Com o cancelamento dos desfiles na Nego Quirido, o presidente da Liga das Escolas de Samba de Florianópolis (Liesf), Zeca Machado, busca inspiração no modelo de gestão implantado no Rio de Janeiro para evitar que os próximos carnavais permaneçam nas mãos da prefeitura. Em conversa por telefone com o prefeito Cesar Souza Júnior, ele garante que os dois teriam acertado da transferência da organização do Carnaval 2014: em vez do município, a entidade tomaria a frente.
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Para tratar da mudança está sendo formada uma comissão permanente de Carnaval – que deve ter como membros governo, carnavalescos e Ministério Público. A expectativa é de que o documento oficial de transferência seja emitido até o final do primeiro semestre.
A mudança de gestão, segundo Machado, permitiria que a Liga buscasse parcerias privadas. Ele diz que três empresas já teriam manifestado interesse em patrocinar os desfiles do ano que vem. Porém, a transferência de responsabilidade não isentaria a participação do município no evento, que passaria a ter função de apoiador.
– O nosso Carnaval está engessado, à mercê da burocracia. No ano passado, a empresa que venceu o processo de licitação para organizar os desfiles não sabia nem que na passarela precisava ter cronômetro. Com a Liga tomando a frente tenho certeza que vamos conseguir qualificar os desfiles. Para a gente, o Carnaval acontece durante o ano todo, para a prefeitura vem depois do Natal e do Ano-Novo – diz o presidente da Liga, Zeca Machado.
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A ideia é seguir o exemplo do Rio de Janeiro. Lá, é a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) quem está à frente dos desfiles do grupo especial e o investimento público é só uma parte de todo o orçamento arrecadado pelas entidades carnavalescas – cerca de 10% do total gasto por cada escola.
Além da arrecadação conjunta (que inclui o valor pago pela Rede Globo por ter direito à transmissão ao vivo dos desfiles, 53% da bilheteria e o repasse do governo), as escolas também saem a campo, em busca de patrocinadores. De acordo com a assessoria de imprensa da Liesa, o retorno financeiro do patrocínio costuma chegar, pelo menos, ao dobro do que foi investido.
Conforme o prefeito Cesar Souza Júnior, o modelo da autogestão depende somente de análise burocrática. Ele explica que a comissão está sendo criada para que se tenha um acompanhamento legal da transição. Quanto aos investimentos públicos que serão destinados aos desfiles das escolas de samba no ano que vem, ele é taxativo:
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– Essa transferência de responsabilidade significa também que a participação financeira da prefeitura vai diminuir. Não podemos quantificar ainda, mas queremos tornar o município muito mais um agente animador do que patrocinador da festa -afirma.
Faltou tempo e dinheiro para a realização do Carnaval
Foi com um discurso emocionado que Zeca Machado anunciou oficialmente o cancelamento dos desfiles na Passarela Nego Quirido, em coletiva de imprensa realizada na manhã desta quarta-feira.
O impasse se arrastava desde outubro do ano passado, quando o ex-prefeito Dário Berger assinou convênio com a Liesf – que garantia o repasse de R$ 440 mil para cada uma das cinco escolas de samba – mas não concretizou o depósito. A decisão de não liberar os recursos para a festa se manteve com a troca de comando. O atual prefeito de Florianópolis, Cesar Souza Júnior, argumentou que não havia verba para investir nos desfiles.
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Três horas antes do anúncio de cancelamento, o presidente da Liesf chegou a se reunir com o secretário de Estado do Turismo, Beto Martins. A ideia do Estado era, se ainda existisse tempo hábil para preparar o desfile, destinar um repasse de recursos – mesmo abaixo do esperado pelas escolas. Porém, Machado admitiu que seria impossível de as escolas de samba se organizarem em menos de 30 dias.
Presidente da Liga das Escolas de Samba de Florianópolis (Liesf), Zeca Machado, assinou portaria para que todo o material confeccioando para os desfiles do dia 9 de fevereiro sejam utilizados no Carnaval de 2014.
Diário Catarinense – O quanto do Carnaval já estava pronto?
Zeca Machado – Cada escola já tinha investido cerca de R$ 500 mil nos desfiles deste ano, tinham fantasisas e alegorias prontas ou em fase de confecção. Para tentar minimizar o prejuízo eu assinei portaria permitindo que todo o material possa ser usado no Carnaval de 2014. Mas o maior prejuízo mesmo é o do sentimento, estamos todos em luto.
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DC – O que esperar do Carnaval de 2014?
Zeca – Às vezes precisamos passar por uma tempestade para que as coisas mudem e entrem nos eixos. É isso o que está acontecendo agora. O primeiro passo é garantir que o Carnaval venha para as nossas mãos, depois lutar pela criação da cidade do samba e ampliação da passarela, hoje a ocupação é de 11 mil lugares, enquanto que para se ter um evento mais rentável vislumbramos, ao menos, 25 mil lugares.