A casa de Lair Leoni Bernardoni no Balneário de Paulas, em São Francisco do Sul, é um pequeno território cheio de tesouros. Alguns destes tesouros são aqueles que ela enterra na areia da praia em frente à casa para os netos pequenos brincarem de piratas e gritarem de alegria ao encontrar os colares que ela esconde.

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Mas outros são tesouros que ela encontrou durante a vida, em viagens e experiências que marcaram a artista e hoje preenchem a casa: nem todos são materiais, alguns estão lá, planando pelos quartos e salas, em versos e sentimentos.

Quem passa pela “rua da Ilhinha” logo percebe que aquela é a casa de alguém que enxerga na beleza a razão de existir no mundo. Se não o sente ao caminhar pela rua, ao ouvir a música que foge pelas janelas, o vê ao olhar para a casa.

Lair queria olhar para o mar. Queria ver a cidade que ama. Mandou construir um farol. As pessoas vêm de longe para ver o farol de Lair – é uma torre de verdade, para onde ela sobe por uma escada de caracol. Atrás de uma porta azul, está o mar de águas calmas da praia do Salão.

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Estão os barcos dos pescadores de Paulas, estão as gaivotas e está o horizonte. E há a poesia, para quem procura a mesma beleza que Lair buscava ao fazer um projeto “esdrúxulo” – como ela define – de casa de praia. O amor pela casa fez com que ela deixasse de ser “uma casa de sexta, sábado e domingo” para virar a casa de todos os dias.

Apesar de ter virado um ponto turístico na última década, o farol de Lair Bernardoni não está aberto à visitação. Não adianta insistir – mas um pouquinho de sensibilidade às vezes amolece o coração da dona da casa.

– Quando é uma pessoa muito amável, que conversa com você e fala ?que lindo?, nós levamos por conta -, confessa ela.

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Uma vez, ela encontrou um bilhete na caixa de correio. Ele dizia: “essa casa deve ter uma história. E as pessoas que vivem aqui devem ser muito românticas”.

O bilhete virou um dos enfeites pendurados no caminho ao alto do farol, no hall dos pequenos tesouros da vida. A mulher que o escreveu não conhecia Lair, mas a desvendou mesmo assim.

O romantismo é o facho de luz que a guia pela vida, seja nas fotos que faz ou nos poemas que escreve. É uma das heranças que São Francisco do Sul deixou na moradora apaixonada – que não é uma paixão solitária.

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Lair afirma que encontra o mesmo sentimento em todos os nascidos na ilha – em especial naqueles que a conheceram quando ainda era uma ilha. As pessoas que nasceram nos anos 30 e 40 ainda encontram na cidade um lugar que desperta uma memória muito fecunda.

– Existe um guardar, porque tudo mudou muito pouco. O centro está igual. Voltar na Carioca, sentar no Mercado Municipal… As pessoas foram embora, mas os lugares estão conservados -, conta ela.

Talvez a fotografia de Lair tenha começado ali, naquela infância cheia de sentimentos de São Francisco.

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Ela só apareceu na vida de Lair em 1982, quando a artista ia completar 45 anos, mas a poesia marcante nas imagens que ela registra já estava lá, na pele dela, como o cheiro das tangerinas que chegavam no Mercado Municipal em barcas nas tardes em que ela, ainda livre da obrigação da escola, percorria o centro da cidade ao lado do pai, o pintor e fotógrafo Kurt Guilherme Hermann.