Trata-se de um livro de caráter biográfico sobre o maior pintor catarinense e um dos mais importantes do Brasil no século 19, Victor Meirelles de Lima (Desterro, 1832 – Rio de Janeiro, 1903), que junto ao paraibano Pedro Américo (Areia, 1843 – Florença, 1905) foi expoente da pintura histórica durante o Segundo Império. Victor Meirelles – Biografia e Legado Artístico será lançado em Florianópolis nesta quinta-feira, na Fundação Cultural Badesc.

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Terezinha Sueli Franz, que é doutora em Belas Artes e professora de Artes Visuais, esmiúça a sociedade em que o artista viveu e surpreende com um amplo panorama daquele contexto. Nos tempos em que as informações chegam truncadas dada a velocidade da sociedade do conhecimento e das mídias sociais, ler um livro com tal densidade de pesquisa documental e iconográfica é como um oásis de seriedade pelo respeito à memória artística inserida na história de Desterro, do Brasil e da América Latina.

Contrariando as biografias existentes, apresenta o menino Victor como bem-nascido, no seio de uma família de negociantes, vinculada ao poder estabelecido. O livro traz ainda o seu primeiro professor de desenho, o argentino Mariano Moreno (1805-1876), que permaneceu exilado na Ilha de Santa Catarina entre 1838 e 1852.

Lê-se também sobre o amor misterioso e delicado do pintor por Flávia Minervina e seu casamento, seis anos após a morte dela, com a viúva Rozália Ferreira França, que já tinha um filho, Eduardo França.

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O artista, que recebeu o Prêmio Viagem de Estudos, partiu de sua cidade natal aos 14 anos para a Europa, onde recebeu sólida formação artística durante oito anos. Ao final da vida viveu com recursos parcos, devido ao abandono do Estado. A República que se instaurava negou tudo o que se referia ao Império, incluindo um dos seus mais importantes pintores. Ele – que foi professor de desenho da Princesa Isabel, autor de obras icônicas como a Primeira Missa no Brasil (1860) e que em idade avançada produziu os três grandes panoramas – Panorama da Cidade do Rio de Janeiro (1888), Entrada da Esquadra Legal no Porto do Rio de Janeiro (1896) e Panorama do Descobrimento do Brasil (1900) – veio a falecer em fevereiro de 1903, em total abandono.

Dimensão não explorada

A obra e a pesquisa trazem um olhar investigativo para os estudiosos e amantes da pintura de Victor Meirelles. Entre as muitas informações sobre sua família, sabe-se agora que ele teve um irmão, Virgílio, 19 anos mais novo, e que junto com a mãe, Maria da Conceição, foi residir no Rio de Janeiro na década de 1860. A atenta descrição do seu tempo na terra onde nasceu transmite uma sensação de maior intimidade com os passos que seguiu em sua jornada.

A pesquisadora não fecha os olhos a um aspecto que não aparece nas biografias anteriores do artista: a sociedade escravocrata de então. A imersão no contexto da escravidão aproxima sua obra aos escravos da família, que aparecem no inventário de seu pai em 1853. Trata-se de uma possível doação de uma de suas pinturas para a Irmandade da Igreja do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos em Desterro.

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Neste aspecto o livro ganha uma nova dimensão. Considero-o o multitemático. Como o são as obras dos grandes artistas. Eles olham além da mera aparência.

Sobre a obra

Victor Meirelles – Biografia e Legado Artístico (2014). De Teresinha Sueli Franz. Caminho de Dentro Edições. 304 págs. R$ 59 (R$ 40 no lançamento)

Agende-se

O quê: lançamento do livro Victor Meirelles – Biografia e Legado Artístico, de Teresinha Sueli Franz

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Quando: quinta-feira, às 19h

Onde: Fundação Cultural Badesc (Rua Visconde de Ouro Preto, 216, Centro, Florianópolis)

Quanto: gratuito

Informações: (48) 3224-8846