Embora nos últimos anos tenha ganho destaque na mídia por suas contundentes críticas ao governo federal, Lobão ainda é – ou nunca deixou de ser – artista. É nessa condição que ele chega a Santa Catarina para uma miniturnê que começa hoje em Itajaí e se encerra domingo em Florianópolis.
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Na bagagem, apenas o violão, companheiro com que pretende revisitar sucessos, desenterrar lados B e apresentar algumas músicas inéditas nos quatro shows no Estado.
O segredo da trilha sonora de Verdades Secretas
– Estou “recolhendo” as canções mais violonísticas, que soam melhor nesse formato. Voz & violão demanda muito de mim, mas eu amo fazê-lo – explica Lobão por e-mail, menos de duas horas depois de receber a mensagem com as perguntas.
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Até o final do ano deve sair seu novo disco, O Rigor e a Misericórdia, bancado via financiamento coletivo na internet. A nove dias de terminar o prazo para as contribuições (de R$ 20 a R$ 20 mil), o projeto arrecadou 40% dos R$ 80 mil almejados. Se não atingir a meta estipulada, o cantor não esquenta a cabeça: vai estender a data limite para as adesões e continuar na cruzada contra o partido pelo qual militou durante 15 anos.
– Me sinto também responsável em ter ajudado na sua eleição, e é meu dever corrigir esse equívoco terrível – justifica o ex-petista na entrevista que segue abaixo.
Você sofreu ou está sofrendo algum tipo de patrulhamento por causa de suas posições políticas?
O patrulhamento é escancarado e eu me divirto com a cafonice e até mesmo com a covardia de certas inventivas. Acredito que todo o Brasil está sendo afetado seriamente por essa incitação de ódio entre as pessoas e as classes.
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Além de política, de que fala o seu próximo álbum, O Rigor e a Misericórdia?
O disco fala sobre amor, aconchego, o universo, perdas, morte, eternidade, esperança, viagens, ascensão e até de política, eh eh eh! Mas é a parte minoritária do disco. Só tem três músicas explicitamente políticas.
Por que você gravou o disco sozinho?
Porque é um sonho meu desde pequeno poder fazer isso.É uma empreitada dificílima, mas como domino com uma certa habilidade o violão, a guitarra, o baixo e a bateria, além de me virar legal nos teclados, synths, piano, órgão, vibrafone, viola caipira… É fascinante ver o resultado final de tudo isso gravado. Tenho um jeito muito pessoal de tocar esses instrumentos e somente eu poderia retirar este resultado final.
Você disse que o título do trabalho saiu de um ensaio do filósofo Olavo de Carvalho. Em que circunstâncias você o conheceu? Que obras você já leu dele que poderia indicar aos leitores?
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Estou lançando um livro que se chamará Em Busca do Rigor e da Misericórdia, em que relato tudo o que aconteceu durante durante a composição e as gravações do disco, assim como toda essa história. Sai em novembro pela editora Record.
Quando você se desencantou com o PT e por quê? Houve algum momento-chave?
Foi acontecendo paulatinamente. Primeiro foram as alianças com o Sarney, o Maluf e o Collor; depois o Gilberto Gil no Ministério da Cultura; depois os casos de corrupção foram aparecendo e se multiplicando de forma absurda. Em 2005 eu me declarei fora dessa parada e assumi que não apoiaria mais o PT.
Qual foi a maior satisfação e o maior dissabor que você pode creditar exclusivamente às suas posições políticas?
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Estou muito feliz com minha postura e, se alguém deixa de ser amigo por eu estar me opondo a um governo tão corrupto como esse, eu interpreto que esse tipo de pessoa jamais foi realmente amiga e portanto, não há perda onde nunca se ganhou, né?
Como você lida com a possibilidade de, devido à sua militância anti-PT, seu show ser mais procurado por quem concorda com a sua visão política do que pelos fãs de sua música? Ou os fãs de Lobão e os detratores do atual governo são as mesmas pessoas?
