A Federação do Comércio de Santa Catarina (Fecomércio) completou 69 anos de atuação na última quinta-feira. Nesta entrevista, o presidente Bruno Breithaupt (foto acima) analisa o cenário. Afirma que os dois anos – 2016 e 2017– são os mais difíceis dos últimos 25 para o comércio catarinense. O grande número de lojas fechadas mostra a realidade. Mesmo assim, há algum ânimo porque os negócios aumentaram 4% no acumulado de 12 meses. O líder alerta para a importância de os empresá-rios buscarem diferenciais competitivos e acredita no dinamismo das atividades em razão das características socioeconômicas do Estado. No campo da política, anuncia que a federação vai lançar aplicativo da agenda legislativa, que sistematiza os projetos de lei que tramitam na Assembleia Legislativa.
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Considerando o desempenho dos negócios do comércio catarinense, o momento atual é comparável a que outro período?
Bruno Breithaupt – O momento do comércio catarinense, nesses últimos dois anos, é um dos mais difíceis dos últimos 25 anos. No ano passado, chegou-se à menor variação nas vendas, de acordo com os dados do IBGE, uma queda de 8% em julho de 2016. Fatores como forte instabilidade política, que adia as decisões de consumo, o desemprego em elevação e as altas taxas de juros, que reduzem o crédito, contribuíram para este cenário. No entanto, desde o começo do ano o comércio catarinense vem se recuperando e já somos o Estado que mais cresce no Brasil em termos de vendas: 4% no acumulado de 12 meses, segundo o IBGE. Isso nos mostra a robustez do setor e do mercado interno de Santa Catarina. A taxa de desemprego mais baixa do Brasil e a relativa estabilidade na renda são importantes impulsionadores dessa recuperação.
E o que distingue a etapa atual?
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Breithaupt – O que distingue as atuais dificuldades econômicas das demais de nossa história, especialmente para o comércio, é que finalmente desenvolvemos um vigoroso e consolidado mercado interno, principalmente a partir da redução das desigualdades sociais, do aperfeiçoamento de nosso mecanismo de crédito e do controle inflacionário. Isso é muito importante, pois nos dá mais dinamismo e torna menos dolorosas as crises econômicas.
Ao longo da história de quase sete décadas, como se transformou o empresariado?
Breithaupt – No passado, o grande desafio no Brasil era tornar os bens de consumo acessíveis a todas as pessoas. Já tínhamos uma população imensa, mas completamente desprovida de tudo. Portanto, buscava-se fazer crescer os negócios, dentro das limitações impostas, a partir da expansão dos pontos de vendas em todas as partes do País. A busca era por ganhar na escala e na oferta cada vez maior de produtos, numa tentativa constante de barateamento das mercadorias. Atualmente, como grande parte da população já tem acesso a bens de consumo, como nunca visto antes, o empresário trabalha no sentido de buscar diferenciar seus produtos, torná-los mais atraentes para os consumidores potenciais. Isso torna o cenário muito mais competitivo. Desse modo, os projetos se tornam mais voláteis em busca de uma maior rentabilidade, em espaço de tempo cada vez menor.
A Fecomércio completa 69 anos. Quais fatores a tornam assim longeva? Breithaupt – Desde que foi fundada, em 10 de agosto de 1948, a federação é a representante legal dos interesses do setor terciário no Estado. Une e orienta as categorias econômicas do comércio, serviço e turismo, por meio dos seus 70 sindicatos patronais e gestão descentralizada. Também é responsável pela negociação das convenções coletivas de trabalho e orientação aos sindicatos. Também fornece informações de mercado e pesquisas para a tomada de decisões, e tem um portfólio de produtos e serviços competitivos para os sindicatos e empresários.
Como se dá a atuação da entidade na área da política?
Breithaupt – A Fecomércio conta com uma iniciativa pioneira de atuação legislativa nas três esferas, a Renalegis SC – rede estadual de assessoria legislativa, para monitorar os projetos de lei em tramitação, e atuar naqueles que apresentam impacto ao setor.
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Será lançado aplicativo…
Breithaupt – Estaremos lançando, em breve, o aplicativo da agenda, que sistematiza os projetos de lei e disponibiliza o posicionamento da entidade. A mudança para a nova plataforma possibilitará favoritar os projetos de lei e receber notificação sobre a tramitação.
Num mundo de transformações velozes e de entrada de novas tecnologias, como o comerciante deve agir para não ser engolido pela concorrência?
Breithaupt – O comerciante deve estar atento às principais tendências do mercado e ao perfil de seu consumidor. Por exemplo, a população vem ficando mais velha. Nesse sentido, é importante o comerciante ofertar produtos para esse perfil. Aquele que investir em diversificação, atendimento e preço competitivo, além de optar por mais canais de vendas, tem grandes chances de se dar bem.
As vendas da internet ainda não predominam no total de faturamento do comércio, mas está crescendo. Diante da inevitabilidade desse fato, o senhor diria que o varejo catarinense está preparado para compreender este consumidor, que faz compras somente online?
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Breithaupt – O e-commerce já não é uma tendência, é uma realidade que precisa ser assimilada e explorada. Hoje, o consumidor faz suas compras em diferentes canais de venda, algumas vezes combinando ambiente físico e digital. Ele vai na loja experimentar e sentir o produto, mas finaliza a compra online. Outros fazem pesquisas nos sites, comparam, leem as recomendações e reviews – outra questão que os empresários precisam aprender a administrar – e compram na loja física.
Qual é a importância de se compreender o comportamento do cliente?Breithaupt – Muito se fala da big data. O desafio não é ter acesso aos dados dos clientes, mas analisar e gerenciar com inteligência para entender os padrões de comportamento do consumidor para melhorar a experiência de compra. Saindo do virtual para o real, é preciso ter foco no capital humano e na qualificação para as novas competências. Estamos falando de reter talentos nas empresas.
O que caracteriza o mercado catarinense?
Breithaupt – Duas particularidades catarinenses influenciam no poder de compra: o menor índice de desemprego do País e a renda média mais alta. A geração de vagas no comércio e serviços e os investimentos ainda precisam avançar, mas dependem bastante da confiança do empresário, que está diretamente ligada ao cenário político.
Quais são os desafios da federação?
Breithaupt – A federação tem alguns desafios pela frente, entre eles, o novo panorama sindical com a reforma trabalhista, e as flutuações do mercado com as incertezas no Congresso. Se, por um lado, o projeto aprovado concede aos sindicatos relevância e força, consagrando os acordos e convenções coletivas de trabalho, por outro, o mesmo texto retira dos sindicatos grande parte de sua receita. A prevalência do negociado sobre o legislado é um exemplo de como a atuação efetiva das entidades sindicais será primordial.
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E para este ano, o que é prioridade?
Breithaupt – Para o segundo semestre, a federação foca o trabalho junto aos empresários, sindicatos e parlamentares no encaminhamento da agenda previdenciária. Há também a reforma tributária, que o governo se comprometeu a desenterrar no segundo semestre.
Que impacto têm as pesquisas que a Fecomércio produz?
Breithaupt – Saber sobre a direção dos ventos nunca foi tão importante para o mercado como neste cenário de incertezas. A Fecomércio disponibiliza uma série de dados que retratam o comportamento do consumidor (expectativa e resultados das principais datas do comércio), tiram a ¿temperatura¿ da economia (endividamento e inadimplência, consumo e confiança), além de mostrar os impactos do turismo: verão, Carnaval, Festa do Pinhão, inverno, Festival de Dança e Oktoberfest. Até o fim do ano, estão previstos lançamentos de pelo menos mais vinte pesquisas.