Formado em Medicina em 1974 e integrante do corpo clínico do Instituto do Coração, do Hospital das Clínicas da Fmusp, em São Paulo, o cardiologista Roque Savioli se especializou no coração feminino e acaba de publicar o livro Um Coração de Mulher. No livro, aborda, além do coração, as questões psíquicas e espirituais que afetam as cardiopatias. A seguir, trechos da entrevista que Roque concedeu ao Donna.

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Por que as mulheres morrem mais do coração?

A partir da menopausa, a mulher perde a proteção dos hormônios femininos, grandes aliados do coração. Somam-se a isso os problemas do mundo moderno, como a obesidade (de 40% a 50% das pessoas estão acima do peso) e a hipertensão, uma assassina silenciosa. Muitas vezes o único sintoma é a morte ou o infarto. Os brasileiros são mal educados com relação à hipertensão. Muita gente só toma remédio quando a pressão sobe. Há ainda o estresse e o sedentarismo. A junção destes fatores faz com que a mulher corra mais riscos de sofrer um AVC ou um infarto.

O coração feminino é mais frágil?

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As coronárias (veias do coração) das mulheres são menores do que as dos homens, portanto, ficam mais rapidamente obstruídas. Acho que Deus sabia disso quando criou os hormônios femininos. Até a menopausa o coração feminino é mais forte do que o masculino. Depois, fica mais suscetível às cardiopatias.

O senhor escreve que somos feitos de três dimensões – física, espiritual e psíquica. Qual o peso de cada uma para a saúde do coração?

Saudável é aquele que tem equilíbrio entre corpo, mente e espírito. Não há como medir o peso da espiritualidade na saúde de alguém, só sei que não podemos ficar sem ela. Sobre as doenças psíquicas, cito a depressão. Estudos comprovam que 20% das infartadas apresentavam sintomas de depressão. Há indicações de que a depressão, com a baixa da serotonina, aumenta a atividade das plaquetas, responsáveis pela coagulação do sangue, facilitando a trombose. A depressão tomou o lugar da hipertensão na lista de componentes de risco para o coração, atrás do colesterol e do cigarro.

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Como curar o espírito?

Desenvolvendo a espiri-tualidade. Cada um tem que encontrar a sua forma de conversar com Deus e buscar o sagrado. Pode ser uma religião ou até a natureza.

O senhor cita os sete pecados capitais como sendo as doenças espirituais. E diz que a soberba é a mãe de todas elas? Por quê?

Cuidar da mente e do espírito não significa negar o remédio. A soberba, muitas vezes, faz com que as pessoas não acreditem no tratamento proposto pelo médico. Ao final de cada consulta, pergunto ao paciente se acredita em Deus ou se tem fé. É nessa hora que ele se abre. A partir daí, consigo conhecer, de fato, o paciente e praticar a medicina como arte da cura.

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As mulheres têm fama de serem mais emotivas. Isso é bom para o coração?

A paixão é fantástica e só faz bem ao coração. O que não pode é desandar para ansiedade. Daí, faz mal.