Olha, eu sempre me posicionei claramente sobre minhas preferências políticas durante meus 40 anos de carreira. Se antes iam aos meus show porque eu era a favor do PT, qual seria o problema de irem agora por eu ser contra? O show não tem nada a ver com proselitismo político. São duas horas de música sem a menor preocupação de dedicar algum tempo relevante para ficar falando de política. É um puta show de música onde a excelência musical e a diversão são as prioridades.
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Você simpatizava com o PT e hoje é um ferrenho opositor do partido. Você bradava sua independência e depois assinou com uma grande gravadora. Você condenava quem gravava discos acústicos e depois lançou um álbum neste formato. Amanhã você não pode mudar de opinião também a respeito de política?
As coisas não são tão simplórias a esse nível de reducionismo, né? Sou um artista que doou mais de 15 anos de seu tempo apoiando um partido como o PT, tenho todo direito de responsabilizá-lo por sua incompetência, inoperância e corrupção. Me sinto também responsável em ter ajudado na sua eleição, e é meu dever corrigir esse equívoco terrível. Eu bradei por independência e permaneci independente. O Acústico MTV foi uma joint venture com a Sony e meu selo, o Universo Paralelo _ é muito diferente de ser um mero contrato de artista com uma gravadora. E realizei o Acústico MTV porque fiz inteiramente diferente do que sempre critiquei, que é transformar o formato num caça-níqueis barato. Oitenta por cento do repertório que escolhi foram músicas do A Vida É Doce, do Canções Dentro da Noite Escura (discos que nunca tocaram nas rádios e são considerados os meus melhores trabalhos de estúdio), lados B e uma inédita (O Mistério). Tanto procede o que estou falando que o álbum recebeu o Grammy Latino de melhor disco de rock de um ano em que Os Mutantes em sua volta retumbante eram os francos favoritos. Quanto à política, é claro que não só posso como DEVO mudar de opinião, uma vez que política é uma coisa dinâmica e altamente variável. Só conseguimos adquirir sabedoria arriscando e aprendendo com nossos erros. O pior é ficar parado com medo de errar e isso, convenhamos, além de não ser a minha cara, não é nada “roquenrou”.
Você não fica incomodado de ter que eventualmente responder mais perguntas sobre seu posicionamento político do que sobre sua música?
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Eu sempre estive envolvido em discussões sobre política, sou um cidadão. Nunca houve uma variação relevante na minha conduta.
Como você acha que passará para a história da música brasileira?
Não tenho tempo para pensar em coisas desse tipo. Tenho muito a fazer. Agora é que estou começando a ter a devida maestria e a excelência que tanto me exigi durante toda a minha vida. Agora é que aprendi a cantar direito, a tocar muito bem guitarra e a dominar uma boa gama de instrumentos. Agora é que estou dominando com tranquilidade as minhas técnicas de composição, tanto de música como letra. Me preparei para isso por mais de 10 anos. Agora que vai começar a festa.
Agende-se
O quê: shows da turnê Sem Filtro em SC
Quando: hoje em Itajaí, às 21h, no Teatro Municipal de Itajaí (Rua Gregório Chaves, 111, Fazenda). Amanhã em Blumenau, às 21h, no Teatro Carlos Gomes (Rua XV de Novembro, 1.181, Centro). Sábado em Joinville, às 21h, no Let It Be Pub (Rua Visconde de Taunay, 586, Atiradores). Domingo em Florianópolis, às 20h, no Teatro Ademir Rosa – CIC (Avenida Governador Irineu Bornhausen, 5.600, Agronômica)
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Quanto: valores variam de R$ 35 (meia) a R$ 80, à venda no Blueticket Para o show de Joinville, no Zum Schlauch (Rua Visconde de Taunay, 555). Para as apresentações de Blumenau e Florianópolis, Assinantes do DC e acompanhante têm 50% de desconto com o cartão do Clube do Assinante