Quem se impressionou com os negócios de R$ 25,7 bilhões fechados na semana passada entre operadoras de telefonia pode ir se acostumando a dança das cadeiras no setor não deve terminar tão cedo. Principal razão: a mutação tecnológica que transforma e integra os serviços oferecidos. Ao pegar a mania de postar freneticamente no Twitter pelo celular, o usuário sem perceber empurra as operadoras para um movimento de consolidação cujo último capítulo foi a venda da parte da Portugal Telecom na Vivo para a Telefônica e sua entrada na Oi.

Continua depois da publicidade

– Uma palavra resume o setor: escala. Com mais clientes e atuação em mais lugares, as operadoras conseguem reduzir seus custos e investir mais na infraestrutura – diz o consultor Luís Minoru Shibata, da Promon Logicalis.

Ou seja, as empresas precisam ficar maiores para oferecer serviços mais completos. De um lado, as formas de usar a internet se multiplicam – além do computador e do celular, aparelhos como o iPad vão se tornar mais populares, e a rede vai ser usada até para melhorar o desempenho de carros. Assim, faz pouco sentido, para o consumidor, pagar uma operadora para usar internet no computador e outra para ter banda larga no celular. Oferecer tudo isso em um só pacote exige musculatura para a operadora.

– O movimento de fusões e aquisições também acontece no mercado de fornecedores. Como eles passaram a ter menos operadoras como clientes, começaram a se unir para ter mais poder de barganha ao negociar com as empresas de telefonia – conta Minoru.

Quando o sistema Telebrás foi privatizado, em 1998, poucos pensavam em um cenário de pacotes únicos de telefonia fixa, móvel, internet e televisão. Por isso, houve uma divisão geográfica entre as operadoras, com restrições no início para que atuassem nacionalmente. A estratégia era necessária para que as empresas não investissem só nas capitais, onde o retorno financeiro é bem maior, explica Minoru.

Continua depois da publicidade

Mais um motivo, além de integrar sua operação fixa com a celular, fez a Telefônica pagar à Portugal Telecom R$ 17,2 bilhões para operar sozinha na Vivo. Com a economia acelerada, o Brasil é uma tábua de salvação para grupos europeus que, em casa, enfrentam recessão. Por isso, os portugueses não saíram da Vivo até que tivessem uma alternativa para ficar no Brasil: participar da Oi. Atuar no país ajuda no caixa e mantém essas operadoras fortes na América Latina, um dos mercados que mais crescem em telefonia.

Se até aqui quem deu as cartas no Brasil foram os clientes de celular, para os próximos anos a comunicação por dados – leia-se internet – vai concentrar investimentos. Que devem ser ainda maiores – a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) calcula um aporte de R$ 200 bilhões pelas operadoras até 2018.

– Licitações para funcionar em redes de outras tecnologias vão aparecer, novos serviços vão ser exigidos, e novas empresas devem entrar nesse jogo – diz Minoru.