Paulista, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Araquari, Maurício Baptista, desde 2010 com atividades profissionais na cidade catarinense, assumiu a pasta no começo deste ano. Tem a a missão de dar sequência ao crescimento dos negócios. Nesta entrevista, ele mostra preocupação com a questão das terras indígenas, que brecam o desenvolvimento; fala da BMW; de condomínios empresariais; e da conjuntura. Identifica ainda potencialidades, indica evolução do PIB e lista problemas.

Continua depois da publicidade

Leia outras colunas de Claudio Loetz.

Leia as últimas notícias de Joinville e região.

A Notícia – Qual é a situação atual da economia de Araquari?

Continua depois da publicidade

Maurício Baptista – A atual gestão, de oito anos, que se encerra em dezembro, usou fartamente as regras das legislações de concessão de benefícios fiscais a empresas. Em especial, apropriou-se dos programas Prodec e Proemprego, do governo estadual. À época, Araquari aparecia com os menores índices de desenvolvimento humano (IDH) do Estado. Essa circunstância favoreceu o apoio à instalação de empreendimentos. Olhando um pouco mais para trás, há 20 anos, o IDH era de 0,413, agora é de 0,705. Isso quer dizer que Araquari já não é mais uma cidade pobre. E as vantagens que a legislação dava desapareceram.

AN – Como evoluiu a formação do PIB do município?

Baptista – Há sete anos, a riqueza de Araquari era de R$ 297 milhões. Atualmente, soma R$ 3 bilhões. Uma alta de 910% no período. Na mesma base de comparação, a receita aumentou de R$ 18 milhões para R$ 110 milhões. Mais: a fatia que cabe a Araquari na divisão do ICMS (índice de participação dos municípios) se multiplicou por cinco. Agora, já se sente os efeitos positivos da operação da Hyosung e entre 2017 e 2018, virão os da fábrica da BMW.

AN – A vinda de novas empresas é uma realidade…

Baptista – No período de 2009 a 2016, Araquari oficializou a vinda de 1.078 negócios novos. Atualmente, pelos números da Junta Comercial de Santa Catarina, temos 3.257 empresas instaladas.

Continua depois da publicidade

AN – Qual é o objetivo?

Baptista – Como perdemos as vantagens fiscais como efeito do próprio crescimento e de qualidade de vida, agora queremos fortalecer os negócios instalados. Sem desprezar os interessados em vir para cá, lógico. A questão é cuidar dos que estão dentro do cercado.

AN – A decisão da BMW de construir fábrica no município criou uma grande expectativa em torno de possível atração de dezenas de companhias menores, que a abasteceriam com insumos, componentes e serviços. Essa expectativa não se cumpriu. O que houve?

Baptista – É verdade. Só a Bentler, que produz chassis e eixo dos veículos, veio para perto da montadora alemã. De visível, só isso mesmo. Pode haver outras, desconheço. A previsão era virem 42 empresas-satélite, sistemistas da BMW. Não sei o que aconteceu.

Continua depois da publicidade

AN – Há proximidade da BMW com Araquari?

Baptista – A BMW está mais voltada a Joinville do que a Araquari. Inclusive está filiada à Associação Empresarial de Joinville (Acij) e não à Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Araquari (Aciaa).

AN – Mudando de assunto. E a Ciser, que inaugura fábrica nova em setembro?

Baptista – A Ciser começa a atuar em agosto, talvez setembro. Aí, o tema não é apenas uma nova e moderna fábrica. É algo bem maior.

AN – O que o senhor quer dizer?

Baptista – O Grupo H.Carlos Schneider é dono de uma área de 38 milhões de metros quadrados na região do Paranaguamirim. Deste montante, 70% ficam em Araquari e 30%, em Joinville. Metade, ou 19 milhões de m², são urbanizáveis. A Hacasa – braço imobiliário e empreendedor do grupo – contratou executivo de ponta para gerenciar esse grande projeto. A Ciser é âncora. E toda a cidade estará inserida nessa iniciativa – quando ocorrer. A região do Rio do Morro será um novo vetor de desenvolvimento, até mesmo para Joinville.

Continua depois da publicidade

AN – Há outras empresas do Norte catarinense com boas áreas em Araquari.

Baptista – Sim. Alguns exemplos: o Laboratório Catarinense e a Lepper, ambas de Joinville; a WEG, de Jaraguá do Sul; e a Karsten, de Blumenau, detêm vastas áreas. São reservas patrimoniais que estão disponíveis para eventual utilização.

AN – O preço da terra explodiu.

Baptista – Verdade. Os valores pedidos subiram acima do razoável. Comparar ajuda a ter ideia das coisas. Em 2010, o metro quadrado custava R$ 35. Foi quando a Hyosung optou por construir a fábrica. Em 2013 e 2014, com o anúncio da BMW, passou a valer R$ 50. Em 2016, o metro quadrado está em R$ 250.

AN – Vários empreendedores estão construindo condomínios industriais gigantes e galpões.

Baptista – Sim. A Fortlev, a VTO, às margens da BR-101. Irineu Machado – e outros – constroem, ou têm projetos, por aprovar em terrenos localizados às margens da BR-280. Há muitos espaços vazios. Isso é consequência da crise. Um exemplo claro das dificuldades conjunturais surge próximo a Curitiba: há um painel, em área de enorme complexo logístico, em São José dos Pinhais, com um aviso: damos carência de até dois anos para quem assinar contrato de locação.

Continua depois da publicidade

AN – E tem a questão indígena…

Baptista – Ah, claro. A nossa grande prioridade é rever a questão indígena. Em 2003, por determinação federal, havia 2.206 hectares destinados aos índios na região Norte de Santa Catarina. Depois, a Funai aumentou a área em mais 6.224 hectares. Há, atualmente, 8.430 hectares que são intocáveis em Araquari. A região de Guaramiranga, vizinha a Guaramirim, está praticamente tomada pelas terras pretendidas pelos índios. Isso paralisa o desenvolvimento. Uma conta mostra, que só em Araquari essa área toda equivale a 12 mil campos de futebol!