A Liga das Escolas de Samba de Florianópolis (Liesf) foi condenada pelo Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina (TCE-SC) a devolver, junto de um de seus ex-presidentes e de um ateliê de fantasias, cerca de R$ 1,34 milhão à prefeitura da cidade pelo uso irregular de verba pública no Carnaval de 2016. Cabe recurso da decisão, publicada na última sexta-feira (11).

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O TCE entendeu que parte dos valores repassados pela Secretaria de Turismo de Florianópolis para financiar a festa na passarela Nego Quirido em um convênio naquele ano foram usados pela Liesf, uma entidade independente do Poder Público e à época presidida por Joel Brígido da Costa Junior, para a compra de materiais superfaturados do ateliê Black Cat, de uma família de São José.

O tribunal também entendeu haver problemas nos pagamentos da Liesf, em maior parte para prestadores de serviços subcontratados, e na prestação de contas de ao menos parte dos cerca de R$ 3,6 milhões repassados pela prefeitura, com inconsistências graves e informações simuladas.

“A Superintendência de Transparência e Controle (STC), durante as acareações, identificou telefones que não existem, nomes repetidos em diferentes listas, em diferentes ramos de prestações de serviços, e telefones de esposas de prestadores de serviços que nunca trabalharam no carnaval”, escreveu o relator do caso no TCE-SC, o conselheiro Luiz Eduardo Cherem.

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Além disso, o despacho levantou a suspeita do ateliê se tratar de uma empresa de fachada, devido a uma inspeção in loco ter identificado que ela está em um endereço de caráter residencial, sem movimentação típica de um comércio.

A Liesf e o ex-presidente Joel Brígido foram condenados a devolver solidariamente R$ 1.182.331,04. Ambos ainda terão que pagar junto da Black Cat mais R$ 161.180,73 aos cofres de Florianópolis. O valor ainda precisa ser acrescido de juros e correção monetária.

O pagamento pode ser feito até 12 de setembro. Caso cada parte condenada prefira apresentar recurso contra a decisão, o prazo para isso será o mesmo. Até que a questão esteja sanada, a Liesf e Joel Brígido não poderão receber novos recursos públicos.

Ex-presidente nega irregularidades

O ex-presidente Joel Brígido da Costa Junior afirmou, ao NSC Total, que irá entrar com um recurso por entender que não houve irregularidades no uso do dinheiro.

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Ele disse que as escolas de samba só conseguem pagar pelas fantasias depois de recebê-las dos ateliês, quando recebem de fato o repasse de verba pública. Por conta disso, as empresas de costura que aceitam essa condição impõem preços à prazo, acima do que é praticado pelo restante do mercado caso fossem pagos à vista.

— As escolas recebem cartas de crédito para poderem pagar depois do recebimento pela prefeitura. Obviamente, os valores não seriam à vista — explicou, à reportagem.

Sobre os pagamentos a subcontratados, Joel afirmou que a Liga apenas quitava os pedidos solicitados por cada escola. Ele disse ainda entender que eventuais subcontratações dos ateliês fugiriam de sua responsabilidade e da Liesf, o que pretende contrapor ao TCE-SC.

O ex-presidente da Liga ainda rebateu a suspeita de que a Black Cat se trataria de uma empresa de fachada. Ele afirmou se tratar de um ateliê de funcionamento sazonal, ativo apenas às vésperas do Carnaval. Além disso, a contratada já teria também realizado entregas na festa do ano anterior.

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— O que foi pago, repassado, foram todas as notas e pedidos realizados pelas escolas de samba. E foram pedidos que foram entregues. A maior prestação de contas que tem é o desfile ser transmitido para o estado todo pela televisão — afirmou Joel, ao contrapor o entendimento do TCE-SC sobre falta de transparência.

Liga afirma não ter sido intimada

Também ao NSC Total, a Liga das Escolas de Samba de Florianópolis se manifestou por meio de seu advogado no caso, Bernardo Pessi. Sem entrar no mérito da condenação, a entidade comunicou que tomará as providências cabíveis no prazo previsto para recurso.

“A atual gestão da Liga das Escolas de Samba acompanhou este e outros processos relacionados de perto. Em diferentes ocasiões foi apresentado ao TCE levantamento integral de todas as informações e documentos que possui sobre o período. A LIESF ainda não foi intimada da recente decisão, momento em que as providências cabíveis deverão ser tomadas dentro do prazo para recurso”, escreveu.

A reportagem ainda busca o ateliê Black Cat pelos contatos informados em seu Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). O espaço segue aberto para eventual manifestação.

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