Foram quatro anos paralisada pelo transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Parou de comer, trabalhar, namorar. Como num trapézio, à beira de um salto mortal, Luciana Vendramini fez um verdadeiro malabarismo para equilibrar mente e corpo. E quebrou o preconceito contra a medicação, encarou de frente o tratamento e está com a doença controlada. Resgatou a vontade de atuar, abriu mão de uma carreira internacional, superou o suicídio de um ex-namorado, escreve e produz.

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Luciana Vendramini superou dificuldades e está de volta
Luciana Vendramini superou dificuldades e está de volta (Foto: VINÍCIUS MOCHIZUKI / Extra)

E, agora, volta à Globo na novela das seis Espelho da Vida, após 14 anos afastada da emissora. Na pele de Solange, uma atriz que se recusa a envelhecer, ela vive trocando farpas com a veterana Carmo (Vera Fischer) e se vê obrigada a contracenar com o ex-marido, Emiliano (Evandro Mesquita), que não suporta. O convite, irrecusável, partiu do diretor, Pedro Vasconcelos, que viveu seu irmão em Vamp (1991).

– É engraçado porque novela no Brasil é Hollywood. Se você não está no ar, logo dizem que está sumida. Às vezes, até magoa, porque o ator rala tanto, faz tanta coisa, estuda… Mas é muito legal o público pedir. Nas minhas redes sociais, pediam muito para eu voltar. Estou amando! – festeja Luciana.

Lançamento do livro

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Daria um livro a vida desta artista de 47 anos, professora de catecismo e de balé até sair de Jaú, em São Paulo, aos 16, para ser paquita da Xuxa. Ela posou nua, menor de idade, para a revista Playboy, em 1987, virou símbolo sexual do país, casou-se virgem – aos 17– com o cantor Paulo Ricardo e largou a rentável carreira de modelo pela paixão pelo teatro. E vai dar livro mesmo, com previsão de lançamento para o ano que vem!

A eterna musa dos anos 1980 conta sua história de superação.

Luciana Vendramini faz selfie com Luciana Malcher, Vitória Strada e Vera Fischer
Luciana Vendramini faz selfie com Luciana Malcher, Vitória Strada e Vera Fischer (Foto: César Alves / TV Globo/Divulgação)

Na corda bamba

“Não é porque você é artista que não vai ter altos e baixos. A gente faz um trabalho que dura oito meses e depois acaba, sem saber o que vem pela frente. É uma realidade muito dura, que nos deixa frágeis. Fazer novela é um paraíso. Você é contratada, tem sossego, qualidade de produção, mas, se não vai emendar em outra, tem que criar seu próprio trabalho. Isto desestabiliza. Mas, para mim, nem foi isto que desencadeou o TOC. O problema foi a precocidade, tudo ter acontecido muito rápido comigo”.

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Nua aos 16 anos

“Quando me chamaram, achei que fosse piada, eu era bem magrinha. Para mim, capa de Playboy era Claudia Raia, Sônia Braga, Christiane Torloni, estes mulherões. Achava que ia ser um fiasco. Eu me iludi. Quando vim para o Rio de Janeiro, fiquei encantada com o estilo de vida do carioca. Me achei moderníssima, mas era virgem, de sotaque caipira”.

“Só consegui fazer as fotos no terceiro dia. Eu me senti invadida. Na hora em que J.R. Duran (fotógrafo) falou ‘tira a camiseta’, eu disse ‘não!’. Pronto, parou tudo. Foi muito difícil.

Primeiros sintomas

“Andando de bicicleta na Lagoa (no Rio de Janeiro), na última semana de O Rei do Gado, feliz da vida, realizada, travei do nada. Me bateu um medo paralisante, uma coisa horrorosa. Fiquei três horas em cima da bicicleta, sem conseguir me mexer. O TOC te atropela, estilhaça a vida. Fui obstinada porque não admitia aquela situação horrível”.

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Fundo do poço

“Eu não aceitava remédio, era naturalista, tinha medo de me dopar. Cheguei ao fundo do poço por ter este preconceito. Fiquei incomunicável. Levava horas para sair, ficava dando voltas no quarteirão, abria e fechava a porta do carro várias vezes… Aquilo me cansava e eu chorava muito. Até que um dia, passei 26 horas na calçada, no mesmo lugar, sem conseguir entrar no meu próprio lar. Depois, não saí de casa por um ano e meio”.

Salvação

“Nossa mente é poderosa. Se ela não está boa, nada na vida vai prosperar. Eu perdi tudo. Não tive relacionamento, vivi num celibato por quatro anos. Minha família passou perrengue. Minha irmã foi quem salvou minha vida. O que ela fez por mim, ninguém faria. Ela dormia no banheiro, enquanto eu passava 10 horas no banho. Fiquei 11 dias sem comer, parei de menstruar por um ano. Aí aceitei o remédio. Já estava morta! Pesava 39 quilos. Dois meses depois, aconteceu a coisa mais maravilhosa: os remédios fizeram efeito”.

Pânico de tietagem

– Hoje, vejo muita gente se deslumbrando fácil. Naquela época, quando saiu a revista (1987), não imaginava que a repercussão fosse ser tão grande. Eu não podia sair às ruas. Não achei isto divertido. Têm muitos artistas que acham. Em shopping, corriam atrás de mim. Ali, comecei a desenvolver o pânico. Não tive preparo para aquilo. Fiquei retraída, assustada com aquele tipo de assédio. Era como se as pessoas estivessem me vendo nua mesmo. Foi aí que eu passei a não ver mais graça na vida de modelo. Fui fazer teatro com Antunes Filho (diretor). Depois, Vamp (1991), Malhação (1995) e O Rei do Gado (1996). Quando a novela terminou, eu tinha uma carreira brilhante, mas, aí, veio o TOC. A cabeça não segurou!

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Em Vamp: Pedro Vasconcelos (João), José Paulo Junior (Tico), Fábio Assunção (Lipe), Luciana Vendramini (Jade), Henrique Farias (Nando) e Fernanda Rodrigues (Isa)
Em Vamp: Pedro Vasconcelos (João), José Paulo Junior (Tico), Fábio Assunção (Lipe), Luciana Vendramini (Jade), Henrique Farias (Nando) e Fernanda Rodrigues (Isa) (Foto: Fernando Quevedo / Agencia O Globo)

Suicídio do ex

– A única coisa que me deixa mal quando penso nos meus ex é o fato de Dave ter ido embora. Ele era bipolar e se matou (em 2007). A gente tinha se separado há apenas um mês. Foi um grande amigo. Senti culpa, mas superei com a ajuda da terapia.

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