Gaúcho radicado há 10 anos em São Paulo, Lucas Gonzaga assina a montagem de Mais forte que o mundo — A história de José Aldo. Em entrevista a ZH, o profissional de 38 anos fala sobre sua nova parceria com o diretor Afonso Poyart, que se soma à incursão em Hollywood que colocou seu nome nos créditos de um filme estrelado por Anthony Hopkins — ele também trabalhou em filmes como A Busca (2012), Entre Nós (2013) e Zoom (2015).
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“Mais forte que o mundo” leva para o cinema vida do lutador de MMA José Aldo
Como teve início tua parceria com o diretor Afonso Poyart?
Um amigo comum me indicou quando o Afonso fez o primeiro curta dele, Eu te darei o céu (2005). Ele havia filmado com muitas câmeras, estava com dificuldades para montar o material. Eu já trabalhava com cinema e publicidade em Porto Alegre e não tinha planos de me mudar para São Paulo, mas o trabalhos foram aparecendo e tive de ir. Quando o Afonso me chamou para trabalhar no 2 Coelhos, eu não podia em razão de outros compromisso. Entrei no projeto com uma versão do filme já montada, que o Afonso não achava legal, e acabei fazendo o corte final que exibido no cinema.
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As cenas de ação de Mais forte que o mundo foram um desafio na fase da montagem?
Nosso medo era fazer um filme de ação que não ficasse como aquelas tosquices que se costuma fazer no Brasil. Não há como fazer cenas como aquela briga no bar sem ter bastante material bruto, o que torna o trabalho mais difícil.
É complicado convencer o diretor de que determinada cena tem de ser cortada?Acontece. É difícil para o diretor desapegar de algo em que usou muita energia para fazer. Quando fiz o (longa) Zoom com o Pedro Morelli, mandei para ele um artigo em que o (cineasta) Sam Mendes lista 18 motivos para escolher um colaborador. O número 1 é: “Escolha alguém que questione suas decisões”. Sou o primeiro público do filme. As coisas que se passaram até ali não me importam, não vou ao set. Quanto menos eu souber do processo de filmagem, mais limpo será meu olhar sobre o material. Já o diretor está completamente contaminado com o que enfrentou, com as decisões que tomou. O primeiro corte do Mais forte que o mundo tinha quase três horas (ficou com 115 minutos). E estava bom. Mas sabíamos que as pessoas têm dificuldades em ver filme muito longos, se não forem épicos. Reduzimos em meia hora a parte ambientada em Manaus e enxugamos a luta final, desenvolvendo mais o primeiro e o quinto rounds e mostrando os outros como clipes. Nossa intenção não era era fazer um filme de luta.
Como foi a experiência de trabalhar em Hollywood, no filme Presságios de um crime?
É diferente trabalhar com um produtor sempre presente e com muita influência no projeto. Para o Afonso (Poyart) foi mais difícil. Ele queria ter interferido mais, trabalhado com a equipe dele, mas só conseguiu levar eu de brasileiro. E eu trabalhava sobre decisões que já estavam tomadas no set. Lá se usa exatamente os mesmos equipamentos e softwares que usamos aqui. A diferença é em relação a prazos, que lá são mais adequados. No Mais forte que o mundo tínhamos prazo curto e muito material bruto. Cheguei a ficar 16 horas por dia na ilha de edição. Foi insano. Nos Estados Unidos, a questão trabalhista e os sindicatos são muitos fortes. Eu parava na sexta e só voltava na segunda, não tinha autorização para entrar na produtora fora do horário. Foi difícil conseguir meu visto de trabalho. Os sindicatos da indústria cinematográfica pressionam para não se contratar estrangeiros. O produtor perguntava para o Afonso se precisava mesmo de um montador brasileiro, se um americano não era capaz de fazer o trabalho.
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Quais são teus próximos projetos?
Estou trabalhando em 3.000 dias no bunker(longa de Rodrigo Bittencourt), que fala sobre os bastidores da criação do Plano Real. O interessante é o filme narra outro momento parecido com o que a gente vive agora, o de um governo de transição (de Itamar Franco). Em agosto começo um filme de terror dirigido pelo Vicente Amorim. E em 2017 pretendo ir trabalhar nos Estados Unidos.