O falecimento do sócio-fundador da WEG, Werner Voigt, nesta quarta-feira, entristeceu um dia já escuro, nublado, por conta dos céus e da natureza. Um dia triste para todos os que o conheceram, independente da quantidade dos momentos e da duração temporal de cada diálogo com ele.
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Uma grande amiga me enviou mensagem, pelo WhatsApp, com um comentário feliz para as circunstâncias:
– Deus estava precisando de novos visionários por lá.
Foi isso mesmo. A mesma delicadeza da frase consoladora, que me chegou as 13h59, vivia-a, o empresário que nos deixa.
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Nunca o entrevistei. Uma falha imperdoável. Deveria tê-lo feito. Voigt era exemplar em suas atividades profissionais à frente da poderosa WEG.
Todas as homenagens que o mundo empresarial do Norte catarinense e, até, de outras regiões, lhe prestam desde esta quarta-feira, dia 2 de junho de 2016, são obviamente merecidas. Uma pessoa acolhedora, digna e sobre quem há praticamente unanimidade positiva.
O trio Werner Voigt, Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus – a comporem a marca global WEG, constituídas a partir das letras iniciais de seus nomes – revolucionou os negócios de motores, colocou Jaraguá do Sul no mapa mundial da inovação quando essa palavra era nada na linguagem corporativa – e lá se vão décadas!
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Estes fundadores – e claro – depois, seus extraordinários sucessores na administração e na inventividade, e o conjunto de trabalhadores, dão, continuamente, lições de como se fazem honrosas corporações brasileiras de destaque global. Uma história de inteligências, dedicação, perseverança, arrojo e preocupação em ser melhor a cada dia.
Minha relação com ele poderia ter sido mais próxima. Especialmente nos períodos de adolescência, antes de me mudar para outras cidades e retornar a Joinville, em 1990. Claro que os leitores estranham a argumentação que faço hoje. Vão compreender logo.
Werner Voigt, bem no comecinho, praticamente em seu aprendizado elementar sobre motores e eletricidade, trabalhou, em Joinville, na oficina de seu xará. Depois abriu negócio próprio. E nunca parou.
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Voigt evoluiu, desenvolveu seus talentos, construiu uma vida de êxitos, e teve papel decisivo na formatação da riqueza e na edificação de uma sociedade jaraguaense voltada ao coletivo. Influiu diretamente no crescimento e apoiou, intensamente, também, a área da cultura.
Voigt era de uma sensibilidade ímpar. O sucesso na carreira jamais ofuscou a simplicidade. Tinha gratidão por todos os que o ajudaram, ou com quem conviveu ao longo da sua história vitoriosa. Era próprio dele essa característica. A de reconhecer os valores alheios. Por que digo isso, se ele chegou a empresário de máximo êxito, numa cidade que pouco conhecia?
A explicação está na vida. Mesmo depois de tantos êxitos na empresa que fundou, junto com Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus, permanceu, nele, a lembrança dos começos. No plural.
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A cada ano, sempre no dia 24 de dezembro, véspera de Natal, Voigt se deslocava de Jaraguá do Sul até Joinville. Um de seus compromissos era visitar um amigo de longa data. Chegava com seu carro, sempre vestido com muita simplicidade, batia palmas e era recepcionado, pelo morador, com um tímido, mas largo sorriso. Os dois sentavam num banco de madeira, de cor marrom, próximo à parede da casa branca, de esquina. Trocavam impressões sobre o momento e relembravam o passado. Às vezes, com um copo de cerveja para brindar. Ambos eram assim: sem nenhuma frescura. Naquelas poucas horas, e sempre, anualmente, na mesma data, ele voltava. Unicamente para abraçar o amigo joinvilense.
Essas visitas eram sagradas. Voigt vinha; o amigo, quase que o esperava, mesmo sem dizer nada antes. Era como se adivinhasse que viria. Voigt, de aprendiz, se tornou um nome consagrado no meio empresarial. A homenagem anual era acompanhada de uma cesta de Natal; uma bebida. Tudo muito simples. Gesto de afeto; de reconhecimento; de saudade de alguém que o tinha introduzido, minimamente, no campo da eletricidade.
O amigo era Werner Strohmeyer, dono de oficina de rebobinamento de motores. Werner Strohmeyer era meu tio.
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Voigt, obrigado pelos exemplos.