O jornalista alemão e brasilianista Alexander Busch, mostrou uma visão peculiar sobre o Brasil em palestra realizada na Acij. O profissional também visitou empresas e o porto de Itapoá em sua passagem de três dias, por Joinville, na semana passada. A seguir, o resumo do pensamento do correspondente internacional de publicações da Alemanha e Suíça. Busch mora no Brasil há 25 anos.

Continua depois da publicidade

A primeira matéria

Estou desde a década de 1990 no Brasil. A primeira matéria foi sobre o impeachment do presidente Fernando Collor. À época, os empresários estavam esperançosos com o país. Não vejo mais isso, hoje aquele mesmo brilho nos olhos. Atualmente, a situação é opaca. O Brasil é a estrela cadente do grupo do BRIC que reúne Brasil, Rússia, China e Índia. Em 2006-2007 o Brasil era voz importante. o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, era ouvido na Europa. É difícil compreender como o Brasil decaiu.

Nomes

Em 2006, Eike Batista, dono de diversas empresas, o banqueiro André Esteves e a Petrobras eram exemplos de sucesso. Hoje, a Petrobras é fração do que era antes. Eike foi preso, o império ruiu. E Esteves perdeu importância.

Continua depois da publicidade

Leia mais notícias do colunista Claudio Loetz

Lula

A vitória e o governo do Lula foi a demonstração, para o mundo, da força democrática do Brasil; de como era possível um retirante chegar ao Poder. Depois, Dilma, – a primeira mulher presidente – também foi um encanto para os alemães. Justiça social é um valor essencial na Alemanha. Por isso, o modelo Lula era tão atrativo.

Temer

O governo Temer é um governo branco, de gente de 60/70 anos de idade, e é uma decepção muito grande para os alemães, apesar de tentar fazer reformas. Lula tem imagem bem melhor na Alemanha. Claro, que houve a ilusão de se criar uma sociedade com classe média significativa, o que o colapso do modelo econômico distributivista, não permitiu, a partir de 2013.

BRIC

Daqui a um mês, haverá reunião do BRIC. Os jornalistas identificam a China e a Índia como protagonistas. O Brasil tem menor relevância. O que se percebe é o governo Temer não dando valor a compromissos ambientais internacionais assinados. O país está ausente das grandes questões globais, até mesmo nas negociações em torno da crise da Venezuela. Argentina, Chile e Peru lideram as negociações e ganham importância dentro do continente.

Alimentando o mundo

Claro que há aspectos positivos. O Brasil alimenta o mundo. É líder na produção de várias culturas e continuará a avançar no agronegócio. O Brasil tem o etanol. Não existe nada igual no mundo nesta área da energia. Há o pré-sal, também importante. Mas entrou muito tarde na área da energia eólica e solar.

Continua depois da publicidade

Consumo

Outro fator positivo, aos olhos do mundo, é o enorme potencial de consumo. Há 206 milhões de pessoas. Isso dá esperança para o futuro. Na política, é relevante compreender que o Brasil continua com uma democracia sólida. A imprensa é forte. O Lava-jato é algo impressionante. É o fato mais importante.

Parceria estratégica

A Alemanha pode fazer transferência de tecnologia da qual o Brasil necessita. Isso vale tanto para empresas, como para universidades. A relação comercial entre os dois países é antiga. Nos anos 50, sob, Getúlio Vargas, a Volkswagen e a Mercedes Benz chegaram ao país e iniciaram o processo de industrialização no ramo automobilístico. Nos anos 70, nova parceria estratégica se formou, com o acordo de energia nuclear e a construção da usina de Angra dos Reis.

Transferências de tecnologia

O Instituto Fraunhofer, com 47 centros de pesquisa na Alemanha, tem acordos de transferência de tecnologia com 23 unidades do Senai, em diferentes estados do Brasil. O problema é que muitas delas não evoluem porque no Brasil está tudo travado. Os contratos foram encaminhados em 2015, mas o Brasil parou. É fundamental aproveitar esta janela de oportunidades.

Alemães não investem

O Brasil é, hoje, um país complicado para os investidores. Não vejo grandes empresas da Alemanha investindo no Brasil nos próximos dez anos! O conselho de administração de grandes grupos empresariais alemães não autorizam investimentos de vulto no Brasil. As possibilidades estão mais nas empresas consideradas de tamanho médio, lá; o que para os brasileiros assume dimensão bem maior, dado o poder econômico de cada país.

Continua depois da publicidade