A Fundação Cultural Badesc promove neste sábado (22) a Diversa Cultural, uma das atividades do Mês da Diversidade de Florianópolis. Estão previstas expressões artísticas ligadas a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais sobre temas relacionados às identidades e manifestações político-corporais.

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Uma das atrações (confira a programação completa) será o lançamento do livro Bicha (Nem Tão) Má – LGBTs em Telenovelas. Para escrevê-lo, a jornalista Fernanda Nascimento pesquisou todas as narrativas exibidas pela Rede Globo de 1970 a 2013. No estudo, a autora conclui que as personagens enfocadas têm uma sexualidade mais regulada do que as heterossexuais e/ou cisgêneras (pessoas que se identificam com o mesmo gênero designado ao nascimento). Por e-mail, ela respondeu as perguntas abaixo:

Do primeiro personagem LGBT abordado em seu livro ao mais recente, o que mudou na forma de retratá-los?

Ao longo destas quatro décadas as mudanças foram inúmeras. A vivência de relacionamentos se amplificou, o reconhecimento de direitos sexuais – como o casamento e a adoção – se tornou pauta de novelas, assim como o reconhecimento da necessidade de combate ao preconceito e à discriminação.

Veiculou-se que o relacionamento entre as personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg em Babilônia foi muito rejeitado pelo público, o que teria feito o autor diminuir a participação das duas na trama. Há outros casos similares?

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Em diversos momentos as personagens foram alteradas em decorrência de uma alegada rejeição do público. Torre de Babel (1998) é a trama mais emblemática neste sentido, na medida em que as personagens Leila (Silvia Pfeifer) e Rafaela (Christiane Torloni) foram eliminadas em uma explosão de shopping center. Tivemos outros momentos, não com a retirada completa, mas com a diminuição da participação, como Filipinho (Josafa Filho), de Sangue Bom (2013).

Até quando você acha que “beijo gay” em novela ainda vai provocar tanta polêmica?

A tendência é de que esta polêmica se dissipe ao longo dos anos. Após o beijo em Amor à Vida, todas as narrativas das 21h já apresentaram cenas neste sentido – a maioria aconteceu no fim das novelas e, também por isso, o beijo entre Teresa e Estela tenha sido amplamente comentado. Talvez as próximas polêmicas sejam em relação às cenas de mais intimidade entre LGBTs, que ainda não apareceram nas tramas.

126 personagens LGBTs em 62 novelas foram identificados pela autora no livro, sendo: ? ? 76 homens homossexuais

? 24 lésbicas

? 13 homens bissexuais

? 3 mulheres bissexuais

? 8 mulheres transexuais

? 1 travesti

? 1 personagem com identidade de gênero e orientação sexual indefinida (Sarita Vitti, interpretada por Floriano Peixoto em Explode Coração, em 1995)

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Personagens mais marcantes

Félix (Mateus Solano), em Amor à Vida (2013) – “Antagonista de uma narrativa, responsável por ampla visibilidade das temáticas de gênero e sexualidade, protagonista do primeiro beijo homossexual e também do primeiro triângulo amoroso entre homens das novelas.”

Sandrinho (André Gonçalves) e Jefferson (Lui Mendes), em A Próxima Vítima (1995) – “Primeiro casal LGBT inter-racial das tramas. A intolerância com a personagem extrapolou a televisão, e André Gonçalves foi agredido na rua.”

Leila (Silvia Pfeifer) e Rafaela (Christiane Torloni), em Torre de Babel (1998) – “Por ter sido retirado da trama, em decorrência de uma alegada rejeição do público.”