*Por Ben Dooley e Hisako Ueno

Tóquio – Os proprietários de lojas de conveniência japonesas que lutam por uma pausa em suas operações de 24 horas e 365 dias por ano podem estar mais perto de horários de funcionamento menores.

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Em um relatório recente, a Comissão de Comércio Justo do Japão repreendeu as principais cadeias do setor por suas práticas comerciais que geraram lucros enormes, aumentando os custos operacionais para os proprietários de franquias.

O relatório, baseado em uma pesquisa com mais de 8.400 franqueados de lojas de conveniência, detalhou inúmeros problemas com o modelo de negócio das empresas, a começando pelo processo de recrutamento do franqueado e se estendendo aos aspectos mais fundamentais da gestão das lojas.

É o exame mais abrangente até agora de uma indústria que é tão opaca quanto onipresente. Empresas como 7-Eleven, Lawson e FamilyMart controlam de perto suas práticas comerciais, inclusive de seus próprios franqueados, o que dificulta determinar a extensão dos problemas que enfrentam.

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Entre as questões mais graves citadas pelo relatório estavam as empresas que coagiam os franqueados a comprar mais produtos do que conseguiam vender, a obrigação de manter o horário de funcionamento 24 horas por dia, 7 dias por semana, e promessas enganosas aos proprietários de lojas.

A comissão advertiu que essas práticas, entre outras, podem ter infringido a lei antimonopólio do Japão ao “abusar de uma posição de negociação superior”. Ela solicitou que as oito principais redes de lojas de conveniência do país apresentassem um plano de medidas corretivas. A comissão também disse que buscaria mais informações sobre possíveis violações legais por parte das empresas.

As lojas de conveniência são tão onipresentes no Japão – com mais de 55 mil delas espalhadas por todo o país – que o governo as considera parte da infraestrutura nacional.

Mas o setor passou por um intenso escrutínio nos últimos anos depois que franqueados alegaram que as empresas usam táticas para forçá-los a abastecer suas lojas além da necessidade e a manter operações 24 horas por dia, 7 dias por semana, levando alguns proprietários com falta de pessoal a entrar em colapso por exaustão.

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No início de 2019, a decisão de Mitoshi Matsumoto, dono de uma franquia 7-Eleven na área de Osaka, de fechar sua loja em desafio à política da empresa desencadeou um frenesi na mídia e pôs a questão em destaque. A comissão comercial iniciou seu inquérito há quase um ano, em meio à crescente pressão pública sobre o setor por mudanças em suas práticas.

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(Foto: Noriko Hayashi / The New York Times)

A 7-Eleven rompeu o contrato de Matsumoto em dezembro, depois que ele decidiu fechar sua loja no feriado de Ano Novo. A empresa alegou que a decisão foi tomada em resposta às reclamações dos clientes. O assunto agora é objeto de processos judiciais concorrentes.

Procurado por telefone, Matsumoto – que trabalha como carpinteiro desde que perdeu sua loja – declarou que, embora tenha sido encorajado pelo relatório da comissão, temia que grandes empresas como a 7-Eleven ainda conseguissem evitar grandes mudanças em suas práticas.

“Se não terminarmos a batalha aqui e conquistarmos uma vitória decisiva, acho que a situação atual vai se arrastar”, afirmou ele.

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Em nota, a 7-Eleven disse que aceitava as conclusões da comissão e estava “trabalhando para melhorar”, acrescentando que havia criado uma equipe para abordar e resolver as questões levantadas no relatório.

A empresa, que passou a ser propriedade japonesa em 1991, é responsável por quase 40 por cento das lojas de conveniência em todo o país.

O modelo de gestão da 7-Eleven, que enfatiza as operações 24 horas todos os dias do ano e controles rigorosos no estoque de lojas, foi por anos considerado o padrão ouro do setor e se tornou a norma em todas as cadeias de conveniência no país.

Mas, à medida que a população do Japão diminuía, aumentando os custos da mão de obra, as principais cadeias começaram a se expandir drasticamente em uma batalha por participação de mercado.

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Nos últimos anos, o relatório da comissão mostrou que os custos dessa batalha foram passados aos proprietários.

Nos últimos cinco anos, as vendas anuais nos locais pesquisados diminuíram vertiginosamente à medida que o número de lojas crescia, afetando a receita dos franqueados, que caiu em média cerca de 25 por cento. Ao mesmo tempo, os custos de mão de obra aumentaram. No entanto, as taxas de royalties pagas pelos franqueados à sede permaneceram estáveis.

As empresas já começaram a fazer algumas mudanças. A 7-Eleven alterou sua estrutura de taxas em março para aumentar a quantidade de receita retida pelos franqueados. E empresas de todo o setor começaram a permitir que algumas lojas diminuíssem as horas de trabalho em resposta à pressão pública, uma mudança que foi acelerada pela pandemia.

O relatório da comissão será uma “arma” para os proprietários que têm medo de exigir seus direitos, disse Reiji Kamakura, líder do Sindicato das Lojas de Conveniência, um pequeno grupo que tem lutado para crescer diante da oposição da indústria.

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“Isso vai apoiar aqueles proprietários que não tiveram coragem suficiente”, comentou ele, acrescentando que “eles vão começar a exigir férias e outras coisas, uma depois da outra”.

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