O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, é claro: sem as reformas da Previdência Social e trabalhista, o Brasil será olhado com desconfiança e os investidores vão se afastar novamente. Em sua palestra para empresários de Jaraguá do Sul, mostrou-se otimista. O profissional diz que a crise atual é a pior desde o caos de 1929-1931, mas, ainda assim, lista variados fatores macroeconômicos que já favorecem o ambiente de negócios. Barbosa projeta um 2018 mais animador, tendo a aprovação das reformas como ponto central. A seguir, os principais trechos de entrevista exclusiva concedida ao “AN”.

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O Brasil vive um dos seus momentos mais dramáticos. Com turbulência na frente política e sinais contraditórios na macroeconomia. Como avalia o cenário?

Fernando Honorato Barbosa — A economia brasileira está em reconstrução e a economia mundial começa a se recuperar. O crescimento global acontece, mas ainda não é pujante. A China, por exemplo, crescerá 6,7% neste ano.

Crescimento traz inflação, ensinam manuais. Isso é um problema?

Barbosa — A expansão dos negócios globais traz, sim, alguma inflação, mas isso não é ruim para o mundo. A lembrar que a dinâmica do comércio global contrai desde 2011, e isso produziu o empobrecimento.

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O senhor acredita que o Fed, nos Estados Unidos, vai subir a taxa de juros

Barbosa — É uma dúvida que paira. Acredito que não haverá alta importante dos juros nos Estados Unidos, com poucos efeitos sobre os nossos negócios. A nossa crise é nossa. Foi planejada por nós. É profunda. Reúne problemas fiscais e macroeconômicos.

É a pior crise da história?

Barbosa — É, sim. É a pior crise da nossa história desde a década de 20 do século passado. A crise de 1929-1931 causou queda do PIB de 1,4% ao ano naquele triênio. A crise de 2014-2016 provoca recuo do PIB de 2,6% ao ano. A comparação explica as coisas por si.

Como isso se reflete?

Barbosa — O PIB per capita do Brasil é de US$ 15 mil. Se o Brasil crescer 2% ao ano, e o mundo 0,5% ao ano, ainda assim nos igualaremos ao Chile só no ano de 2047, em termos de PIB per capita. Temos muito a evoluir.

Um dos grandes gargalos é o da baixa produtividade.

Barbosa — Verdade. A produtividade da indústria brasileira estagnou. Estamos, hoje, como estávamos em 2010.

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Isso é uma encrenca no jogo da competitividade.

Barbosa — É. O que aconteceu é que os salários subiram e o lucro das empresas foi se reduzindo, ao mesmo tempo em que os investimentos também caíram.

O desemprego é fator de queda na geração de riqueza. Já temos 13,4 milhões de desempregados no País.

Barbosa — O desemprego ainda vai piorar. Nós, no Bradesco, calculamos que o desemprego vai chegar a 14,1 milhões de trabalhadores em meados deste ano.

Onde estão os sinais positivos?

Barbosa – Há alguns. E significativos. A lei do teto de gastos públicos é um exemplo. Aprovada em dezembro passado, agora isso obriga o governo a fazer escolhas. Então, a partir de 2018/2019, pela primeira vez, o orçamento da União terá algum valor. Até aqui, sempre foi uma peça de ficção. Inflavam-se valores que, sabidamente, seriam contingenciados adiante.

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Que papel têm as reformas?

Barbosa — A reforma da Previdência é essencial. Atualmente, 10% da população brasileira têm mais de 60 anos de idade. A idade média de aposentadoria é de 59 anos. A expectativa de vida, na média, chega a 75 anos. Na prática, os mais pobres já se aposentam por idade.

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O déficit do sistema previdenciário é bilionário…

Barbosa — O déficit do sistema soma R$ 258 bilhões. R$ 100 bilhões só na previdência rural. E tem aumentado o déficit da previdência urbana. Por isso, a aprovação das reformas é fundamental.

Que fatores são positivos na vida real dos brasileiros?

Barbosa — O risco Brasil já recuou para 90 pontos, o que, na prática, permite que os juros de empréstimos internacionais fiquem mais baixos. Ajuda as empresas. Outro fator é a estabilização nas vendas nos supermercados. O povo voltou às compras, aos poucos. Também os pedidos em carteira estão subindo. As vendas no varejo estabilizaram. Não subiram, mas também não caíram mais. Outro fato é que os estoques do comércio já são menores. Em três trimestres, isso tudo vai virar PIB.

O que mais o senhor identifica como favorável?

Barbosa — Uma reflexão se impõe: a renda do trabalhador caiu 8%, o consumo teve queda de 15%. Significa dizer que as famílias estão com medo. Medo de perder emprego. Medo de se complicarem. Medo de comprar. Um dado: a venda de carros caiu 50%. Por outro lado, o que se observa é a queda no endividamento das famílias. A inadimplência também caiu. As pessoas estão pagando suas dívidas.

A inflação baixou de maneira importante.

Barbosa — Certamente. A inflação do primeiro trimestre de 2017 é a menor desde 1994, o ano do Plano Real. Outra coisa: a queda dos preços dos alimentos está colocando R$ 20 bilhões no bolso da população.

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Os juros também estão caindo. Algum prognóstico?

Barbosa — Se a reforma da Previdência passar — num grau maior ou menor, mas passar — a taxa de juros cairá para 7% a 8% ano ano. Aí, a taxa de inadimplência das empresas poderá ser reduzida ao final de 2017 e, em especial, em 2018.

Michel Temer faz o que tem de fazer?

Barbosa — Sim. Fazer as reformas é imperioso. Temer entrega a promessa de futuro, e o mercado acredita nisso. No caso de a reforma da Previdência não vingar, as consequências serão sérias. Por exemplo, o câmbio vai a R$ 3,50 e os investidores externos vão recuar.

Os deputados e senadores vão votar e aprovar projetos tão impopulares, como o da Previdência e a trabalhista? Ano que vem haverá eleições.

Barbosa – A memória dos eleitores é curta. A melhora dos indicadores econômicos e a recuperação do emprego são os incentivos para que os parlamentares votem a favor. Se der certo, eles se reelegem. Na hora do voto, a situação da economia e da vida real dos brasileiros será mais importante do que as notícias sobre corrupção.

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