Quando Hilma Elisabeth Reimer chegou a Joinville para passar seus últimos anos ao lado da filha, trouxe na bagagem um pequeno tesouro. A viúva do escultor sueco August Ferdinand Frick tinha trechos de jornais brasileiros e estrangeiros do início do século 20 colados e encadernados com minúcia. Misturados aos álbuns da família, os documentos revelavam a atuação do artista no projeto da Catedral da Sé, localizada no Centro de São Paulo, que ficaram por décadas guardados até ganhar um novo destino: as prateleiras das livrarias.
Continua depois da publicidade
Quem desenterrou o tesouro e o publicou no livro Obras do Escultor F. Frick na Catedral da Sé foi o escritor Wilson Gelbcke. A ideia de usar os registros para contar a trajetória artística do sueco que construiu família e carreira no Brasil brotou no ano passado, coincidentemente quando se completou cem anos da chegada dele ao país.
— Estávamos em um jantar de amigos, na casa de Carmen (neta de Frick), quando passamos a falar sobre as obras de Frick e chegamos até os registros — conta Gelbcke.

Em 20 anos de trabalho, 18 imagens esculpidas
Continua depois da publicidade
A vontade de compartilhar o rico material jornalístico e fotográfico dividiu espaço com a inquietação de constatar que Frick é pouco reconhecido mesmo sendo autor de grande parte das esculturas que integram a Catedral da Sé, trabalho que motivou o adeus ao seu país de origem.
A princípio, ele chegaria a São Paulo apenas para concluir a maquete da nova igreja, em 1913. Porém, o rascunho tridimensional do projeto arquitetônico assinado por Maximilian Hehl foi tão elogiado que Frick foi convidado também a executar as esculturas de profetas e evangelistas previstas.

Foram 20 anos de dedicação à construção e 18 figuras esculpidas após muito trabalho de pesquisa. Além das imagens dos profetas Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel e dos evangelistas São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João na entrada principal da Catedral, o livro revela que Frick é autor das esculturas internas de Santo Anastácio, São Cirilo, São Gregório Nazianzeno, São João Crisóstomo, Santo Ambrósio, São Jerônimo, Santo Agostinho e São Gregório Magno, assim como dos ornamentos no arco do portal e nos capitéis.
Continua depois da publicidade
Paralelamente ao trabalho na Sé, Frick deixou obras públicas por todo o Estado de São Paulo – muitas delas encontradas com a ajuda do material que cuidadosamente organizou durante a vida. Algumas esculturas de pequeno porte também podem ser encontradas na lista de grandes casas de leilão. Cinco obras ficaram de herança para a filha única, Vera Ingrid, hoje com 94 anos, e as netas Sônia e Carmen, que vivem em Joinville.
Vida no Brasil
August Ferdinand Frick chegou em São Paulo aos 35 anos, em 1913. Cinco anos depois conheceu a primeira esposa, Vera Augusta, que faleceu durante o parto da única filha do escultor, Vera Ingrid, hoje com 94 anos. Quando a primogênita ainda era criança, Frick se casou com a alemã Hilma Elisabeth Reimer, com quem dividiu a vida até morrer, em 1939.
A família veio para Joinville depois que Vera Ingrid se casou com um farmacêutico joinvilense. O casal morou em São Paulo até Carmen, a filha mais velha, completar seis meses. Então, se mudaram definitivamente para Santa Catarina. Após a morte do escultor, Hilma também chegou a morar em Joinville para ficar aos cuidados da filha.
Continua depois da publicidade
– Eu não conheci meu avô, mas lembro que minha avó sempre contava as suas histórias. Até então não tínhamos cogitado publicá-las – conta Carmen.
Além das obras, Frick também deixou como legado uma casa construída do bairro paulistano Vila Mariana. O imóvel foi tombado e desde 2003 abriga um centro cultural.
O quê: lançamento do livro Obras do Escultor F. Frick na Catedral da Sé, de Wilson Gelbcke
Quando: terça, às 19h30
Onde: Livraria Midas (Rua Dr. João Colin, 475, Joinville)
Quanto: o livro estará à venda por R$ 30