No início do século 20, Altona era um termo carinhoso usado para se referir a um bairro blumenauense que, mais tarde, seria batizado de Itoupava Seca. Conhecida na época pela independência econômica, principalmente no setor metalmecânico, em 1933 a região também emprestou o nome para uma das empresas mais tradicionais da cidade até hoje: a Electro Aço Altona. Quase cem anos depois, um livro viabilizado pela fábrica em parceria com o Fundo Municipal de Apoio à Cultura e a EdiFurb vai revisitar, através do olhar do professor alemão Max Humpl, a história das primeiras levas de imigrantes que desembarcaram no Vale do Itajaí.
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Escrita originalmente na grafia sütterlin, utilizada na Alemanha entre 1915 e 1970, a obra Crônica Do Vilarejo De Itoupava Seca: Altona desde a Origem até a Incorporação à Área Urbana de Blumenau será lançada nesta quarta-feira. O manuscrito, finalizado em 1918, foi doado pela família Humpl ao Arquivo Histórico de Blumenau e acabou nas mãos da historiadora Méri Frotscher e do mestre em Letras Adriano Steffler, que fizeram a tradução – primeiro para o alemão contemporâneo e depois para o português – com a ajuda do alemão Johannes Kramer.
– É um projeto realizado com muito carinho por uma equipe que tinha como objetivo fazer jus ao trabalho de Humpl, que não pôde ver a publicação em vida. Para nós é uma grande felicidade deixar à disposição tanto dos leigos quanto dos pesquisadores uma fonte tão histórica – comenta Méri.
Acompanhado de farto material fotográfico cedido pelo Arquivo Histórico – as fotografias e aquarelas originais do manuscrito foram queimados no trágico incêndio que atingiu a Fundação Cultural em 1958 -, o livro mostra o surgimento da cidade por meio de fatos e curiosidades já esquecidos.
Também fazem parte da crônica biografias e árvores genealógicas dos moradores, além de descrições vívidas da flora, fauna, geografia, política, religião, esporte e cultura de Altona.
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– Estou no Arquivo Histórico há muitos anos e me incomodava ver aquele livro grande, de letra bonita, bem organizado e que eu não conseguia ler. A obra traduzida tem uma leitura agradável e nos mostra a Blumenau daquele tempo de uma forma muito precisa. O povo ganha uma preciosidade, e nós, pesquisadores, um novo olhar sobre aquela região e o processo de povoamento da cidade – diz Sueli Petry, diretora do departamento histórico e museológico da Fundação Cultural de Blumenau.
Manuscritos aguardam tradução no Arquivo Histórico
Além do material documentado pelo professor alemão Max Humpl em 1918, outras dezenas de arquivos nas grafias sütterlin e gótica dos séculos 19 e 20 estão à espera de tradução no Arquivo Histórico de Blumenau. Mas a demanda esbarra na falta de mão de obra especializada. Segundo Sueli Petry, diretora do departamento histórico e museológico da Fundação Cultural, não há nenhum tipo de projeto específico para viabilizar esse tipo de trabalho, é tudo feito no improviso:
– Hoje contamos apenas com voluntários que sabem ler e interpretar o alemão gótico e eventualmente se disponibilizam para ajudar o arquivo. São pessoas que deixam o lazer de lado para se dedicar à memória da cidade.
Entre os arquivos doados (e cuidadosamente guardados em uma gaveta na sala da própria Sueli), preciosidades como diários de família, antigas correspondências e até cadernos de receitas remontam a vida de quem habitou Blumenau naquela época. De acordo com Sylvio Zimmermann, presidente da Fundação Cultural, não há em vista a criação de um núcleo dedicado à captação de profissionais que possam viabilizar as traduções:
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– Nossa missão é cada vez mais preservar e digitalizar os materiais. O ideal seria ter um programa só para isso, mas não é nossa prioridade agora.
Escritor, professor de Letras da Furb e editor executivo de Crônica do Vilarejo…, Maicon Tenfen conta que já houve algumas tentativas, tanto de membros da universidade quanto da Fundação Cultural, de criar um projeto do tipo:
– Infelizmente, nenhum desses projetos vingou. Agora, graças a Méri Frotscher, podemos ler o texto de Max Humpl. É uma forma de entender como pensavam os primeiros habitantes da região, os pioneiros, o pessoal que projetou a cidade, com erros e acertos, para que ela fosse o que é hoje.