A história da Escola Técnica Tupy começa em um trem, a 990 metros acima do nível do mar. Não fosse esse passeio, Sylvio Sniecikovski, hoje com 84 anos, poderia ter permanecido na cidade passou boa parte da vida, Curitiba, e não se tornaria professor de matemática do Bom Jesus nem o homem que deu corpo e alma aos primeiros anos da Escola Técnica Tupy (ETT), atual UniSociesc. Ele veio para Joinville porque Úrsula disse sim para a história que começara na primeira vez em que se viram na viagem sobre trilhos, rumo às aventuras do parque Vila Velha, em Ponta Grossa, no Paraná.
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Úrsula viajava com um grupo de amigos. Planejava escalar montes cheios de pedras. Enquanto ela vivia nas alturas, Sylvio era sensatez e pés no chão.
– Ele sempre foi muito introvertido e eu sou extrovertida. Ele é muito sério e eu falo muita bobagem – compara Úrsula, depois de 62 anos de convivência.
– Depois de tanto tempo, a gente ficou parecido. Aprendi a ser mais ordeira e responsável.
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Mas Sylvio disse que só viria para Joinville dar aulas de matemática se ela aceitasse se casar.
– A coisa que mais me impressionou foi quando a gente se conheceu. Achei ele um pouco estranho e perguntei: o que foi? Ele respondeu: meu cachorro morreu. Pensei que ele deveria ser uma pessoa muito boa – diz ela, sobre a primeira impressão que teve do então futuro marido. A história de amor se consolidou no sim respondido ao altar dois dias antes da mudança para o solo catarinense.
A jornada do professor e a história da ETT são contadas no livro escrito por Francisco Britto, Sonhar faz Bem, que será lançado hoje, às 17h30, no auditório da UniSociesc. O evento é fechado para convidados, mas o livro estará à venda em livrarias da cidade por R$ 30.
Uma prova de fogo
Sentado à mesa de jantar, com as mãos inquietas sob o tampo, é que Sylvio Sniecikovski definiu com a ex-aluna Giane Bracelo, que atua na comunicação corporativa da UniSociesc, como seria o livro que conta a sua história e da Escola Técnica Tupy (ETT).
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Segundo ele, o grande papel de sua vida foi dirigir a ETT, criada em 1959. Mas ainda em 1953, aceitou o convite de Anna Harger, diretora do Bom Jesus, para dar aulas de matemática.
Foi a partir desta prova de fogo que foi convidado por Hans e Raul Schmidt, donos da Fundição Tupy, para liderar o projeto da escola: formar profissionais capacitados para trabalhar na fundição era um dos principais objetivos da instituição de ensino.
Sob a liderança de Sylvio – que dirigia e lecionava matemática, física e desenho – foi criado o primeiro centro de tecnologia, com laboratórios para o desenvolvimento e a criação de produtos.
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A amiga Estrela
Sylvio Sniecikovski sempre gostou de animais, mas depois da morte de um deles, decidiu que não teria mais nenhum mascote em casa. De mansinho, uma vira-latas que ganhou o nome de Estrela, amoleceu o coração de Sylvio e sua mulher e foi ficando.
Sylvio se transformou diante de Estrela. Assim como algumas decepções, segundo contou Úrsula, podem ter acendido o pavio de sua doença – um mal chamado Parkinson -, o contato com Estrela passou a ajudar no controle dela. Desde que começaram de forma mais aguda os sintomas, Sylvio evita aparecer em público.
Legado para as novas gerações
Se hoje Joinville é referência em educação de qualidade, muito se deve ao trabalho do professor Sylvio Sniecikovski. Assim considera o atual Secretário da Educação Roque Antônio Mattei. A cidade lidera a lista do Ideb no ensino fundamental em Santa Catarina. Depois de plantar e ver crescer a semente da Escola Técnica, a qual ficou vinculado até 1989, Sylvio fez parte do Conselho Estadual de Educação até se tornar Secretário da Educação, entre 1997 e 2008.
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– É uma responsabilidade muito grande de manter e continuar melhorando o que já foi plantado – considera Mattei.
– Tenho orgulho de ter uma Secretaria de Educação tão bem embasada na cultura da qualidade e do bem feito.
Além da secretaria, como diretor da Escola Técnica Tupy (ETT), Sylvio entregou talentos ao Estado. Um dos quatro alunos formados na primeira turma, em 1962, não voltou trabalhar na Fundição Tupy, mas foi o responsável pela criação do curso de engenharia de materiais, atrelado ao de engenharia mecânica na Universidade Federal de Santa Catarina, em 1999.
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– Hans Dieter não queria quantidade, queria qualidade – argumentou o aluno da primeira turma e professor aposentado da Ufsc, Berend Snoir.
Poucos resistiam à rotina de trabalhar na fábrica e ter um desempenho escolar exemplar. A ETT não aceitava reprovações.
Quem se formou na escola da fundição, como Berend, passou direto no vestibular para a federal. Talvez pela orientação da direção, que colocava os alunos no centro de tudo. Durante a trajetória como professor da Ufsc, Berend levou consigo a experiência na ETT.
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O reitor da UniSociesc, Sandro Murilo Santos, ressalta que o papel do professor Sylvio na equipe de criação da ETT foi fundamental para a definição da cultura e valores que são seguidos até hoje.
– O professor Sylvio, apoiado pela sua equipe, criou uma instituição de ensino técnico de excelência, referência no Brasil pela qualidade na educação humana e profissional.
O autor de outro sonho
Francisco Britto tem oito livros publicados na área de empreendedorismo. Em Sonhar faz Bem, Sylvio Sniecikovski é o personagem central da história, que não segue o tempo cronológico ao contar a experiência da ETT.
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– Na obra, retrato o quão visionário o pessoal da Tupy foi ao pensar em fazer uma escola técnica em Joinville – diz Britto.
Giane Bracelo, que atua na comunicação corporativa da UniSociesc, acompanhou o projeto de perto e sugeriu o texto de Francisco como ideal para contar a história de forma sucinta e divertida. Sylvio não queria uma obra de centenas de páginas. Sonhar faz Bem é um livro que, de acordo com o autor, mostra empreendedorismo, paixão e um pouco de aventura, porque “criar uma escola técnica, naquela época, sem referências nacionais foi um ato de ousadia”.