamente preso à camisa, seu Lúcio Thomazelli Neto exibe orgulhoso os cartões dos mais de 335 países com os quais fez contato pelo radioamador.

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Na semana passada, a marca lhe rendeu um prêmio concedido pela ARRL (sigla em inglês da liga norte-americana). Um verdadeiro feito, já que, no mundo, existem 343 países com radioamadores em operação.

É com muito carinho também que esse senhor de 85 anos desenrola sobre a mesa o primeiro certificado que recebeu, em junho de 1980, quando atingiu a marca de cem países contatados por meio dos sinais telegráficos.

Na era da internet e de equipamentos tecnológicos avançados, a paixão de seu Lúcio continua sendo o telégrafo, caso de amor que já dura 68 anos.

– Tudo começou em meados de 1943, quando entrei para a Marinha. Saí de Florianópolis no navio Ana, com destino a Angra dos Reis, para iniciar a carreira militar. Depois de oito meses de treinamento, em 1944, seguimos para a ilha das Enxadas, no Rio de Janeiro, e lá fiz o curso de radiotelegrafista na Escola Almirante Tamboré -, lembra.

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Ele conta ainda que, por causa da Segunda Guerra Mundial, passava dias e noites diante do telégrafo, realizando escutas. Foi em uma dessas ocasiões, inclusive, que captaram as frequências que relatavam a explosão do cruzador Bahia, em 1945.

– Parece que um canhão disparou um projétil que acertou o painel de controle do navio. Perdemos muitos colegas nesse acidente.

Em 1957, seu Lúcio mudou-se para São Francisco do Sul, onde também trabalhava a serviço da Marinha. Há 30 anos, já aposentado, o telegrafista, que é de Araquari, veio morar em Joinville, mas continuou dedicando-se ao ofício.

Depois de algum tempo na cidade, em uma consulta, o médico Albano Schulz comentou sobre a existência do Clube de Radioamadores de Joinville (Craj), fundado em 1969, e o convidou para conhecer o local.

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Foi assim que passou a integrar o clube, do qual faz parte até hoje. Todas as quartas-feiras, ele e mais 28 participantes, entre veteranos e novatos, reúnem-se na sede para discutir sobre os assuntos de interesse do Craj.

– É um passatempo. Vou para o rádio, começo a fazer a pesquisa e, se encontro alguém, trocamos informações sobre as cidades, clima, etc. Se o camarada for bom de inglês, a conversa vai longe -, afirma Lúcio, explicando que a comunicação via radioamadores é feita somente em inglês, por isso, é preciso dominar o idioma.

Foi graças a toda essa dedicação ao radioamadorismo que ele atingiu a marca expressiva de 335 países, o que lhe rendeu a placa e o broche de reconhecimento internacional. Na verdade, ele explica que, ao todo, já fez contato com 339 países.

– Como alguns deles deixaram de ser independentes, não foram contabilizados -, esclarece.

Lúcio, que todos os dias senta-se junto do telégrafo que mantém em casa e com o código PP5AVM, sua identidade no universo dos radioamadores, passa horas tentando encontrar frequências para, quem sabe, em breve, completar o mapa-múndi dos países com radioamadores em operação.

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