Ao escrever e recitar poesias, o catarinense Lindolf Bell agigantou-se e entrou para a história da literatura no Brasil e exterior. Conquistou premiações e amplo espaço na mídia, além de elogios de escritores como Carlos Drummond de Andrade e Lygia Fagundes Telles. Ele foi às universidades, portas de fábricas, chegou a apresentar-se em estádios e num dos pontos mais movimentados do Centro de São Paulo, o histórico Viaduto do Chá.
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A proposta dele, batizada como Catequese Poética, era que o poeta estivesse em todos os lugares e o poema, em todos os meios de comunicação, tornando-se acessíveis a mais pessoas. Também levou os versos para camisetas, cartões postais e objetos diversos. Juntou poesia à arte, em espetáculos de dança, exposições e outros eventos. Mais escritores e artistas aderiram e o movimento de interação com o público e outras artes propagou-se.
O lançamento da Catequese Poética ocorreu em 1964, início da ditadura e época de grandes manifestações socioculturais como os festivais da canção, Tropicalismo e Cinema Novo. Em meio a essa efervescência, o catarinense marcou presença na poesia com temas sociais, de sentimentos universais e memórias da terra natal e origem.
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Quando criança, recebeu grandes influências da trajetória cultural. A mãe Amália aprendeu poemas com os pais imigrantes russos e gostava de recitá-los em datas comemorativas. O pai Theodoro tocava bandoneón, musicalidade que acompanhou o escritor, como relatava em recordações. Viviam do plantio no sítio que moravam, em Timbó, onde Lindolf nasceu em 1938. Mudou-se para Blumenau para completar os estudos no curso de contabilidade e teve um professor entusiasta da literatura que o incentivou na poesia.
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Seguiu nessa direção, desistindo da faculdade de Ciências Sociais, iniciada no Rio de Janeiro, para onde se mudou para prestar serviço militar. Quando estava no Exército, conseguiu até a aprovação do comando para recitar poema em uma cerimônia oficial. Também não levou adiante a produção para teatro mesmo após frequentar a Escola de Arte Dramática de São Paulo. Chegou a escrever contos, novela e críticas de artes, mas preferiu os versos para além da escrita, impressionando o público com a intensidade ao recitá-los.
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Entre 1962 e 1994, lançou 13 livros, com destaque para “As Annamárias” (1971), “As Vivências Elementares” (1980) e “Código das Águas” (1984). Escreveu a 14ª obra, “Anima Mundi”, concluída antes de falecer, mas ainda não publicada.
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Quando a repressão da ditadura aumentou, em 1968, viajou aos Estados Unidos como bolsista no programa internacional para jovens escritores da Universidade de Iowa. Ele e a artista plástica Elke Hering, recém-casados, apresentaram poesias declamadas e impressas em esculturas em Iowa e no Museu de Arte de Chicago, um dos mais prestigiados do mundo.
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De volta ao Brasil, passaram a viver em Blumenau e abriram a Galeria Açu-Açu. Estava dedicado a montar mais um espaço cultural na residência dos pais, em Timbó, quando faleceu aos 60 anos, em 1998. Cinco anos depois, foi inaugurada a Casa do Poeta Lindolf Bell, que reúne objetos da história, obras de arte e promove eventos. Por lá, ele e a arte permanecem vivos e conectados.
*Texto de Gisele Kakuta Monteiro
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