Em 31 anos de profissão, o pediatra carioca Ricardo Lopes Pontes, 55 anos, diz ter ouvido de tudo em seu consultório. Quase todos os dias, segundo o especialista, aparece diante dele uma grávida atormentada por alguma superstição que alguém de sua convivência jura ser verdadeira.
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Há quem garanta, por exemplo, que basta colocar um algodão na testa do recém-nascido para que o soluço pare. Ou que cortar o cabelo do bebê muito cedo pode comprometer a qualidade dos fios no futuro. Será mesmo?
– Sempre pensei em botar tudo isso num livro para que as gestantes pudessem saber as respostas corretas, mas nunca consegui – diz Pontes.
A oportunidade surgiu no final de 2009, durante uma conversa com a jornalista Ana Paula Brasil, que havia acabado de ter um bebê e era sua paciente. Foi ela, segundo o médico, que sugeriu a parceria. O resultado está nas livrarias: é o livro Barriga Redonda, Barriga Pontuda: Derrubando Mitos, Crendices e Superstições sobre a Gravidez.
Se você é mãe e ficou curiosa, confira a seguir algumas das crenças populares elencadas na publicação.
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Barriga redonda é menina, barriga pontuda é menino
Se você é mãe, certamente já ouviu essa. Mas será mesmo que pode ser levada a sério? Segundo os autores do livro, não existe qualquer relação entre o formato da barriga e o sexo do bebê. A única associação possível em relação à forma da barriga, conforme Pontes e Ana Paula, se refere à posição do feto no útero. E isso costuma mudar durante a gravidez.
Grávida não pode pintar o cabelo
Não existe, segundo os autores, um estudo definitivo sobre o assunto. Alguns médicos dizem que não há riscos em pintar o cabelo após o terceiro mês. O que fazer então? As substâncias químicas usadas nesses produtos podem ser absorvidas pelo couro cabeludo. É pequeno o risco de intoxicação do bebê, mas ele existe. Aí você pergunta: “E as unhas, posso pintar?” Os autores respondem: sem problemas. O esmalte é apenas depositado sobre elas. Não é absorvido.
O bebê nasceu prematuro porque a mãe arrastou móveis em casa
Fatores internos e externos podem levar a um parto prematuro. Entre eles, pressão alta, infecções, uso de drogas e esforço físico exagerado. Mas como saber se o esforço que você faz é exagerado? Tudo depende, afirmam Pontes e Ana Paula, do seu preparo físico. Se você é uma triatleta e arrasta um berço, exemplificam eles, nada deve ocorrer com o bebê. Se é sedentária e, no oitavo mês de gravidez, resolve empurrar uma cômoda cheia de roupas, é arriscado.
Grávida tem de comer por dois
Segundo os autores do livro, essa desculpa não cola mais. Os médicos costumam ser rigorosos com o peso da gestante. Se engordar demais, ela pode correr o risco de ficar hipertensa ou diabética. Não é bom para ela nem para o bebê.
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O bebê deve mamar logo que nasce
Segundo os autores, não necessariamente. O mais comum, explicam, é que o bebê primeiro seja visto pelo pediatra. Além disso, é recomendado esperar algumas horas para que a temperatura e a respiração do recém-nascido se adaptem às condições externas. Em geral, o bebê mama de três a quatro horas após o nascimento.
Algodão molhado na testa da criança cura soluço
Pontes aposta:
– Um dia você vai chegar em casa e encontrar seu bebê com um chumaço de algodão na testa. A babá, a avó, quem quer que esteja com ele vai garantir a você que o algodão é praticamente mágico. Não é.
O soluço é um movimento involuntário do diafragma e passa quando a musculatura se acalma. Se o algodão estiver na testa, será pura coincidência.
No início, o bebê não enxerga
Na verdade, ele enxerga mal – já que o sistema de visão ainda não está completamente formado. É como se o que vissem fosse uma foto desfocada e com cores lavadas, desbotadas. Só no terceiro mês, em geral, a criança consegue reconhecer pessoas e objetos.
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Se começar a cortar muito cedo, o cabelo fica ruim
Não é verdade. Segundo os autores, os cabelos são determinados por genes de manifestação tardia. Cor e textura, ressaltam eles, mudam nos primeiros anos e só adquirem aspecto mais permanente na pré-adolescência.