Nenhum viajante do mundo tem mais horas de rodoviária do que Luciano Baniski. São mais de 8 mil dias entre os ônibus, bagagens e histórias de quem vai e de quem fica. Por alto, isso equivale a perto de 66 mil horas em um espaço conhecido como um centro de despedidas e reencontros. Desde os 18 anos, o curitibano “naturalizado” joinvilense é comerciante no terminal de Joinville e faz disso a grande paixão.

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Orgulhoso, ele guarda fotos do tempo em que era apenas um adolescente ajudando o pai. A rodoviária também estava completamente diferente na época em que começou, e Luciano é um dos poucos que acompanharam todas as mudanças – tanto para melhor, quanto para pior.

O comerciante costuma falar sorrindo e é justamente essa simpatia que faz dele quase um patrimônio da rodoviária. Ele é do tempo, em que havia Banco do Brasil, lotérica, revistaria e restaurante.

– O movimento também era muito maior, pois as pessoas viajavam mais de ônibus do que de carro -, diz.

Hoje com 40 anos, ele é o protagonista de uma típica história em que o negócio do pai passa para o filho, que toma gosto pelo ofício herdado. No caso dos Baniski, começou com uma farmácia e logo evoluiu para a tradicional loja de presentes e artesanatos do segundo piso do terminal.

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Hoje, agrega também o guarda-volumes da rodoviária.

– Já me acostumei com o barulho. Na verdade, nunca cheguei a me importar com isso -, diz, com a sábia experiência de quem está há 23 anos na função.

Tanto tempo de estrada, claro, acaba rendendo boas histórias. Como a do menino que Luciano viu crescer durante idas e vindas pela rodoviária.

– Ele tinha um problema de lábio leporino e vinha se tratar aqui, desde os cinco anos de idade. Hoje, está com 18 e ainda me chama de tio. Já dei muito carrinho e brinquedo para ele, que não tem mais problema algum -, conta.

Os carrinhos estão entre as especialidades da loja, mas o artesanato e o chocolate caseiro respondem pela maioria das vendas. O cheiro de chocolate, aliás, sempre é alvo de comentários dos clientes.

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– Mas já me acostumei tanto, que nem consigo mais sentir -, brinca.

Graças ao comércio, a família de Luciano conquistou uma vida confortável ao migrar de Curitiba para Joinville.

Na loja, cujo nome é composto pelas iniciais dele e da mãe, Júlia, Luciano costuma passar de oito a dez horas por dia, de segunda a segunda. Outra parte do tempo é dedicada ao trabalho no guarda-volumes, que leva o nome da filhinha de três anos.

– Uma linda menina gordinha e de olhos claros -, comenta.

– Aqui já é minha segunda casa. Nunca pensei em sair da rodoviária. Aqui todos me conhecem e eu conheço todo mundo todo, diz.