Os dados de 2012 do Mapa da Violência, do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, reafirma o destaque do Litoral Norte no cenário da criminalidade em Santa Catarina e, em alguns índices, em todo o Brasil. As estatísticas, divulgadas nesta quarta-feira, colocam Camboriú no topo do ranking de homicídios no Estado naquele ano – com a companhia de outras três cidades da região entre as 10 primeiras da tabela. Entre os assassinatos de jovens, Camboriú também aparece na liderança da lista catarinense, com 22 do total de 32 mortes.
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Comandante do 12º Batalhão da Polícia Militar, de Balneário Camboriú, o tenente-coronel Marcello Martinez Hipólito admite que a situação em 2012 era crítica na região de Camboriú, mas aponta que desde o ano passado os índices vêm caindo muito em razão do Projeto Camboriú Mais Segura, lançado em março de 2013. O trabalho é uma parceria entre PM, Polícia Civil, prefeitura de Camboriú, Assistência Social, Conselho Comunitário de Segurança e a comunidade, com ações não só repressivas, mas também preventivas.
– É preciso ter esse equilíbrio, reforçar o fluxo de informações com os órgãos não-repressivos e ter novos olhares sobre a segurança, que vão além do policial. Conseguimos estabelecer um trabalho permanente em Camboriú e agora vamos fazer isso também em Balneário – diz Hipólito.
Sobre as causas da violência acentuada no Litoral Norte, o comandante pondera que o crescimento acelerado é um dos principais fatores. Sem acompanhar a demanda, esse desenvolvimento acaba não sendo organizado e gera dificuldades em qualquer lugar do mundo, na visão de Hipólito. Para ele, a política pública de aparelhar as pequenas cidades com todo tipo de oportunidade e serviço para evitar o êxodo rural é uma alternativa para manter a situação sob controle.
– O preço que se paga pelo crescimento acelerado, ao redor do mundo, é a criminalidade – afirma.
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Jovens
Conforme o tenente Guilard, da PM de Camboriú, a região dos bairros Monte Alegre, Tabuleiro e Conde Vila Verde é a que concentrava o maior número de homicídios em 2012 e continua sendo o foco dos trabalhos em 2014. A violência nestas áreas afeta principalmente os jovens, diversas vezes envolvidos em situação de vulnerabilidade. Uma das operações previstas para os próximos meses é, juntamente com o Conselho Tutelar, bombeiros e outros órgãos sociais e de segurança, vistoriar bares no Monte Alegre para identificar fatores de risco e verificar as documentações dos estabelecimentos.
– Sabemos que na questão dos jovens o envolvimento com as drogas é alto. Neste ano já estamos fazendo uma experiência com o Proerd (programa de combate às drogas da PM), continuando o projeto com turmas além do 5º ano, que é o nosso foco – comenta Guilard.
Especialista aponta formas de prevenção
Professor de criminologia, Alceu de Oliveira Pinto Junior avalia que o êxodo rural e a falta de planejamento das cidades contribuem para o aumento da criminalidade. Ele analisa que, quando falta amparo do Estado, outras situações – entre elas a violência – tomam conta do espaço.
– Isso é histórico em relação às favelas. O crescimento desordenado gera os bolsões de pobreza, num viés mais econômico, e as zonas potenciais de conflito, sob a ótica policial, que é aquele lugar em que pode se desenvolver certo tipo de criminalidade – explica.
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Como forma de prevenção, Alceu indica três caminhos. O primeiro seria justamente o planejamento público, garantindo saúde, oferta de trabalho e moradia à população, entre outras necessidades básicas. O segundo momento seria a atuação da polícia nas regiões onde a criminalidade já conseguiu entrar. Por fim, o trabalho deveria ser de evitar o retorno à criminalidade.
– Se o preso volta para o crime depois de cumprir a pena, está se alimentando o sistema prisional. É preciso acabar com o ciclo. É preciso reeducação e ressocialização para que a pessoa possa sair melhor – ressalta.
Confira outros dados do estudo: