As autoridades da segurança pública catarinense têm mais uma preocupação além do conflito entre facções criminosas que cresce na Grande Florianópolis e na região Norte: o retorno de líderes de uma das organizações que estão em presídios federais e os efeitos que a presença deles podem gerar novamente nas cadeias estaduais.

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Boa parte dos chefes do Primeiro Grupo Catarinense (PGC) enviados para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) desde 2013, durante as ondas de atentados, foi transferida para penitenciárias catarinenses este ano. Isso também em razão da não renovação judicial dos prazos de alguns para a permanência nas unidades federais.

A lista de transferências inclui os integrantes do chamado 1o ministério, criminosos da alta cúpula da quadrilha que encabeçam as ordens. Entre eles estão Evandro Sérgio da Silva, o Nego Evandro, Gian Carlos Kazmirski, o Dexter, Adílio Ferreira, o Cartucho, e Sebastião Carvalho Valter, o Polaco.

Os quatro estão em penitenciárias de segurança máxima no norte do país. A remoção para o Estado foi determinada no dia 7 de outubro pela juíza de São José Marivone Koncikoski Abreu, para que eles sejam apresentados pessoalmente no julgamento do assassinato da agente penitenciária Deise Alves, marcado para 29 de novembro.

Deise foi morta em 2012 e os quatro são acusados pelo Ministério Público de Santa Catarina como mandantes do crime – a agente era mulher do então diretor da Penitenciária de São Pedro de Alcântara, Carlos Alves. A prisão, na época, abrigava os líderes do PGC.

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Eles acompanhariam o julgamento das prisões federais por videoconferência, mas a juíza optou por transferi-los entendendo que há risco de falhas técnicas impedirem a comunicação e gerar atrasos e adiamentos.

“Apesar da viabilidade de realização dos interrogatórios por videoconferência, experiências recentes nesta unidade demonstram que, em decorrência de falhas no sistema, mormente levando em consideração que há acusados em duas penitenciárias federais, há grave risco de atrasos”, justificou a magistrada em despacho.

A sessão também tem chance de se prolongar por mais de um dia, o que exigiria que os locais em que estão os presos permanecessem de forma ininterrupta transmitindo a videoconferência.

Aparato policial reforçado no fórum

Na Polícia Civil, delegados que investigam organizações criminosas afirmam que a presença dos criminosos no sistema prisional estadual pode aumentar o repasse de informações entre comparsas detidos e criminosos nas ruas.

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Para evitar suposto plano de resgate durante o julgamento no Fórum de São José, a Polícia Militar montará operação especial de segurança na região. Agentes penitenciários do Departamento de Administração Prisional (Deap) deverão fazer as escoltas. O sistema prisional adota sigilo sobre o assunto.

– A chance de resgate é pequena diante do aparato policial. O problema é a comunicação que terão no retorno com os presos aqui – alertou um delegado.

Pela importância do julgamento, promotores da área criminal também se articulam internamente para que haja mais de um representante do Ministério Público no júri popular. Após o assassinato de Deise, a facção ordenou ataques a ônibus e a unidades policiais no Estado, entre 2012 e 2013.