Paraísos de bugigangas e variedades de utilitários, as lojinhas de tudo por R$ 1,99, que há uma década podiam ser encontradas em cada esquina, estão ameaçadas de extinção. Onde antes se pagava baratinho por brinquedos, doces, utensílios de cozinha, bijuterias e até roupas, hoje está difícil encontrar etiquetas por menos de R$ 2.

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O presidente da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif), Doreni Caramori Junior, explica que a diminuição de lojas com esse perfil é provocada pela inflação dos preços e pelo aumento nos impostos, que reduzem a quantidade de produtos que podem ser vendidos a R$ 1,99.

– Outro fator foi o crescimento econômico das classes C e B, que hoje procuram produtos de marcas, com outros valores agregados – avalia.

Há 23 anos no ramo, a comerciante Verônica Argentina Cardoso é proprietária de duas lojas em Florianópolis que ainda insistem na fama de R$ 1,99.

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Verônica tem uma no Córrego Grande e outra na Trindade, em Florianópolis, e vivenciou o auge da febre, mas hoje tem dificuldades para manter itens por esse valor.

– Eu comprei carro, terreno e construí uma casa com dinheiro de R$ 1,99. Hoje é impossível, porque a margem de lucro é muito pequena. Eu compro por R$ 1,50 para vender por R$ 1,99. Se o cliente pagar com cartão, ainda tem taxas – lamenta ela, que agora investe em itens de decoração.

Continua vendendo de tudo

No calçadão da Conselheiro Mafra, o dono de uma das lojinhas que persistem no Centro da Capital decidiu, em 2010, substituir a placa de R$ 1,99 por um nome que considerava mais honesto e atrativo, já que menos de 30% do que vendia estava naquela faixa de preço. A mudança para “Muito + Variedades” respeita uma característica que ficou do passado: lá ainda tem de tudo.

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Funcionário da loja há mais de quatro anos, desde a época em que o ponto pertencia a sua família, Muhamad Hussein conta que a transição foi gradativa, à medida que a variedade de produtos e fornecedores ia diminuindo. Hoje só é possível encontrar alguns itens de papelaria, guloseimas e utilidades domésticas que ainda não receberam novas etiquetas, pois o sistema recém-implantado arredonda todos os preços para R$ 2.

Clientes já sentem falta

Há 10 anos no mercado, no calçadão da João Pinto, o Casarão Mix continua a ser uma das lojas mais populares do Centro de Florianópolis, pois mantém uma oferta grande de produtos a R$ 1,99 – quase a metade, segundo a gerente Erondina Ramos.

– Mas tá cada vez mais difícil – pondera.

O cesto de compras da cliente Terezinha Silva, 41, fica sempre cheio, quando ela vem do Estreito para passear no Centro. Acompanhada da filha, Daniela, fica ainda mais difícil para Terezinha resistir aos produtos baratinhos. Mãe e filha lamentam a diminuição de lojas nesse perfil.

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– Faz muita falta. Os preços são mais em conta – diz Terezinha.