As mãos que se bastavam a ler as folhas brancas com pontos salientes agora orgulham-se de escrever os textos que estão no livro Dedos que Leem: Crônicas e Poesias, que será lançado nesta sexta-feira, em pleno Dia Nacional do Braille, às 19h, no Auditório Carlos Jardim da Fundação Cultural de Blumenau (FCB). As crônicas e poesias de 44 autores, cegos ou com baixa visão, foram selecionadas durante o concurso nacional Dedos que Leem, inédito no Brasil segundo os organizadores, e que teve 100 participações de vários estados e do Distrito Federal.
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Com textos em braille e em tinta, a obra contempla um público que nem sempre se sentia incluído nas histórias que lia, e valoriza a criatividade e o talento de escritores, em sua maioria, desconhecidos:
– É importante ser protagonista da própria história. Pode ser que para algum literato as obras não sejam significativas, mas para quem escreveu e vai ter um exemplar em casa é algo muito importante – destaca a voluntária e professora de audio-descrição da Sociedade Cultural Amigos do Centro Braille de Blumenau (ACBB), Yara Luana Ionen, que foi uma das entusiastas do projeto.
A estudante de Teologia Larissa Gebien, que escreve desde a adolescência, terá um texto publicado pela primeira vez. Ela não sabe qual foi selecionado para o livro e nem se foi apenas um, pois mandou vários, e elogia a iniciativa. Apesar de estar no meio acadêmico e de ter acesso a todo o material que precisa, ela diz que a oferta das editoras para deficientes visuais ainda é baixa.
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Ideia surgiu em 2015 e ganhou força nacional
Totalmente cega, a jovem de 18 anos é adepta de uma escrita livre, como ela mesma define. Larissa redige crônicas e poesias, mas sem muita formalidade do gênero.
– Escrever é uma forma de desabafar, de falar algo sobre o cotidiano, de expressar o que desejo – considera.
A ideia do livro surgiu no ano passado e surpreendeu quando ganhou força nacionalmente, de Norte a Sul do país. Para se ter ideia, mais de 100 pessoas mandaram textos e entre os selecionados estão autores do Pará, Ceará, Goiás, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. No total 144 exemplares serão impressos, 60 deles ficarão no Centro Braille e cada autor levará dois livros para casa.
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Eliane Luchini, presidente da ACBB e brailista há 35 anos, reforça que o projeto retrata a verdadeira inclusão, que deveria ser frequente no país:
– Dar esta oportunidade é incrível, como as crônicas e poesias são impressas em braille e tinta todos podem ler e isso sim é incluir as pessoas – ressalta.
Além do lançamento hoje na FCB haverá uma apresentação musical dos Amigo da Canção, com artistas cegos, e história do braile com a pedagoga Luana Tilmann.
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Serviço
Lançamento do livro Dedos que Leem: Crônicas e Poesias
– Na Fundação Cultural de Blumenau.
– Grátis
– Nesta sexta-feira, às 19h
Dia Nacional do Braille
A data de 8 de abril, em vigor desde 2010, foi escolhida em homenagem ao dia de nascimento de José Álvares de Azevedo, o primeiro professor cego brasileiro. Deficiente visual desde o nascimento, ele estudou o método em Paris. De volta ao Brasil, passou a ensiná-lo e a difundi-lo, e recebeu o título de Patrono da Educação dos Cegos no Brasil.
Fonte: Associação Dorinal Nowill para Cegos