As mudanças do setor de recursos humanos são tema dessa entrevista com um dos mais experientes e conhecidos profissionais do ramo da região Norte de Santa Catarina. Pedro Luiz Pereira, que já presidiu a ABRH, fala de como devem se comportar os executivos em busca de colocação. Argumenta que a atual situação do mercado de trabalho se assemelha à dos anos 1980. Explica que tipo de profissionais são procurados atualmente. E indica tendências da área de RH para o futuro.

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Quem é Pedro Luiz Pereira

É um pensador e um trabalhador. Nascido em Joinville em uma família bastante humilde, órfão aos sete anos. Iniciou a carreira aos 13 anos, como officeboy, numa empresa de informática, a MCI, onde trabalhou durante 25 anos, dos quais 15 em RH. Depois, Datasul, Pollux e, depois, como executivo durante quatro anos na Acij. Hoje, tem uma empresa de consultoria e recursos humanos, a Eurho, e também é professor de pós-graduação, além de outras atividades voluntárias em entidades variadas.

AN – Ao longo de sua trajetória profissional, que transformações mais relevantes acompanhou nas relações de trabalho?

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Pedro Luiz Pereira – Os paradoxos são muitos. Sempre há um grande gap entre discurso e realidade. A sociedade em geral é assim. Se compararmos a década de 1980, com a atual, veremos alguns avanços em termos de foco maior no conhecimento e na preparação das lideranças. No entanto, o trabalhador de hoje é mais vulnerável. Já não fica mais numa empresa durante toda a vida. Esta situação traz insegurança nos momentos em que a pessoa mais busca pela segurança. Os planos de carreira, em sua maioria, representam um grande risco. Os profissionais que chegam ao nível sênior estão em constante ameaça. Isto é uma consequência natural de ambientes competitivos.

AN – O atual estágio de mercado de trabalho é comparável a que outro momento histórico da economia brasileira e joinvilense?

Pereira – A situação de hoje pode ser comparada à ocorrida em quase toda a década de 1980, e também ao inicio da década de 1990. O desemprego é uma situação desesperadora para os trabalhadores, e, além de afetar questões básicas de sobrevivência, também abala demasiadamente o emocional, estraçalhando a autoestima. Joinville atualmente segue o jogo do que acontece nas regiões Sudeste e Sul do Pais.

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AN – Como o ambiente econômico interfere nas ações de agentes – recrutadores de mão de obra, empresas e trabalhadores?

Pereira – As práticas e processos de gestão de pessoas são afetadas diretamente pelo ambiente econômico. Quando o mercado está aquecido, o recrutamento torna-se mais complicado, e as empresas diminuem as exigências, como ocorreu em 2013 e 2014. Hoje, as empresas precisam reduzir custos para sobreviver, e isto afeta os trabalhadores – um recurso que também é analisado na ótica investimento x retorno. Os trabalhadores nunca foram tão recursos como nos dias atuais.

AN – A crise atual tende a ser superada em que prazo, se dá para estimar um prazo? Há sinais animadores no horizonte? Quais são esses indicadores?

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Pereira – As constantes crises impactam diretamente em nossa competitividade. Muitas empresas iniciam projetos e em diversos casos eles são interrompidos, pois a ordem passa a ser a contenção de custos. Como o desenvolvimento nas melhores práticas de RH é de retorno de médio e longo prazos, e a visão dos principais dirigentes é de curto prazo, não há convergência em termos de percepções e de ações. É difícil fazer previsões, mas sou otimista. Acredito que ano que vem será um pouco melhor.

AN – Quais são os comportamentos naturalmente desejáveis por quem procura emprego?

Pereira – Tudo depende muito do cargo procurado, mas em geral é preciso estar ciente de que a entrega de resultado precisa ser a melhor possível. As empresas ainda são pouco competitivas, e o que as pessoas geram de resultados é o fator determinante. Hoje em dia, além das exigências técnicas, é preciso ter um comportamental alinhado às expectativas e aos valores da companhia. Isto é cada vez mais importante num ambiente altamente interativo e “mais” democrático.

AN – Que tipo de funcionários está em alta neste ano de dificuldades?

Pereira – A área comercial das empresas está passando por reestruturação. O perfil mais preparado para abordar e argumentar é o mais procurado porque é mais desafiador vender num ambiente recessivo. Em TI também existem oportunidades bem específicas.

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AN – Qual é a tendência em recrutamento de pessoal hoje – e no futuro a curto prazo?

Pereira – Os processos de recrutamento e seleção precisam estar mais antenados a estes novos tempos. Para as novas gerações, é muito importante trabalhar com aquilo em que haja maior identidade. Neste contexto, as empresas precisam buscar mais informações em relação às forças naturais que cada um tem dentro de si. Antigamente, não havia esta exigência e em geral as carreiras eram colocadas no “piloto automático”. Qualquer um fazia qualquer coisa. Eles não eram medidos como acontece hoje em dia e muitas pessoas se escondiam no meio do grupo. Hoje não é mais possível fazer isto. Esta situação exige uma análise mais profunda de perfil, alinhar as forças internas (vocação) à atividade na qual a pessoa irá trabalhar. A seleção não pode mais ser feita somente com base na análise de currículo e numa entrevista. Quem ainda insiste neste modelo está desalinhado às novas exigências.

AN – O que o candidato a um emprego precisa fazer para se diferenciar diante dos concorrentes nestes tempos de alto desemprego?

Pereira – Arregaçar as mangas. Saber enfrentar frustrações. Elaborar um bom currículo. Mostrar-se realmente interessado na vaga em aberto. Acessar a sua rede de contatos. Aprender continuamente e ser o mais natural possível na entrevista de seleção. Não invente frases. Seja verdadeiro, tenha muita fé a acredite, acima de tudo, em seu potencial.

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AN – Que áreas de executivos são mais procuradas?

Pereira Os executivos mais procurados são da área comercial, TI, controladoria e outras mais específicas. Tivemos uma época em que os profissionais da área fabril estavam em alta, pois o maior desafio era produzir. Hoje, o maior desafio é vender. Outra situação a ser observada é se a empresa precisa de um gestor mais processual ou de um líder que é mais relacional.

AN – Qual deverá ser a próxima revolução transformadora na área de recursos humanos?

Pereira – A nova revolução passa pelo uso da neurociência na seleção e no desenvolvimento das pessoas. As ideias de Descartes e de John Locke são amplamente questionadas por contemporâneos como Steve Pinker, que mostram um novo cenário a ser aprendido e aplicado. A grande pergunta é: posso realmente moldar uma pessoa? Até onde é possível desenvolver alguém? Alguns especialistas afirmam que nosso consciente é responsável somente por 5% daquilo que somos. O resto está no inconsciente. Outro fator a ser observado é o perigo que está ocorrendo com as novas gerações. Elas sabem caminhar apenas nos caminhos programados… Como ficam as situações de improviso? de Risco? As surpresas da vida?

AN – Quais os melhores momentos em sua vida profissional?

Pereira – Ter conhecido tanta gente fantástica na MCI, Datasul, Pollux, Acij etc. Ter sido convidado pelo prefeito Udo para ser secretário de Gestão de Pessoas de Joinville. Cargo não aceito em razão de compromissos com minha empresa. A vida no grupo de Jovens Cejaga, as atividades voluntárias… O meu amor pelo ser humano, independentemente de nível social, raça, idade e opções variadas. Minha Joinville querida… Não é por acaso que a placa do meu carro é MJQ. Ter um negócio próprio.

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