O secretário de Cultura da Prefeitura de São Paulo, André Sturm, fez palestra no Instituto Internacional Juarez Machado, em Joinville, na última sexta-feira, para uma plateia de agentes culturais. Ele explicou como o cinema revolucionou a sociedade norte-americana, falou de sua atuação descentralizadora no tempo em que foi secretário de Cultura do governo do Estado de São Paulo.

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Também dirigiu o Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, para onde levou exposições extremamente populares, mediante gestão voltada a resultados. A seguir, os principais trechos de sua argumentação.

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O senhor disse, na sua fala, que as organizações sociais administram diferentes espaços culturais em São Paulo. Por que esse formato gerencial é positivo?

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André Sturm — Em São Paulo, as empresas privadas apoiam espaços culturais, e organizações não-governamentais (ONGs), os administram. Este modelo é adotado, especialmente, em museus e permite a obtenção de patrocínios, captar recursos, contratar e demitir sem concurso público, fazer atividades sem a burocracia conhecida.

Por que a administração direta é ruim para a área cultural?

André — Porque é preciso fazer licitação para tudo e amarra os trabalhos. Apurar receitas, com mostras e eventos de apelo popular, é legítimo. Aliás, é necessário. Os museus têm de ser espaços oxigenados, sintonizados com as novidades e com as demandas contemporâneas. Aliás, adotar as ONGs para administrar os museus e outros centros culturais não significa privatizar. O Estado fica com as políticas públicas, e as ONGs, com a gestão.

Para muita gente, cultura é uma coisa chata, somente para especialistas. Inacessível a muitos, ouve-se, com frequência, esse tipo de comentário.

André — Cultura vem antes da educação. Cultura é pintar, é cantar. Isso antecede ao ensino formal das escolas. Um dos problemas é que os artistas são dependentes do Estado. Isso engessa e muitas possibilidades são perdidas.

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Em Joinville — e não só em Joinville —, o Poder Público uniu a educação e a cultura em uma só secretaria.

André — De jeito nenhum se deve unir cultura e educação. São coisas distintas. Merecem tratamentos diferenciados.

Como é possível tornar uma cidade referência cultural e vivenciar a criatividade, gerando mais valor e negócios?

André — Nova York (EUA) se revelou para o mundo a partir do cinema, desde os anos 1950, pós Plano Marshall. Há bastante tempo, Canela, no Rio Grande do Sul, era bem mais conhecida do que Gramado. Então, a prefeitura de Gramado criou o Festival de Cinema. O evento forjou o desenvolvimento econômico. Corporações fazem convenções lá.

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Atrair o público para a arte depende de quê?

André — Entre outros fatores, é importante que os espaços culturais tenham programação regular, constante, conhecida e bem divulgada. Assim, é viável consolidar a presença de interessados com a frequência desejada. E ampliar esse público.

O senhor falou da importância de se ter uma Film Comission nos municípios para mostrar locações ao mundo. Como isso se implementa?

André — Em Balneário Camboriú, há uma Film Comission. Para funcionar em qualquer cidade, precisa ter, pelo menos, endereço, site, informações de possíveis locações para realizar filmagens. Evidentemente, que a cidade tem de oferecer serviços, hotelaria e outros elementos que atraiam produtores e equipes desejosos de filmar lá. Em Joinville, por exemplo, as locações podem se estender para um raio de 50 quilômetros.

Onde entra a Prefeitura nisso?

André — A Prefeitura pode ter uma legislação com benefícios fiscais às produções. Isentar de cobrança de ISS, por exemplo. O mais importante é agregar a marca ao local, de modo a lhe dar mais valor, e elevar a imagem do município, que pode criar instrumentos para que a cultura gere riqueza própria e dinamize as atividades via economia criativa.

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Joinville é uma sociedade conservadora, que se desenvolveu em torno do modelo industrial. Como criar valor aqui, a partir da criação artística? Que papel é desejável para as empresas nesse processo?

André — As empresas são muito fortes em Joinville. Há marcas poderosas. Os empresários devem devolver, com apoio à cultura, parte de suas conquistas obtidas.