Doutoranda em Antropologia Social pela UFSC e integrante do grupo musical Cores de Aidê, Cauane Maia transformou sua dissertação de mestrado em livro: Vozes Negras Em Florianópolis: Escrevivências Antropológicas Do Morro Das Mulheres (Appris Editora) parte das vivências e experiências dos moradores do Pastinho, localizado próximo à cumeeira do Morro da Caixa/Monte Serrat, em Florianópolis, para mostrar o protagonismo da população negra, sobretudo das mulheres.

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– Lá, identifiquei mulheres atuantes, lideranças femininas. É o Morro das Mulheres Negras, e essa é a grande novidade do meu trabalho – explica Cauane. – Trabalhei com o conceito de escrevivências, de Conceição Evaristo: abri mão de técnicas tradicionais de pesquisa e enveredei para as escrevivências para trazer as vozes dessas mulheres. A própria comunidade já produzia cadernos de memórias, porque ninguém contava histórias do morro. Esses materiais recuperam como aquele lugar se formou, as grandes personalidades, e as mulheres estavam sempre ali como importantes lideranças. Eu queria entender, escrever essas vivências e experiências por essa perspectiva da memória, da contação de história, de recuperar o passado, com o viés antropológico.

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Uma das comunidades que compõem o Maciço do Morro da Cruz, a história do Morro da Caixa/Monte Serrat remonta ao período da escravidão, ao higienismo proposto pelo projeto urbanístico da cidade na década de 1920, quando o projeto de modernização e urbanização criou estratégias para “limpá-la” e torná-la mais “civilizada”; e ao desenvolvimento da construção civil, entre as décadas de 1950 e 1960. Também foi um ponto estratégico para as lavadeiras desalojadas do Centro no começo do século XX, por possuir córregos e fontes de água.

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Hoje, a comunidade é uma das referências na luta antirracista e na organização comunitária. Também se destaca pela participação das mulheres em momentos importantes da construção da comunidade – fato que chamou a atenção da autora, que recupera histórias de antigas moradoras como Dona Uda, que assumiu a presidência da Embaixada Copa Lord em 1984, após a morte do esposo, gestor da escola de samba. A história da Dona Uda é uma das que se misturam à formação da própria comunidade, por conta de sua atuação não só na Copa Lord, mas também na escola, na associação de mulheres, no conselho comunitário e na igreja local. Ela, inclusive, foi uma das entrevistadas da autora durante a pesquisa.

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Por conta da pandemia, o lançamento oficial do livro será diferente. Entre as ações criadas por Cauane para marcar o momento está o lançamento de um vídeo, gravado na própria comunidade – veja abaixo:

No dia 5 de maio, também haverá uma live em parceria com o Portal Catarinas: Cauane baterá um papo com a jornalista Paula Guimarães a partir das 19h, no Instagram. O livro já está disponível em versão impressa e e-book. A capa tem ilustração assinada pelo artista de Florianópolis Bruno Barbi.

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