Uma empresa foi flagrada despejando os rejeitos de um caminhão limpa fossa de maneira irregular diretamente na caixa de inspeção da rede pública de esgoto na Cachoeira do Bom Jesus, em Florianópolis, a apenas 500 metros de distância da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan).
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O vídeo que mostra a ação foi feito por um dos moradores do bairro, no último sábado, 9, e enviado à reportagem da CBN Diário na segunda-feira, 11. Depois de receber a denúncia e confirmar a irregularidade, a Casan afirmou que está notificando a Desentupidora Fossão por “despejo irregular de esgoto e demais elementos em Caixa de Inspeção da rede pública de esgotamento sanitário do Norte da Ilha de Santa Catarina”.
Em nota, a Casan também afirmou que registrará Boletim de Ocorrência e que pediu à empresa “esclarecimentos de o porquê o veículo não fez o devido despejo na Estação de Tratamento apta para receber esse tipo de material”. Ainda de acordo com a companhia, o vídeo foi encaminhado para a Fatma — Fundação do Meio Ambiente, que tem poder de multa e reavaliação da licença da empresa.
A reportagem da Hora de Santa Catarina entrou em contato com a responsável pelo caminhão, a Desentupidora Fossão, na manhã desta quarta-feira, 13. Por telefone, uma pessoa que se identificou como Mariano disse que não sabia da irregularidade e que os dois caminhões da empresa foram vendidos no ano passado.
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Apesar disso, o site da empresa está no ar, com dois telefones para contato, e o número da Licença Ambiental de Operação (LAO 10285/2013) da Desentupidora Fossão corresponde ao número estampado na lataria do caminhão flagrado realizando o despejo irregular.
“Bola” de gordura pode entupir rede pública
Na Estação de Tratamento de Esgotos do Norte da Ilha, técnicos da Casan afirmaram que a situação poderia ter sido pior caso a empresa tivesse feito o despejo diretamente na rede pluvial (rios e córregos, por exemplo), mas que o despejo irregular na caixa de inspeção pode causar o entupimento da rede pública de esgoto e eventualmente o transbordo de rejeitos na rua.
Isso aconteceria porque, junto com os rejeitos, o caminhão limpa fossa carrega resquícios de gordura que podem se solidificar dentro da tubulação, obstruindo a rede de esgoto. Para evitar esse problema, na ETE há um equipamento próprio para a separação da gordura dos rejeitos. Depois, essa gordura é encaminhada para um aterro sanitário.
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Economia pífia
Segundo a Casan, fora da temporada de verão, chegam à ETE, em média, 5 caminhões limpa fossa por dia. Entre dezembro e fevereiro, são quase 20 caminhões por dia. Depois que um caminhão faz o despejo na ETE, é preciso esperar cerca de 30 minutos para o rejeito “assentar” antes que outro caminhão faça o despejo. Por isso, a demora na fila é uma das desculpas usadas por quem faz o serviço de maneira irregular.
Outra desculpa esfarrapada é a economia. Um caminhão limpa fossa tem capacidade média de carregar 8 mil litros de rejeitos, ao custo médio de R$ 500. Para cada mil litros de rejeitos, a Casan cobra uma taxa de R$ 9,80 (R$ 78,40 para 8 mil litros), ou seja, apenas 15% do custo de contratação de um caminhão limpa fossa.
População deve cobrar credenciamento do limpa fossa

O tratamento de esgoto é de responsabilidade da Casan e a fiscalização e emissão de licença é da Fatma. Porém, a população precisa fazer a sua parte e, antes de contratar uma empresa, pedir a comprovação de licença da Fatma e o credenciamento da Casan, para que casos como este não voltem a acontecer.
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Na manhã desta quarta-feira, 13, encontramos Claudiomiro Winkert, de 45 anos, fazendo o descarte de rejeitos corretamente na ETE do Norte da Ilha. Há 12 anos no ramo da limpeza de fossas, Claudiomiro conta que já ouviu outras denúncias referentes à mesma empresa e lembra que, quem sai perdendo nessa história toda, é a cidade.
— O descarte irregular, na verdade, é a tentação do dinheiro. Mas isso é uma coisa que prejudica a gente mesmo. Quando tem muito disso, começa a vazar nas ruas, fica tudo sujo, com aquele cheiro.