Primeiro longa da Prana Filmes, que o diretor Carlos Gerbase e a produtora Luciana Tomasi fundaram após saírem da Casa de Cinema de Porto Alegre, Menos que Nada chega hoje aos cinemas. Aos cinemas e muito mais: a estratégia de lançamento é a mesma do longa anterior de Gerbase, 3 Efes (2007), o que significa que o novo filme estará à disposição já nesta sexta-feira na televisão, nas locadoras e na internet (veja abaixo).
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Menos que Nada é inspirado no conto O Diário de Redegonda, de Arthur Schnitzler, médico e ficcionista austríaco atuante entre as décadas de 1890 e 1920 que, apontam historiadores, Sigmund Freud chamou de seu “duplo”. Narra a tragédia pessoal de Dante (Felipe Kannenberg), garoto tímido que atuava como assistente de pesquisa em sítios arqueológicos até vivenciar um trauma e ter diagnosticada esquizofrenia. Ele vive num hospital psiquiátrico, sem falar com ninguém. Tem o passado revirado por Paula (Branca Messina), jovem psiquiatra que tenta entender o que houve com ele – e serve de guia ao espectador na viagem rumo à problemática mente do protagonista.
Com as colaborações do escritor e crítico especializado em literatura austro-germânica Marcelo Backes e do psiquiatra Celso Gutfreind, Gerbase construiu o roteiro abdicando – com algumas exceções – das imagens representativas dos delírios de Dante, apostando num realismo às vezes bem próximo do documental. O público toma contato com a história pregressa do personagem principal, por exemplo, por meio de depoimentos que Paula gravou em vídeo. É como se estivéssemos assistindo a um documentário que vemos os outros três personagens-chave do filme falando sobre Dante. São eles seu pai (Roberto Oliveira), a arqueóloga linda e inteligente pela qual ele se apaixona (Rosanne Mulholland) e a amiga de infância (Maria Manoella), que vê nele a possibilidade de fugir do marido violento (Alexandre Vargas).
– O realismo foi um caminho inevitável a partir do contato com a rotina do Hospital Psiquiátrico São Pedro (uma das locações do filme) e das condições restritas de produção (o orçamento total é de R$ 850 mil) – explica Gerbase.
Nem cabe contar em detalhes a formação do quebra-cabeças de Menos que Nada, até porque ele vai se construindo aos poucos e só se completa nas sequências finais, como reza a cartilha dos suspenses psicológicos tradicionais. Pode-se antecipar que há repressão em casa, desde a infância, até o deslumbramento com a personagem da atriz Rosanne Mulholland, a musa de Carlos Reichenbach (em Falsa Loura) e José Eduardo Belmonte (em A Concepção). No meio disso há uma descoberta arqueológica surpreendente nas terras da personagem de Maria Manoella, no sul do Estado, que vai remeter a acontecimentos de 11 mil anos atrás e desencadear os fatos que deram origem ao trauma de Dante.
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A direção de arte de Rita Faustini e a fotografia de Marcelo Nunes garantem uma construção visual eficiente, ainda que às vezes distante do naturalismo sugerido pela abordagem da história. As pontas do roteiro de Menos que Nada também estão amarradas de maneira satisfatória, apesar da impressão, em determinados momentos, de alguma inconsistência dramática. Não se engane: há problemas no filme, mas eles advêm da direção de cena e da irregularidade das interpretações. O que não deixa de ser uma reiteração de algo que precisa melhorar nos longas gaúchos contemporâneos como um todo.
ONDE VER
> Nos cinemas: Cine Santander Cultural (15h, 17h e 19h) e Unibanco Arteplex (18h30min).
> Na televisão: no Canal Brasil e na TVCOM (às 22h em ambos os canais).
> Na internet: em sunday.terra.com.br (em alta definição).
> Nas locadoras: o DVD estará disponível a partir de hoje.
AS SESSÕES COMENTADAS
No Cine Santander Cultural,sempre às 19h
> Hoje: roteiro e direção, com Carlos Gerbase, Janaína Fischer e Celso Gutfreind.
> Terça-feira: fotografia, direção de arte e a obra original, com Rita Faustini, Marcelo Backes e Marcelo Nunes.
> Dia 28: produção e montagem, com Luciana Tomasi, Jéssica Luz e Giba Assis Brasil.
> Dia 31: som e música, com Rafael Rodrigues, Kiko Ferraz, Nenung, 4Nazzo e Biba Meira.