A mudança no modelo da gestão de alimentação nas escolas municipais de Joinville gerou polêmica após ser criticado por professores e responsáveis de estudantes. De acordo com fontes ouvidas pelo AN, a prefeitura, junto com a empresa responsável pelo serviço, estariam limitando o número de refeições por aluno. O município, no entanto, diz que o caso se trata de um equívoco e reforçou para as escolas a orientação de que não devem existir limites.
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Na maior parte das escolas, a mudança entrou em prática na última segunda-feira (25), quando a empresa Sepat – Multi Service Ltda passou a preparar e distribuir a merenda, comprar insumos, executar a logística, garantir o funcionamento dos equipamentos e cumprir exigências legais em relação ao número de profissionais, suas especialidades e segurança durante o trabalho.
De acordo com a prefeitura de Joinville, a empresa será paga por cada prato servido e as refeições devem ter a qualidade avaliada por meio de indicadores específicos. Conforme o município, considerando a média atual de alunos que consomem a merenda escolar e todas as novas funções da empresa, o custo é de R$ 40 milhões.
A novidade no serviço, porém, tem gerado repercussões entre pais e profissionais de escolas. Segundo Mateus*, professor na rede municipal da cidade, a orientação é que cada crachá [estudante] tenha direito a refeição principal e depois repetir apenas uma vez.
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— Para uma parte das famílias, essas são as principais refeições do dia. Limitar o alimento é não pensar nas crianças e adolescentes mais carentes. Além disso, estudantes que fazem atividades no contraturno não conseguem se alimentar — explica.
O mesmo é relatado por Gabriel, professor e pai de uma menina de 8 anos que estuda no bairro Floresta; e por Renan, responsável por três crianças, que estudam nos bairros Guanabara e Espinheiros. De acordo com eles, a mudança foi informada pelos gestores de cada escola.
— As coordenadoras passaram nas salas de aula, entregaram um cartão com QR Code e explicaram como iria funcionar. Cada aluno passa a pegar apenas duas refeições por dia, ao invés de ser livre como antes. Mas é normal as crianças repetirem até três vezes — pontua Renan.
Uma das escolas, localizada no bairro Costa e Silva, chegou a emitir um comunicado impresso sobre o novo modelo das merendas, destacando o limite de até duas refeições por aluno.
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Além disso, Gabriel critica a decisão de tornar o serviço privado, gerenciado por uma empresa.
— As empresas terceirizadas contam com uma rotatividade nas equipes, enquanto as funcionárias concursadas nas cozinhas conhecem, compartilham e convivem com a comunidade escolar — expressa.
Filas e restrições à cozinha
Para além do possível limite de refeições, Mateus critica que o novo modelo adotado pela prefeitura está gerando burocracia e atrapalhando o acesso dos estudantes ao refeitório.
— O crachá tem um código e todos precisam apresentá-lo. Isso gera filas e demora para se servir, o que atrapalha o intervalo que é curto, de apenas 15 minutos — diz.
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Já Renata, professora no bairro Comasa, a comunidade escolar perdeu o acesso à cozinha com a proposta da prefeitura, sendo uma barreira para ações entre educadores e estudantes.
— Não posso estourar uma pipoca pra exibir um filme em sala de aula, não posso usar uma colher, nada — reclama.
Na escola dela, a medida ainda não foi implementada pela falta do aparelho que lê o QR Code. A mudança, porém, causa preocupação nos alunos.
— Está faltando um aparelho que lê o código QR Code para que a escola coloque em prática esse novo modelo. Desde já os estudantes se mostram bastante apreensivos. Muitos deles permanecem o dia todo fora de casa e fazem todas as três refeições na escola — destaca.
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Prefeitura nega limite de refeições
Procurada pela reportagem do AN, a prefeitura, por meio de nota oficial, afirma que os todos os alunos podem repetir a refeição quantas vezes forem necessárias. Além disso, diz que em casos onde há risco de insegurança alimentar ou qualquer tipo de vulnerabilidade, os estudantes são acompanhados pelas unidades para que seja fornecida alimentação inclusive fora do horário padrão, caso seja necessário.
O município diz não ter certeza do que cada escola orientou, mas, após as críticas, fez um reforço para os gestores de todas as unidades educacionais da rede explicarem como será o novo modelo.
O secretário de Educação, Diego Calegari, chegou a gravar um vídeo sobre a situação, publicado nas redes sociais da prefeitura.
Ainda na nota, a prefeitura explica que “cada aluno recebeu uma carteirinha, que deve ser apresentada na hora de fazer a refeição. Estudantes a partir de 4 anos são orientados a servirem o próprio prato, colocando as quantidades das comidas que mais gostam de acordo com suas necessidades”.
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*Nomes fictícios foram utilizados para preservar a identidade das fontes
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