Depois de ter sido premiada com o Nobel da Paz, a União Europeia viveu ontem um dia de confronto de ideias.
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Tradicionais inimigas nos campos de guerra da história continental nos séculos passados, a Alemanha e a França se digladiaram na reunião de cúpula realizada em Bruxelas, com a primeira defendendo a austeridade para combater a crise financeira e a segunda se opondo a métodos que estrangulem as economias nacionais.
Especificamente, os dois países entraram em conflito por um motivo pontual, que é o mais alto ponto a que chegou a ideia alemã de austeridade: a chanceler Angela Merkel defendeu um maior controle da União Europeia a orçamentos nacionais e avanços na direção de um único supervisor bancário. Merkel quer uma autoridade mais forte para a Comissão Europeia vetar orçamentos nacionais que violem as regras da UE. É aí, porém, que entra o presidente francês, François Hollande, socialista que tem se destacado pela oposição à estratégia da colega alemã, de direita. Hollande ponderou que a questão não está na agenda da cúpula e que a prioridade é avançar com uma união bancária europeia.
O francês cobrou de Merkel que coloque em prática na UE os acordos adotados em junho, sobre supervisão bancária unificada. A declaração foi dada à imprensa pouco antes da reunião. Para Hollande, essa deve ser a prioridade do bloco. Uma vez que a supervisão bancária seja adotada, os países poderão, de acordo com ele, realizar a recapitalização direta dos bancos que passam por problemas.
Ele pediu que os líderes dos países da zona do euro sejam “coerentes”.
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Talvez para prevenir um confronto mais incisivo, Merkel tergiversou. Disse, antes de chegar ao encontro, que ele não levaria a conclusões. Explicou que os ministros das Finanças da zona do euro ainda discutem os detalhes da supervisão bancária, embora ela diga que também é favorável a uma implantação rápida da supervisão bancária unificada.
O líder francês insistiu:
– Há razões para crer que vamos sair da crise. Fizemos bons acordos em junho, mas temos de cumpri-los.
Antes do início da reunião, Hollande e Merkel se reuniram para conversar. De acordo com a agência de notícias Reuters, um tratado provisório sobre a supervisão bancária na zona do euro pode ser obtido. Novos detalhes serão acertados mais para frente, antes do final do ano.
O jornal britânico The Guardian diz que Hollande reafirmou diante de Merkel que considera cedo para discutir novas medidas de austeridade. Hollande também conversou com o premier italiano, Mario Monti, sobre as situações de Espanha e Grécia.
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Não deixou de ser um esfriamento na tensão. Na quarta-feira, Hollande havia sido duro nas críticas a Merkel. Chegou a sugerir que ela estaria mais preocupada com a política interna alemã na resposta à crise do que com a situação do continente. A Alemanha tem eleições marcadas para 2013.