Quando a madrugada chega, é hora de Luciana Godril, 36 anos, colocar a mão na massa. Ela faz salgadinhos para vender de porta em porta, oferecendo para encomendas. O horário escolhido para cozinhar é para garantir que a filha, Maria, de dois anos, fique longe dos produtos, mas também dos perigos: como qualquer criança desta idade, é difícil evitar que a pequena permaneça quietinha enquanto a mãe trabalha.

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Esta não é a profissão principal dela: até o nascimento da filha, Luciana trabalhava como vigilante, mas precisou deixar o trabalho durante a gravidez. Por um tempo, conseguiu equilibrar as contas da casa com o salário do companheiro e a venda de salgadinhos, mas, desde o ano passado, está procurando emprego, em uma busca frustrada.

– Perguntam se tenho filhos e se minha menina está matriculada na escola. Como não está, e não tenho com quem deixar, não consigo nenhuma vaga – lamenta Luciana.

Atualmente, há de 3 mil a 4 mil crianças em lista de espera para vagas em centros de educação infantil de Joinville. O número varia porque há, a todo momento, a efetivação de matrículas e novas inscrições de crianças todo dia. As classificações ocorrem de forma eletrônica no momento da abertura da vaga, com prioridade para crianças em vulnerabilidade social, com deficiência e de acordo com o grau socioeconômico familiar.

É isso que Luciana questiona: há dois CEIs públicos perto da casa dela, no bairro Vila Nova, mas, 40 dias depois do início do ano letivo, a pequena Maria não foi contemplada. Enquanto isso, a situação financeira da família se agravou a ponto de entrarem no Programa Bolsa-família.

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– Dizem que o critério (de seleção para as vagas) é pela carência da família, mas não sei o que mais eles querem. Vejo pessoas chegando com carrão para deixar os filhos nos CEIs, e eu, que preciso do Bolsa-família, não consigo vaga – lamenta.

A mesma indagação passa pela cabeça de Pamela Helena Ponick, moradora do Rio Bonito. A filha dela, de um ano e seis meses, conseguiu vaga no ano passado, quando tinha seis meses, em um CEI particular conveniado. Mas quando ela refez o cadastro para 2017, não conseguiu mais matrícula – nem na mesma escola, nem nos outros dois CEIs na região. Para poderem trabalhar- ela em uma floricultura, o marido trabalha como jardineiro -, ela deixa a filha aos cuidados de uma vizinha.

– Ela está ajudando muito, mas não é uma profissional e nem sempre pode ficar em casa com ela. A gente fica sabendo de donos de mercados com os filhos no CEI público e não entende como decidem quem merece vaga – diz Pamela.

Segundo a Secretaria da Educação, os cadastros e documentos que as famílias apresentam na inscrição são analisados presencialmente por uma comissão formada por representante da comunidade, direção e membros do corpo educacional, num total de cinco ou seis pessoas. Em caso de desconformidade entre as informações do cadastro e os documentos, a matrícula é reprovada.

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Novos CEIs e vagas em 2017

Segundo a Prefeitura de Joinville, neste ano, além das 18 mil vagas oferecidas nos 66 centros de educação infantil (CEIs), a Secretaria de Educação oferece mais 3.003 vagas contratadas de entidades educacionais filantrópicas.

Nos próximos dias, a Secretaria de Educação lançará um segundo edital de compra de mais 1.300 vagas em CEIs particulares. Até o fim do primeiro semestre, quatro novos CEIs serão abertos, com capacidade de 300 vagas para crianças de quatro meses a cinco anos.

Confira quais são os CEIs municipais inaugurados em 2017

– CEI no bairro Vila Nova: já está em atendimento, mas a inauguração oficial ocorrerá até o fim deste mês.

– Local: rua Laércio Beninca.

– CEI Loteamento Cattonni: entrega até o final do primeiro semestre.

– Local: rua Inambú, s/nº, bairro Costa e Silva.

– CEI Padre Roma: entrega até o final do primeiro semestre de 2017.

– Local: rua Treviso, 497, bairro Jarivatuba.

– CEI Nova Vila: entrega prevista até o final do primeiro semestre de 2017.

– Local: rua Rolando Gruske, 449, bairro Vila Nova.

Ajuda para quem não tem vaga

Até o fim da última semana, a Defensoria Pública de Santa Catarina já havia entrado com 69 ações judiciais por vagas na educação infantil na rede municipal de Joinville. O órgão é o principal aliado se as tentativas de diálogo com a Secretaria Municipal de Educação não adiantarem. O atendimento pode ser feitos diretamente na sede da Defensoria ou por intermédio do Conselho Tutelar.

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Desde o ano passado, a Secretaria de Educação busca atender à meta número um do Plano Nacional de Educação (PNE), que determina que é obrigatório que todas as crianças de quatro e cinco anos estejam matriculadas na pré-escola. O plano também estabelece que as vagas devem ser ampliadas para atender a pelo menos 50% das crianças de zero a três anos até 2024.

Endereços

Defensoria Pública de Santa Catarina – Regional de Joinville

– Rua Blumenau, 953, América.

– Atendimento de segunda a sexta-feira, das 9 às 19 horas.

– Fone: (47) 3481-2113

Conselho Tutelar

– Av. Dr. Paulo Medeiros, 401 – Centro.

– Atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 17h30.

– Fone: (47) 3433-3740