-Vou deixar o Judiciário agir. (Michel Temer)

– Não podemos paralisar o governo. (Michel Temer)

– Só reformas podem conter a crise política. (Michel Temer)

– Se eu fosse o governo, recolheria a proposta da reforma da Previdência. Melhor recolher do que perder. ( Fábio Ramalho (DEM-MG, vice-presidente da Câmara de Deputados.

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As frases, ditas nessa quarta-feira, dia 12, retratam o ambiente tenso vivido em Brasília com a divulgação da lista de Fachin. Nada mais se sustenta em pé. Temer não pode dizer, mas certamente está desesperado.

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Todos os que acompanham os fatos da Operação Lava-jato, e correlatas, compreendem que o momento histórico é dramático.

A equipe do governo está enlameada. Os auxiliares mais próximos do presidente constam, destacados, no mar de corrupções.

A hora é do salve-se quem puder. Ninguém mais acredita em ninguém. A desconfiança impera.

O que os aproxima, Temer e empresários, é a batalha conjunta pró-reformas trabalhista e da Previdência. Crescem os receios.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Glauco José Côrte, ainda acredita na aprovação das reformas neste ano. Em especial, a trabalhista, que deverá ir à votação, nas comissões, na próxima semana, para depois ir a plenário. Se houver clima, algo impensável no calor da encrenca.

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O líder empresarial da indústria diz que o sentimento é de perplexidade com a amplitude da lista de Fachin. Mas, argumenta de que os presidentes da Câmara e do Senado têm a obrigação de convocar os seus pares para apreciar essas matérias.

– Os processos vão levar muito tempo. E o país vai ficar paralisado? Não pode! A economia não pode ficar dependente das incertezas políticas. Não devemos aceitar isso.

De hoje em diante, essas agendas de reformas passaram a terceiro plano dentro do Congresso. Lá, cada um dos deputados e senadores só consegue tratar de um tema: a lista de Fachin, que alcança, indistintamente, as principais lideranças políticas do Brasil, e de praticamente todos os partidos expressivos.

Vivenciamos o afundamento prematuro de um governo, que chegou como tampão e transitório pronto para atender demandas empresariais. Como o presidente Temer sempre disse, sua missão era a de conduzir o Brasil para o futuro, garantindo a aprovação das reformas estruturantes.

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Era. Esse ideário, que parecia possível até a semana passada, torna-se menos provável no curto prazo. Ruiu o castelo. As incertezas vão aumentar exponencialmente, a cada dia. Novas delações virão. Mais sujeira será revelada. A crise se prolongará.

Raros são os políticos de ponta que, por enquanto, escaparam do Ministério Público e da Polícia Federal. Por enquanto.

Essa confusão toda sugere dificuldades maiores.

Os lobistas já não sabem a quem procurar. Nem sabem a quem não procurar.

O dia seguinte à divulgação da lista demorará várias semanas. As próximas serão de absoluta apreensão. Lula dará depoimento ao juiz Sérgio Moro, dia 3 de maio. Vai ser preso? Não vai?

No embalo de perguntas sem respostas, reuniões e audiências com celulares na mesa são um perigo.

O mercado financeiro vai correr pra trás e pra frente, sem lógica alguma. Se, habitualmente, os investidores precificam o valor das ações na Bovespa por conta dos fatos, viabilizando ganhos e perdas, a realidade é tão cruel e de tanta imprevisibilidade, que impede notar, antecipadamente, o que vai ocorrer.

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Não basta que a inflação esteja controlada,e nem que os juros baixam de maneira significativa. Isso é importante, claro.

Algo se sobrepõe aos indicadores macroeconômicos. É a descrença generalizada nos políticos.

Como é praxe e inevitável, o capital conviver com a política, a atualidade sugere uma relação esquizofrênica. Precisam um do outro, mas já não confiam mais em nada do que dizem abertamente.

Desde 11 de abril de 2017, empresários vão fugir de fotos com gente inscrita nas delações, e nomeada publicamente por Fachin.