Frustração. Nenhuma palavra resume melhor o sentimento do presidente do Joinville sobre a saída do atacante Lima do clube. Procurado pela reportagem de “A Notícia” na tarde desta quinta-feira, o dirigente não escondeu o que sentia. Elogiou e enalteceu o trabalho do camisa 9 defendendo as cores do JEC, mas se mostrou chateado pelo ponto-final ter se desenhado da forma como aconteceu.
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Em 2012, Martinelli deu um voto de confiança para o trabalho do jogador. Renovou o contrato dele até o fim de 2015. O casamento entre Lima e Joinville parecia que seria uma união sem fim, já que o atacante, sempre que tinha a chance, falava que tinha o sonho de encerrar a carreira no Tricolor e um dia ser treinador da equipe.
Uma série de episódios minaram a relação do atleta com o clube na atual temporada. No começo do ano, o desentendimendo com o técnico Artur Neto fez com que Lima tivesse que treinar separado do resto da equipe por alguns dias.
Mas o relacionamento não era ruim apenas com o ex-treinador.
Recentemente, Lima, em uma entrevista de rádio, deu a entender que existiam “laranjas podres” dentro do elenco. A declaração caiu mal dentro do vestiário. O atacante também falou sobre uma suposta lesão, que fazia com que atuasse no sacrifício, mas foi desmentido pelo médico do clube.
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Os dois episódios representaram o ponto-final para Nereu Martinelli. Percebendo que a situação do atacante era insustentável, confirmou que iria negociá-lo na próxima temporada. Os planos mudaram na noite de quarta-feira, quando Lima o procurou pedindo para rescindir. O acordo foi feito na manhã desta quinta-feira, por meio do vice-presidente do clube, Vilfred Schapitz.
ENTREVISTA – NEREU MARTINELLI
AN – Qual é o seu sentimento com relação à saída de Lima?
Nereu Martinelli – Quando renovei com o Lima, era para que ele encerrasse a carreira aqui. Eu vejo que há muito tempo não tinha surgido, em Joinville, um ídolo do torcedor. Ele se tornou esse ídolo. Há tantas crianças que adoram o Lima. A renovação dele, por mais três anos, foi um desejo dele também, pois ele queria encerrar a carreira no Joinville. A renovação dele foi discutida com a diretoria. A gente sabia do custo que teria para o clube, mas sabia também do retorno. Tanto que, nesse período, surgiram várias propostas por ele, mas eu nunca quis liberar. Liberamos para a Coreia do Sul, por empréstimo, porque ele pediu para ir lá e ganhar um dinheirinho. Mas o Joinville foi a única equipe com a qual ele se identificou e conseguiu jogar. Ele foi para o Bahia e não jogou. Foi para a Coreia e não jogou. Esteve no Goiás e não jogou. Eu fico frustrado porque o Joinville está perdendo hoje o maior artilheiro da sua história. Ele podia estar aqui, ajudando a buscarmos o acesso. Estando bem, com a cabeça no lugar, ele teria contribuído.
AN – Lima está deixando o clube pela porta dos fundos?
Nereu Martinelli – Absolutamente, não. A gente não pode esquecer, o torcedor do Joinville não pode esquecer, tudo o que o Lima fez pelo clube. O Lima participou desse processo de ascensão desde o início. Os gols dele ajudaram muito o JEC. Todo o ciclo tem um começo e tem um fim. Eu te diria que o Lima vai permanecer no coração de muitos torcedores. Mas os ídolos são dessa maneira, essa é a realidade. O Adriano (ex-atacante do Flamengo) é ídolo, mas olha o que aconteceu. Chegou um momento que não era bom para o Joinville manter o Lima, e não era bom para o Lima jogar no Joinville. Mas ele deixa o clube pela porta da frente. Não vai mais jogar pelo Joinville, mas, se ele precisar de alguma coisa no futuro, poderá contar com o Joinville.
AN – Então, o Lima nunca mais veste a camisa do JEC?
Nereu Martinelli – Acho muito difícil. Depende de quem vai ser presidente no futuro, mas acho difícil. Na minha gestão, não. Se não, eu não teria facilitado a saída dele.
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AN – O JEC teve prejuízo com o Lima?
Nereu Martinelli – Nós ganhamos algum dinheiro com o Lima. Nunca tivemos uma proposta de compra por ele, só de empréstimos. Mas, se empresto o Lima, tenho que trazer alguém, no mínimo, igual a ele. Foi por isso que o Joinville nunca se desfez do Lima. Então, no momento que a gente se desfaz de um atleta com a qualidade do Lima, por empréstimo, e não ganha nada, a reposição pode custar mais caro. O Lima você conhece, mas, quem vem, você não conhece. De coração, eu diria que o Lima deu mais lucro do que prejuízo, muito mais. Os gols que ele fez pelo Joinville, tudo isso. Quando o Lima chegou, o JEC tinha 1.800 sócios. Hoje, estamos com 10 mil. O Lima foi uma peça fundamental para isso. Por mais que gostem ou não gostem do cara, tem que reconhecer essas virtudes nas pessoas. Acho que ele deixou mais do que levou no JEC.
AN – Como foi o acerto com o jogador?
Nereu Martinelli – O Vilfred (Schapitz, vice-presidente) fez o acerto. Parcelamos um ou dois salários. A gente facilitou um pouco também. Ficou bom para o clube e bom para ele. E a vida que segue.
AN – Sabe de alguma proposta que ele tenha recebido?
Nereu Martinelli – O Paulista me sondou sobre o Lima. Alguém me disse que ele está indo para o Ituano. Então, está bem. Eu quero que o Lima se dê bem onde for jogar. Quero que seja feliz. Não sei para onde ele vai, o futuro dele é dele.